Brasil precisa estar atento aos movimentos de Augusto Aras, mesmo sendo este o país do faz de conta
Procuradores federais enviaram pedido para que o PGR apure falas de Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro em encontro com embaixadores
O procurador-geral da República, Augusto Aras, o escorregadio, está meio perdido numa rua sem saída diante do repúdio generalizado provocado pela reunião do presidente Jair Bolsonaro com embaixadores no Brasil. Aqui é assim mesmo: um presidente da República convida diplomatas estrangeiros para falar mal de seu próprio país. E muita gente cínica acha que tal aberração é uma coisa absolutamente normal. Deve ser, mas esse fato só cabe nas cabeças doentes que vivem por aí com uma pregação indecorosa em defesa de uma mentira. As reações ao desvairo de Bolsonaro estão caindo nas mãos de Augusto Aras, que tenta se esquivar. Ocorre que, ao que parece, se o país ainda tem um pouco dignidade, Aras vai ter de enfrentar uma situação a que o Brasil já se acostumou. Só que agora passou da conta. E Augusto Aras tem de dizer, finalmente, se ele de fato existe e se é ele o Procurador-Geral da República brasileira. Um grupo de procuradores federais já entrou com uma representação para que a PGR instaure uma investigação para analisar esse encontro que beira a alucinação, observando que o presidente cometeu crimes de responsabilidade, improbidade e eleitorais. Desta vez, parece que Bolsonaro mexeu com o país inteiro.
As reações negativas ao encontro de Bolsonaro com os diplomatas estrangeiros foram imediatas, ato condenado até por representantes do próprio governo, que dão sinais de que não sabem o que está acontecendo. O repúdio começa no Supremo Tribunal Federal e passa por diversas categorias, como juízes, promotores, delegados federais e entidades da sociedade civil. Cabe a Augusto Aras instaurar os procedimentos de investigação criminal da conduta do presidente da República. Acontece que o país aprendeu a conhecer o procurador-geral, que não instaura nada contra o governo. Aras não se manca. E a PGR desta vez vai mergulhar de cabeça num oceano de suspeição que chegará ao seu ponto culminante. O ofício dos integrantes do MPF encaminhado a Aras é assinado por 43 procuradores das 27 federações do país, que atuam na área dos direitos fundamentais, humanos e do cidadão. Se isso for adiante, Bolsonaro poderá ser enquadrado em várias infrações penais, como de abuso político e crime de responsabilidade. Sabem o que vai acontecer? Augusto Aras vai deixar o caso correr, como se tudo estivesse normal no país. Por fim, arquivará tudo. Ou não é assim que as questões são resolvidas na PGR?
A turbulência foi tanta que até o governo dos Estados Unidos se manifestou em nota oficial, enquanto outros países recomendaram aos seus embaixadores no Brasil não fazerem nenhum comentário a respeito do assunto. A nota norte-americana observa que Bolsonaro critica o processo eleitoral brasileiro e as urnas eletrônicas, mas até hoje não apresentou prova nenhuma sobre isso. O governo dos EUA adianta que as eleições brasileiras testadas ao longo do tempo pelo sistema eleitoral e instituições democráticas servem de modelo para as nações do hemisfério e do mundo. Logo após a reunião de Bolsonaro com os embaixadores, os presidentes do STF, Luiz Fux, e do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, se reuniram para analisar a fala do presidente. Em nota, Luiz Fux repudiou a atitude de Bolsonaro, a 70 dias da eleição, lamentando que ainda haja tentativa de colocar em xeque mediante a comunidade internacional o processo eleitoral e as urnas eletrônicas que têm garantido a democracia brasileira nas últimas décadas. Agora o bRASIL precisa estar atento aos movimentos do senhor procurador-geral da República, mesmo sendo este o país do faz de conta. No fundo, o Brasil não é um país sério. Infelizmente, como sempre, Augusto Aras vai colocar na gaveta e ponto final.
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