Bolsonaro de Moscou reage a Petrópolis e se mostra bem diferente do Bolsonaro que preside o Brasil

Eis, enfim, um presidente sensível à dor alheia, daqueles que não têm a quem recorrer; resta saber se a mudança é genuína ou se foi provocada pelas eleições

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 17/02/2022 12h27
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Alan Santos/PR - 16/02/2022 Jair Bolsonaro se posiciona em frente ao túmulo do Solado Desconhecido em uma cerimônia russa Na Rússia, o presidente Jair Bolsonaro lamentou tragédia de Petrópolis e prometeu medidas de socorro para auxiliar famílias

O presidente Jair Bolsonaro soube da tragédia de Petrópolis quando ainda estava na Rússia. E procurou se informar mais sobre o que estava acontecendo. Soube da violência da chuva, que, além de destruir tudo que encontrou pela frente, matou mais de cem pessoas (e ainda não se calcula o número de desaparecidos). Bolsonaro, então usou em Moscou a rede social e escreveu: “Mesmo distantes, continuamos empenhados em ajudar o próximo. Deus conforte as famílias das vítimas”. Surpreendente. Finalmente o presidente, naquele momento, estava revelando sensibilidade diante de um acontecimento dramático que atingiu a população. Ou foi somente uma frase de efeito? Estes são tempos sombrios de frases de efeito. Frases de efeitos e assombrações. A seguir, Bolsonaro relatou, também pela rede social, as providências que já estava tomando para ajudar as pessoas atingidas pelo temporal, incluindo medidas imediatas de vários ministérios. Mas não se tem notícia sobre o encaminhamento dessas medidas de solidariedade. 

O presidente informou que já tinha falado com o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, oferecendo todo tipo de auxílio. E adiantou que, ao regressar ao Brasil, irá imediatamente para Petrópolis a fim de oferecer presencialmente a ajuda do governo federal. Determinou que o secretário Nacional de Defesa Civil, Alexandre de Lucas, entrasse em ação imediatamente, articulando junto às autoridades da Defesa Civil de Petrópolis a liberação de recursos para ajudar as famílias atingidas pelo temporal, mesmo com valor ainda indefinido. E pediu que o secretário fosse para a cidade da Região Serrana fluminense a fim de acompanhar os trabalhos de salvamento. Ao mesmo tempo, ainda de Moscou, Bolsonaro mobilizou as Forças Armadas para auxiliar no resgate e acionou todo o sistema federal de proteção e Defesa Civil. 

Surpreendente, especialmente quando essas determinações partem de um presidente da República sempre alheio. Mas neste caso foi ele mesmo quem informou, digamos, o seu lado bom, humano e preocupado com um povo tantas vezes entregue à própria sorte. Surpreendente. Eis, enfim, um presidente sensível à dor alheia, daqueles que sempre estão no papel de vítimas sem ter a quem recorrer. Você acredita em alguma mudança de comportamento do presidente da República? O Bolsonaro de Moscou, que reagiu aos acontecimentos de Petrópolis, é bem diferente do Bolsonaro que preside o Brasil, aquele que passeava de moto e de jet-ski no lago Paranoá em Brasília, enquanto milhares de brasileiros morriam vítimas da Covid. O que, afinal, ocorreu com o presidente, que é contra a vacinação e chegou a zombar do coronavírus, chamando de “maricas” os que demonstravam medo do vírus? O que aconteceu com o presidente? Ele mudou assim de repente e deixou-se envolver por um sentimento de solidariedade? Qual a razão dessa mudança repentina? 

Os adversários políticos dizem que não houve milagre. Trata-se de uma mudança – se de fato for verdadeira –  provocada pela eleição presidencial de outubro. Se for assim, é bastante lamentável. Aliás, tem tudo para ser assim. Bolsonaro sempre se mostrou insensível a tudo. Basta dizer que negou-se a vacinar contra a Covid, o que seria um exemplo para a população. Pelo contrário, ele sempre procurou dividir as opiniões no que diz respeito à doença que já matou 640 mil pessoas no Brasil. Sua última contribuição aos brasileiros nessa questão, dividindo cada vez mais as opiniões negacionistas, foram as críticas à vacinação de crianças de 5 a 11 anos. Disse em alto ou bom som que não se vacinou e que sua filha de 10 anos também não se vacinará. Daí para adiante, a campanha contra a vacinação das crianças ficou por conta dos abutres e das hienas do jornalismo, verdadeiros terroristas espalhando pânico em todo lugar. Esse Bolsonaro de Moscou não é o Bolsonaro presidente do Brasil. As pessoas não mudam assim de repente.

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