Brasil entrega floresta amazônica à própria sorte e deve pagar muito caro por isso
Grandes redes de supermercados, lojas de departamento e produtores de alimentos da Europa propõem boicote aos produtos e commodities brasileiros devido ao desmatamento desenfreado
O Brasil é um país da América do Sul, abençoado por Deus e bonito por natureza, conforme diz a música de Jorge Ben Jor. E para por aí. O Brasil faz de tudo para permanecer só na América do Sul, isolado do mundo, movido por uma política cada vez mais tacanha. E o parco país está chegando aonde tinha de chegar. Não foi por falta de aviso. Aliás, quanto mais avisavam, mas as coisas se agravavam, como num deboche. Era mesmo deboche. O Brasil pensa que pode viver sozinho no mundo. Não pode. Hoje é impossível. Não foi por falta de aviso, e as grandes “autoridades” brasileiras pouco estavam se lixando para isso. E chegou aonde tinha de chegar. Nesta quarta-feira, 5, as grandes redes de supermercados, lojas de departamento e produtores de alimentos da Europa estão fechando um acordo para deixar de comprar produtos e commodities do Brasil por causa do desmatamento praticamente livre na floresta amazônica.
Esse acordo levou em conta um projeto de lei que está no Congresso e que levará a um desmatamento maior. Os grupos europeus já enviaram um ofício aos deputados e senadores em Brasília, no qual revelam preocupação. O projeto de lei altera as regras de regularização fundiária em terras da União e do Incra. Foi apresentado depois da retirada, em 2020, de uma proposta similar, com total apoio do presidente Bolsonaro. O ofício enviado ao Congresso é assinado por 39 grandes empresas, como a Tesco, a J. Sainsbury, a Marks & Spencer e a alemã Aldi. O documento é também assinado por produtores de alimentos como a National Pig Association, o fundo público de previdência sueco AP7 e muitos outros gestores de investimentos. O projeto que está no Congresso prevê a regularização fundiária por alienação ou concessão de direito real de uso das áreas que pertencem à União. Essa ampliação da área passível de regularização chega a 2.500 hectares. Pior: dispensa vistoria prévia da área, podendo ser substituída por uma declaração do próprio ocupante.
O ofício observa que, apesar das declarações e promessas, o governo brasileiro nada fez para desestimular a exploração da floresta amazônica para a agricultura ou mineração. Quer dizer: a floresta está entregue à própria sorte, sendo destruída todos os dias por verdadeiros bandidos que nada temem, daí o desmatamento fora de controle e incêndios que se multiplicam. De acordo com o documento enviado ao Congresso, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, disse em entrevista à AFP, no mês passado, que se o Brasil receber US$ 1 bilhão de ajuda internacional, será possível diminuir o desmatamento ilegal em até 40%. Isso mesmo, em até 40%. Significa que a floresta está mesmo abandonada. É uma terra livre para quem quiser. Fora isso, o banco francês BNP Paribas, um dos maiores da Europa, deixará de financiar empresas ligadas ao desmatamento da floresta, incentivando seus clientes a não comprar carne bovina ou soja de áreas desmatadas.
Esse é o retrato atual de investidores e compradores de produtos brasileiros. Não se trata somente de uma ameaça. Essas empresas e grandes bancos estão dispostas a levar essa ideia para frente, especialmente depois do pronunciamento do presidente Bolsonaro na Cúpula do Clima, realizada em 22 de abril, organizada pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Foi um pronunciamento cheio de boas intenções. Mas de bem-intencionados o inferno está cheio. Poucos acreditaram. A maioria ouviu o discurso de Bolsonaro com desconfiança. E em menos de um mês, essa desconfiança cresceu mais, chegando ao ceticismo, tendo por base o exemplo do tratamento da pandemia, que pouca atenção merece do governo. Pode ser uma bola de neve para complicar ainda mais o isolamento brasileiro no cenário internacional. O Brasil tornou-se um país desacreditado no mundo e nada fez para reverter esse quadro. Pelo contrário: faz de tudo para complicá-lo mais.
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