Campanha eleitoral de 2022 caminha para um ‘vale-tudo’ em que a honra alheia não significa nada
Métodos que deram suporte à candidatura de Donald Trump nas últimas eleições nos Estados Unidos devem ser utilizados no Brasil no próximo pleito
O presidente Jair Bolsonaro se cerca de aliados ligados ao ex-presidente americano Donald Trump. E vai recebendo subsídios para seu comportamento em 2022, ensinamentos sobre como atacar as instituições, jornalistas, questionar a lisura das eleições e minimizar ou até mesmo ignorar a pandemia da Covid-19. Aliás, nesses quesitos, Bolsonaro nada tem a aprender com Trump. Basta ver as manifestações do presidente brasileiro. A proximidade de Bolsonaro com ex-conselheiros e seguidores de Trump se tornou mais explícita nos últimos meses. Aquele tom belicoso dos dois não é uma simples coincidência. Não. Muito pelo contrário. O contato mais frequente é com o ideólogo Steve Bannon. O elo entre os dois é o filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), mais chegado a assuntos internacionais. Mas o filho de Bolsonaro tem mantido contato com muitos outros nomes ligados a Trump e à extrema direita americana. O pensamento é um só: 2022. Isso inclui até o filho mais velho de Trump, Donald Trump Jr., e também o ex-assessor de comunicação do ex-presidente, Jason Miller.
Dizem as más línguas que Jason já está dando ordens por aqui. Ele foi criador de uma rede social que está na mira do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral do Brasil. Só para lembrar, Jason foi até citado pelo presidente Bolsonaro nos delírios do discurso de 7 de Setembro na Avenida Paulista, em São Paulo, quando o americano foi detido no Aeroporto de Brasília horas antes. Naquela oportunidade, Bolsonaro falou da prisão para atacar o ministro do STF Alexandre de Moraes, então seu desafeto maior. Jason foi ouvido pela Polícia Federal no inquérito que investiga a organização de milícias digitais bolsonaristas. Estava no Brasil a convite do deputado Eduardo Bolsonaro para participar de uma conferência nacional de conservadores, semelhante ao evento que ocorre nos EUA. Depois do evento, Jason Miller se reuniu com o presidente Bolsonaro e com o assessor de assuntos internacionais da presidência, Felipe Martins.
Jason se desligou do ex-presidente Tump para criar sua própria rede social, a Gettr, que se vende como um espaço que promove a liberdade de expressão. A ideia de criar a própria rede surgiu depois que Trump foi expulso do Facebook e do Twitter por ter insuflado seus seguidores a invadir o Congresso americano em janeiro, quando perdeu as eleições norte-americanas. Pois Jason Miller se aproximou da família Bolsonaro e também do governo brasileiro. A rede de Jason tem o objetivo de distribuir discurso de ódio e teorias conspiratórias, segundo uma reportagem do jornal O Globo. Também produz e distribuiu conteúdos adultos e imagens de exploração sexual infantil. No mesmo dia em que Jason foi detido pela Polícia Federal, 7 de setembro, o TSE determinou a suspensão de repasses a redes sociais de perfis bolsonaristas. Mesmo assim, o americano não se intimidou e atacou duramente o ministro do STF, Alexandre de Moraes, dizendo que também no Brasil um juiz da Suprema Corte tem o poder de prender pessoas. E referindo-se aos membros do STF disse que “eles são indefensáveis”.
O que se sabe é que os métodos que deram suporte à candidatura de Donald Trump nos Estados Unidos devem ser utilizados no Brasil em 2022. Significa que vai ser jogo duro. Uma espécie de ‘vale tudo’ em que a honra alheia não significa nada. É para esse ‘vale tudo’ que caminha a campanha eleitoral brasileira em 2022 visando a Presidência da República. De acordo com o que foi feito nos Estados Unidos, esse trabalho se resume em ataques violentos à imprensa e à distribuição de mentiras. Já não bastam os que temos por aqui. Agora vamos buscar lá fora os especialistas mundiais nesse assunto, que é denegrir a imagem do adversário com notícias sujas de fatos que nunca existiram. A ordem mais importante na campanha de 2022 será mentir. Mentir deslavadamente. Certamente o Brasil precisa providenciar a construção de um capitólio brasileiro para ser invadido por vândalos enlouquecidos.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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NOTA DA REDAÇÃO
Após a publicação deste artigo de opinião, a Gettr entrou em contato com a Jovem Pan e enviou a seguinte comunicação:
“A afirmação [deste artigo] não condiz com a verdade. (…) Em nenhum momento, o GETTR se propôs a disseminar discursos de ódio, teorias conspiratórias e muito menos conteúdos adultos e imagens de exploração sexual infantil. Ao contrário do afirmado, o GETTR fez publicar em seu site “Termos de Uso” que são seguidos à risca e que contêm regras específicas sobre e veiculação de conteúdos impróprios. (…) O GETTR tem regras específicas e proibição de veiculação de conteúdos impróprios e, em especial, pornográficos em sua rede social, expressamente reprovando a veiculação de tais conteúdos. (…) Também é uma falácia a afirmação que vem sendo repetida na grande mídia de que o GETTR seria uma rede social conservadora. O GETTR é uma mídia social que tem como seu maior propósito permitir a liberdade de expressão, conforme permitido na Constituição Federal do Brasil. Ou seja, o GETTR não irá realizar censuras por conta da simples emissão de opiniões e realização de debates, desde, é claro, que a lei não seja violada”.
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