Briga política: Quem deve entregar o Museu do Ipiranga reformado à população?

Seja lá como for, o local que guarda a memória mais representativa do Brasil não merece mais essas novas cenas que só envergonham o país

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 17/03/2022 12h47
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Marcos Corrêa/PR Governador e presidente posam para foto em Brasília Governo Bolsonaro e governador João Doria travam batalha pelo protagonismo na reforma do Museu do Ipiranga

Quem deve entregar o Museu do Ipiranga reformado à população, o presidente Jair Bolsonaro ou o governador de São Paulo João Doria? O secretário de Cultura de Bolsonaro, Mário Frias, garante que o Museu será entregue pelo presidente. O tucano, por seu lado, afirma que o governo federal tenta se apropriar da obra que vem sendo feita com dinheiro público e privado, com grande soma conseguida pelo PSDB. O local, que tem a gestão da Universidade de São Paulo (USP), está sendo reformado desde 2019, para comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil, no dia 7 de setembro próximo.

O secretário de Cultura afirma que as comemorações do bicentenário são um evento de todos os brasileiros. Em site do governo federal, Frias escreveu que a data comemorativa será celebrada em alto nível, deixando claro que as festividades serão realizadas pelo governo Bolsonaro – e isso inclui a entrega do Museu. Frias classificou a reação de Doria como “patética” e ameaçou punir o governador caso ele tente inaugurar a obra sem permissão do Palácio do Planalto. A reforma já está praticamente concluída, conforme informa o Comitê Gestor do Novo Museu do Ipiranga, falando em nome dos representantes das empresas e instituições que patrocinam o projeto. O museu está fechado ao público desde 2013, porque foi constatado que se encontrava em condições precárias para visitação. Frias acentuou em sua postagem que somente com a Lei Rouanet foram captados R$ 84 milhões para a reforma. Só não disse que a Lei Rouanet existe exatamente para isso. É um dinheiro que vem do imposto de renda de pessoas físicas e jurídicas que optam por destinar uma parte do tributo à cultura do país.

Essa discussão vem de longe. Sempre que pode, o secretário de Cultura toca nesse assunto com críticas ao governador João Doria, que prefere se calar a respeito. Quando muito, diz algumas frases sobre o museu, observando que toda a restauração foi realizada pelo governo paulista, que buscou recursos na iniciativa privada. Tanto que em 31 de agosto de 2021, o tucano anunciou que o governo de São Paulo iniciava a contagem regressiva para a inauguração do novo museu, que foi totalmente restaurado, com a criação de novos espaços culturais, tornando-se uma das principais casas históricas do mundo. Nesse dia, Doria postou nas redes sociais: “Uma contribuição de São Paulo para a preservação da história de nosso país”.

As obras de reforma do novo Museu do Ipiranga custaram mais de R$ 200 milhões e foram financiadas  via Lei de Incentivo à Cultura e tem como patrocinadores e parceiros o BNDES, Fundação Banco do Brasil, Vale, Bradesco, Caterpillar, Comgás, CSN, EDP, SEM, Itaú, Sabesp, Santander, Banco Safra, Honda, Raizen, Postos Ipiranga, Pinheiro Neto Advogados, Atlas Schindler, Novelis, B3, GHT, Nortel e Dimensional, Goldman Sachs, Rede D’Or e Too Seguros. Como se vê, a grande parte dos recursos veio mesmo da iniciativa privada. Mas, de acordo com o secretário federal de Cultura, a entrega terá de ser feita pelo presidente da República. O govenador João Doria nem comenta. Mas sabe que está se armando nesse episódio mais uma briga nada civilizada. Seja lá o que for, o Museu do Ipiranga, que guarda a memória mais representativa do Brasil, não merece mais essas novas cenas que só envergonham o país.

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