Autoridades preferem disputar o imaginário troféu da vacinação em vez de agir efetivamente contra a Covid-19
Com direito a troca de farpas na internet, Doria, Paes e Bolsonaro entram em fogueira de vaidades para ver quem aplica mais doses ou de onde saíram os imunizantes, mas se esquecem da população
No Brasil, até a vacina contra o coronavírus se transforma em contenda política. Os protagonistas dessa disputa descabida se esforçam ao máximo para ganhar dividendos sobre o adversário quando o melhor seria a união de forças para vencer a doença. Mas não. Essa gente quer mesmo sair na frente, como uma espécie de salvador da pátria. Bastou o governador de São Paulo anunciar neste domingo, 13, um programa de vacinação, para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, tomar a decisão de João Doria como um desafio. O programa paulista prevê vacinar com a primeira dose toda a população acima de 18 anos até 15 de setembro. O anúncio de Doria enfureceu Paes, que, nesta segunda-feira, 14, logo cedo, disse estar pronto para a “resposta” quanto às datas para os moradores do Rio. Mas ninguém pediu resposta nenhuma. O carioca decidiu que também acelerará o ritmo de imunização, como se a vacinação fosse um torneio com troféu ao vencedor. É uma lástima e de uma pobreza que dá medo.
Na primeira etapa do calendário de vacinação no Rio, separada por idade, Eduardo Paes havia prometido a imunização de todas as pessoas acima de 50 anos até o dia 3 de julho. Agora ele diz, na disputa com Doria, que essa faixa etária estará totalmente vacinada até o sábado que vem, 19. Chega a ser ridículo. Só que, para cumprir esse calendário, a cidade do Rio de Janeiro depende ainda do repasse das vacinas pelo Ministério da Saúde. Aí começa a complicar. Pelas redes sociais, o prefeito do Rio escreveu para João Doria aguardar, dizendo que o governador de São Paulo é o pai da vacina, mas que ele já adotou a criança e ganhou o coração do imunizante: “Não me provoque. Estou preparando a resposta. Bora imunizar!”, escreveu Eduardo. O prefeito adianta que tinha um acordo com Doria para aquisição da vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, de São Paulo, em conjunto com o laboratório chinês SinoVac. Dá a entender que o governo paulista não teria cumprido o compromisso e colocou a vacinação em São Paulo como prioridade. É uma fogueira de vaidades em que entra, também, a esfera federal, conforme dizem as más línguas de Brasília, entre elas algumas do próprio governo.
O anúncio de João Doria não teria agradado o presidente Bolsonaro. Nem é o caso de agradar ou não agradar ninguém, senão a população que deseja a vacina. As más línguas afirmam que será difícil ao governo explicar ao país porque São Paulo está sempre à frente nessa questão. Doria prometeu a vacinação até 15 de setembro, enquanto o prazo governo federal é para o final do ano. Bolsonaro teme que as comparações gerem algum desgaste. Nessa disputa política entrou também o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o servil, que foi contundente, neste domingo, 13, ao dizer que tem a certeza de que Doria vacinará a toda população acima de 18 anos até 15 de setembro, mas com as doses das vacinas enviadas a São Paulo pelo governo federal, por meio do Ministério da Saúde. Já o o governador respondeu imediatamente, dizendo textualmente: “Quanto recalque, ministro. Bom domingo e uma ótima semana. Por aqui, vacinando!”. Quer dizer, com mais de 485 mil mortes pela Covid-19, todos esses personagens circunstanciais ainda encontram tempo para discutir. É uma tristeza. Por isso que nada dá certo. Parece uma corrida de cavalos.
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