Bolsonaro não tem nada a dizer na Cúpula do Clima e convite ocorre em momento delicado para o Brasil
Convocação foi oficializada pelo presidente dos EUA, Joe Biden; Hamilton Mourão afirmou que Brasil não tem que ser ‘mendigo’ na busca de recursos para combater o desmatamento ilegal
O presidente Jair Bolsonaro vai participar da Cúpula do Clima convocada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, a ser realizada nesta quinta-feira, 22, quando se comemora o Dia da Terra. O convite a Bolsonaro e mais 39 chefes de Estado foi oficializado por Biden, e inclui o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e Xi Jinping, da China. Mas afinal, Bolsonaro vai participar desse evento para quê, se nada disso lhe interessa? O convite ocorreu num momento delicado no Brasil, com o governo sendo criticado pelo Congresso, especialmente pelos rumos de sua política externa, um desastre que tinha à frente o ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, exonerado por Bolsonaro após ceder às pressões que vinha sofrendo. É preciso lembrar que, desde o início de seu governo, o presidente vem criticando os países que se preocupam com o meio ambiente, tanto que chegou até a ameaçar abandonar o Acordo de Paris para o clima. Só não o fez quando viu a repercussão negativa em todo mundo.
Afinal, o que Bolsonaro tem a dizer na Cúpula do Clima? Não tem nada a dizer. Na resposta à carta em que o presidente o cumprimentava pela eleição nos Estados Unidos, Joe Biden cobrou metas mais ambiciosas do Brasil nas áreas climática e ambiental. Bolsonaro apoiou a candidatura à reeleição do ex-presidente Donald Trump, o seu ídolo, mas agora tenta uma reaproximação com os EUA, afirmando que o Brasil possui uma política para o combate ao desmatamento e preservação da Amazônia. Há alguns dias, ele enviou uma outra carta a Biden pedindo a “ajuda possível” da comunidade internacional e comprometendo-se a zerar o desmatamento ilegal até 2030 (o mandato dele termina em 2022). Mas há quem diga que, até 2030, a floresta nem existirá mais. Neste caso, são nove anos livres para os madeireiros e grileiros bandidos acabarem com toda a área que servirá somente para a construção de um grande estacionamento latino-americano. Convém lembrar que, de acordo com dados do Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento da floresta em março foi o maior já registrado para o mês desde o início da série histórica, com 367 quilômetros quadrados completamente destruídos. Isso não representa apenas uma loucura, mas a irresponsabilidade elevada a quinta-essência da estupidez. Então, o que Bolsonaro fará nesse evento, senão permanecer na posição de mero observador das discussões sobre questões que ele pouco está se lixando?
Esquecido no seu canto, o vice-presidente, general Hamilton Mourão, comentou a participação do Brasil na Cúpula do Clima, afirmando, na segunda-feira, 19, que o Brasil não tem de ser “mendigo” na busca de recursos para combater o desmatamento ilegal. Presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal, Mourão observou que o país sabe de suas responsabilidades, sendo que o Brasil – conforme garantiu – é causador de apenas 3% das emissões no mundo, e desse total, quase metade se deve ao desmatamento. Dizendo que o Brasil vai fazer a sua parte no Acordo de Paris, o general arriscou um conselho a Bolsonaro, observando que o país tem de participar da Cúpula, mas sem “mendigar”. Seja como for, Mourão afirmou que o Conselho Nacional da Amazônia Legal está aberto a qualquer tipo de doação. Ao mesmo tempo, os maiores empresários do país estão pressionando o governo por metas mais ambiciosas na Cúpula do Clima. Sem diálogo com o governo, os empresários estão fazendo acordos paralelos, observando que o isolamento do Brasil na questão climática poderá criar impactos ainda mais severos para as empresas. Já o ministro da Defesa, general Braga Netto, rebateu as críticas feitas ao governo sobre a preservação da Amazônia e defendeu a atuação das Forças Armadas para combater o desmatamento. Além disso, observou que essa questão voltou à pauta nacional e internacional, mas garantiu que os brasileiros estão na região, e que a floresta continua de pé. Continua de pé? O senhor é que pensa, general! Os bandoleiros fazem da floresta o que bem entendem e nada acontece para ninguém. É isso que acontece, senhor general ministro da Defesa!
Convém colocar uma outra palavra aqui. Certamente não será uma voz significativa, mas convém reproduzir declarações do ex-presidente Fernando Collor de Mello, atualmente próximo de Bolsonaro. O hoje senador que conduziu a Rio-92, evento bem sucedido, afirmou que o Brasil não apresentará um “plano robusto” para a Amazônia no evento nos Estados Unidos. Por esse motivo, ficará mais isolado do que está. Collor disse na segunda-feira, 19, que o Brasil corre o risco de ser considerado “um pária internacional”, e que Bolsonaro enfrentará uma tarefa árdua para que o país não se transforme no vilão do encontro. O ex-presidente deixou claro que a questão do meio ambiente no Brasil é levada no “vai da valsa”, com extremo descaso. Na verdade, a barra do governo federal está bem suja no país e internacionalmente no que diz respeito ao meio ambiente. É um desastre. Todo mundo olha com desconfiança. Tanto que os governadores enviaram nesta terça-feira, 20, uma carta para Joe Biden tratando do assunto, especialmente da destruição da floresta. Eles tiveram essa iniciativa, isolando Bolsonaro, como se ele não existisse, nem fosse o presidente do Brasil. E conta nisso ainda a figura inexpressiva e insignificante do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Aí já é demais! E enquanto a floresta queima ou é destruída por ladrões de maneira, não fiscalizada, ficamos aqui, pobres mortais, esperando para ver o que acontece. E a pergunta persiste: O que Bolsonaro tem a dizer na Cúpula do Clima? Absolutamente nada!
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