A relação de Bolsonaro com o eleitorado católico
Discurso do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, encontrou apoio em setores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; segundo pesquisa, cresce a reprovação dos católicos ao presidente
Apoio ao presidente Jair Bolsonaro cai entre os católicos, o que vem ocorrendo também com os evangélicos. Os fiéis das religiões começaram a demonstrar mais claramente a desaprovação aos métodos utilizados por Bolsonaro para governar o país. E essa questão vem se acentuando no Catolicismo. As palavras do arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, no dia da Padroeira do Brasil, ainda não foram esquecidas. Pelo contrário. Estão vivíssimas, especialmente entre os católicos, que já demonstram muitas reservas à conduta do presidente da República. As palavras ainda ecoam. No seu sermão, o arcebispo referiu-se a este tempo de intensa amargura que vivemos. E disse que “para ser amada, a pátria não pode ser pátria armada”. Poucas vezes o Brasil se viu assim num desencanto não profundo, entre a fome e a miséria absoluta de milhões de famílias e diante de uma pandemia que sempre recebeu descaso do governo federal. Os fiéis da Igreja Católica não esqueceram. As críticas do arcebispo de Aparecida, na verdade, refletem a rejeição dos católicos a Bolsonaro. O arcebispo acentuou que o país tem de ser uma “pátria amada”, não “armada”, como deseja o presidente da República. Para os estudiosos do catolicismo, a política armamentista e o descaso com mais de 600 mil mortos na pandemia explicam essa rejeição cada vez maior dos seguidores da Igreja Católica. O arcebispo Orlando Brandes não citou Bolsonaro no seu sermão, mas comentou o slogan do governo, “Pátria amada”.
Sabe-se por vários estudos que o projeto armamentista de Bolsonaro é um dos pontos que mais incomodam o eleitorado católico. A socióloga Maria José Rosado, professora da PUC-SP e fundadora do grupo Católicos pelo Direito de Decidir, afirma que as religiões têm na questão da não violência um elemento muito forte da sua narrativa e na sua proposta prática de ação. Falando ao jornal O Globo, Maria Rosado lembrou aquele episódio irresponsável em que Bolsonaro colocou sobre os ombros uma criança com um revólver na mão. Foi um impacto. A foto foi publicada em vários jornais do mundo, em noticiário que se referia aos rumos do Brasil. A socióloga da PUC observa que há ainda a crise econômica para agravar mais essa rejeição. De acordo com o Datafolha, a reprovação dos católicos a Bolsonaro é numericamente maior que a taxa da população em geral. Em janeiro, 42% dos católicos achavam o governo de Bolsonaro péssimo ou ruim. Na pesquisa divulgada no mês passado, setembro, esse índice subiu para 56%. Um salto significativo, e a tendência é crescer mais, já que o comportamento do presidente não muda, mesmo com a promessa feita depois das alucinações de Sete de Setembro.
Já a diretora-executiva do Instituto de Estudo da Religião, Ana Carolina Evangelista, afirma ser difícil estabelecer uma questão para determinar a rejeição da maioria dos católicos a Bolsonaro, lembrando que esses mesmos motivos apontados pelo catolicismo estão provocando cada vez mais a desaprovação do presidente também entre os evangélicos. Nesse segmento, a aprovação do presidente caiu de 40% em janeiro para 29% em setembro. Ana Carolina observa que essa perda de apoio não está mais conectada a dogmas religiosos. A questão é geral e atinge a população como um todo, envolvendo também o desemprego, a fome e a insegurança. Seja como for, a declaração do arcebispo de Aparecida, que deseja uma pátria amada e não armada, encontrou apoio em setores da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O que se conclui é que não adianta nada estar toda hora falando de Deus e citando a Bíblia. Esse comportamento do presidente já aborreceu o país. Tornou-se inaceitável para a maioria. Nem todos os pecados podem ser perdoados.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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