A política é sempre um jogo sórdido em que respeito não significa nada

Disputa entre Alckmin e Doria pelo governo de São Paulo deixa clima tenso no PSDB

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 15/07/2021 12h52 - Atualizado em 15/07/2021 15h34
ROBERTO COSTA/CÓDIGO19/ESTADÃO CONTEÚDO e RENATO S. CERQUEIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Rosto de Alckmin e de Doria, ambos de máscara Alckmin e Doria romperam de vez num encontro recente que tiveram para conversar sobre as eleições e o PSDB

Definitivamente, não convidem o governador João Doria e o ex-governador Geraldo Alckmin para o mesmo piquenique. Não vai dar certo. Os dois romperam de vez num encontro recente que tiveram para conversar sobre as eleições e o PSDB. Rompimento definitivo. Em outras palavras, o partido fechou as portas para Alckmin. Melhor dizendo, João Doria tirou Alckmin do PSDB. Essa conversa recente foi a última. A velha amizade – se é que existiu – sucumbiu aos interesses. E nessas histórias, especialmente na política, o fim é triste, porque ninguém respeita nada. No encontro, João Doria fez de tudo para que Geraldo Alckmin aceitasse sair candidato ao Senado em 2022. Alckmin se recusou. Deseja ser candidato ao governo de São Paulo. Dória não aceitou, dizendo como uma ordem que o candidato ao governo de SP será seu vice Rodrigo Garcia. Doria insistiu e a conversa não saía disso. De pouco valeu a insistência de Doria. Alckmin desejava ser candidato do PSDB ao governo paulista, não ao Senado.

Diante desse quadro, surgiu a ideia de fazer-se uma prévia no partido para escolher o candidato ao governo de São Paulo. Para João Doria, essa seria a solução mais democrática. Mas Geraldo Alckmin se nega a participar de prévia, dizendo que, com a máquina na mão, Doria faria o que quisesse e o escolhido acabaria sendo mesmo o vice-governador Rodrigo Garcia. Alckmin afirma que faria tudo que lhe fosse pedido, menos disputar uma prévia num partido dominado completamente por Doria. O governador então reagiu e não propôs mais nada. Despediram-se. O cafezinho estava frio. Cada um seguiu o seu caminho. Dória vai lançar Rodrigo Garcia como candidato e Geraldo Alckmin vai procurar outro partido, que deverá ser o PSD de Gilberto Kassab. Ao mesmo tempo, o DEM diz que está com as portas abertas e oferece a Alckmin a direção do partido. Foi um final melancólico. Geraldo Alckmin não merecia ver o fim de sua história do PSDB dessa maneira. O jogo é bruto. Não se respeita nada. Alckmin passou a ser uma sombra no PSDB a partir das eleições presidenciais de 2018. Uma figura esquecida, o que é injusto. E Doria vai ter que carregar um peso nas costas, não se sabe se por egoísmo ou por uma manobra política.

De acordo com levantamentos, Geraldo Alckmin vence as eleições para governador de São Paulo com qualquer cenário. Não teria adversário. Vence Fernando Haddad, Guilherme Boulos, Rodrigo Garcia e o próprio João Doria. Pelo menos é o que revela pesquisa da Exame-Ideia realizada no final de junho. Mas Doria não deseja isso. Alguns nomes influentes no PSDB têm conversado com Alckmin, tentando evitar que ele deixe o partido e que dispute a prévia com Rodrigo Garcia. Mas não. Alckmin diz apenas que deixar o PSDB representa um trauma na sua vida política e pessoal. Não tem jeito. Quer ser candidato ao governo de São Paulo e para isso tem de arrumar outro partido. O jogo duro. As cabeças mudam. As pessoas mudam. Já a política é sempre esse jogo tantas vezes sórdido em que respeito não significa absolutamente nada. Para o PSDB, Alckmin é um nome do passado, não serve mais. Os amigos próximos de Geraldo Alckmin falam em traição. Já Alckmin prefere o silêncio que quase sempre fala mais alto.

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