Augusto Aras manda para a gaveta muitas questões que interessam ao país

PGR deixa a desejar na sua função e por vezes age como protetor do governo

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 25/08/2022 13h24 - Atualizado em 25/08/2022 13h33
Antonio Augusto/Secom/PGR - 10/09/2021 Procurador-geral discursa em evento no Planalto Augusto Aras é o Procurador-Geral da República

O assunto passou batido, mas a coluna anotou. Especialmente porque trata de uma questão que ainda vai se alongar em muitas discussões nervosas. Enfim o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, amigo do presidente Jair Bolsonaro, se manifestou na questão das urnas eletrônicas, atacadas todos os dias pelo seu amigo presidente da República. Praticamente todas as questões que interessam ao país morrem na gaveta de Aras. Não tem erro. Chegou alguma coisa contra Bolsonaro, o destino certo é o arquivo. Aras nunca acha elementos que comprovem as denúncias. Mas desta vez é de se acreditar que ele deixou escapar o que não devia, falando em entrevista a jornalistas internacionais sobre os problemas brasileiros. E foi ele mesmo quem escolheu um trecho desse encontro para colocar em vídeo nas redes sociais, exatamente o que se refere às urnas eletrônicas. Disse, então, que a institucionalidade de 1º de janeiro é aquela própria de quem ganhou a eleição e quem ganhou a eleição vai tomar posse. Pelo menos é o que ele espera. Aras acentuou que acredita num clima de normalidade no país qualquer que seja a situação. Não está preocupado. Todas as instituições estão comprometidas com a democracia do Brasil.

Augusto Aras estava com vontade de falar. Deve estar arrependido de seu comportamento na PGR, que deixa muito a desejar. Como procurador, age como um protetor do governo. E dentro desse clima na entrevista, Aras disse que, caso Bolsonaro se recuse a passar a faixa presidencial para o novo presidente eleito, a posse será realizada pelo Congresso Nacional. O engraçado nessa questão é que Aras escolheu exatamente Jair Bolsonaro como perdedor, para explicar o que pensa: “Se Bolsonaro perder a eleição, ele não permanecerá no Palácio do Planalto nem do Palácio da Alvorada porque isso seria uma afronta à democracia”. Aras procurou contornar suas declarações, pedindo aos jornalistas que imaginassem esse cenário só se Bolsonaro fosse derrotado na eleição de outubro. Como se tivesse contado uma história de fadas. Mais ou menos refeito, disse que o Congresso Nacional dará posse ao novo presidente se a faixa não for transmitida diretamente do presidente que se afasta liturgicamente após o fim de seu mandato.

Aras acentuou que não acredita que isso irá acontecer, porque as instituições brasileiras, todas elas, estão comprometidas com o processo democrático, ciosas da responsabilidade com o país. Adiantou, então, que o que de fato existe no país atualmente é uma retórica política própria de cada candidato. Adiantou que ele procura sempre distinguir a retórica política do discurso jurídico. Convicto de que os jornalistas têm o direito de especular, mas cabe ao sistema da justiça exigir as provas dos fatos ilícitos. “Não adianta especular, tem que ter provas”, disse Augusto Aras do alto de seu poder, e esse trecho da entrevista reflete uma observação feita ao presidente da República, que vive falando contra as urnas eletrônicas e nunca apresenta prova nenhuma contra nada. Eis então o Procurador Geral da República falando a jornalistas estrangeiros o que nunca disse por aqui. Criticou o presidente Bolsonaro. Pode uma coisa dessas, sendo ele o procurador amigo para todas as horas? Não pode. Mas falou para jornalistas internacionais. Ele não deve confiar em jornalista brasileiro.

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