Cheguei à marca de 500 colunas na Jovem Pan com plena liberdade no pensar e no escrever

Estou na Jovem Pan faz mais de 45 anos, passando por todos os cargos da redação até este agora de colunista; é tanto tempo que, somando, dá mais de emissora do que da minha casa

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 26/08/2022 08h00
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Andrew Neel/Unsplash Computador, bloco de anotações, celular e xícara de café Colunista do site da Jovem Pan atinge a marca de 500 textos

Escreverei na primeira pessoa. Fica mais íntimo. Desde que fui incorporado à equipe de colunistas do site da Jovem Pan, esta é a coluna número 500. Quinhentas colunas ininterruptas, cinco por semana, sempre com um assunto diferente. Estou na Jovem Pan faz mais de 45 anos. Passei por praticamente todos os cargos da redação e também falando ao microfone quando necessário. Como editorialista, escrevi muitos textos marcantes e me desculpem a falta de modéstia. Marcantes mesmo pela circunstância. Pelo momento. E por minhas palavras, por que não? Fora o trabalho de redação, exerci a função de chefia do período noturno por muitos anos. Evidentemente, ainda não existia a internet. O material nos chegava pela UPI – United Press -, pela France Presse e pela Agência do Jornal do Brasil. Eu escolhia as matérias de locução que entrariam no Jornal da Manhã e distribuía aos redatores. Apenas eu poderia escrever os textos opinativos. E me orgulho de ter, por quase todo esse tempo, um espaço na programação diária da rádio para falar sobre literatura. Muitas entrevistas com escritores e resenha sobre livros lançados. Guardo com carinho especial minha participação na Jovem Pan Online, na qual, além de entrevistas com escritores, fazia um quadro de poesia com a atriz Patrícia Rizzo, sob a direção de Nilton Travesso.

Além disso, a Jovem Pan me ofereceu espaço para publicar diariamente a história em quadrinhos com meu personagem Pimtim, um passarinho melancólico, que eu escrevia e desenhava todos os dias. Essas tirinhas eu já desenhava nos Diários Associados. Há, ainda, um momento especial na Jovem Pan Online, quando seu Tuta permitiu que eu, com a direção de Nilton Travesso, representasse meus textos de críticas aos acontecimentos brasileiros de sempre, como um ator. Fez muito sucesso. Eu assistia a mim mesmo e nem chegava a acreditar. Também me orgulho de um trabalho que sempre realizei, quando vários estudantes de jornalismo eram contratados e faziam o teste comigo. Eu tinha de indicar quem poderia ser um repórter, redator ou um produtor de programas. Muitos desses estudantes de antigamente, que passaram por mim, estão hoje nos programas jornalísticos de várias emissoras de TV.

É tanto tempo de Jovem Pan que, somando, dá mais tempo na emissora do que na minha casa. A Jovem Pan era e continua a ser a minha casa. O tempo vai passando e as coisas vão acontecendo. É inexorável. É assim. A vida é assim. Na hora de encerrar minha trajetória na Jovem Pan, a emissora, minha casa, ofereceu-me este espaço no site, para uma coluna diária, com absoluta liberdade que foi me concedida pelo presidente Antonio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha. Livre no pensar e na livre expressão para escrever, mas com responsabilidade. Não pode ser diferente. A responsabilidade é fundamental. Tem de ser fundamental. Eu escrevo para o site da TV Jovem Pan News, com a edição da jornalista Alessandra Kianek, o que é motivo de orgulho para mim no seguimento de uma carreira que vem desde a adolescência, nos extintos Diários Associados, onde tive uma carreira meteórica na redação, editoriais e reportagens.

Eu tinha 25 anos. Quando os Diários Associados acabaram, num sábado à noite, senti minha profunda tristeza no jornalismo, ao ver todas as máquinas de escrever no chão, junto às paredes. Chorei, sim, e muito. Na segunda-feira eu já estava na Jovem Pan, levado pelo diretor de Redação Fernando Vieira de Mello, que se tornou um grande amigo até que se foi. Eu não conhecia a linguagem de rádio, o que tive de apreender em alguns dias. E comecei a escrever a crônica de abertura do programa Show da Manhã, que era lida pelo locutor Franco Netto, substituindo Antonio Garini, chefe de redação, que se aposentara e escrevia belos textos para abrir o programa. Tenho quase todas essas crônicas guardadas. Todas datilografadas. São cerca de 3.000. Era um dos momentos mais ouvidos da rádio, tanto que tive de fazer um livro com dezenas dessas crônicas: “A Noiva da Avenida Brasil”, lançado na galeria da Jovem Pan que necessitou da PM para organizar a fila de autógrafos. E, dentro dessa mesma linha, criei em um só dia, o programa “Emoções”, que ia ao ar no final da tarde, com textos poéticos escritos por mim e lidos por Franco Netto e música romântica do cancioneiro, a música popular brasileira. Esse programa durou 12 anos. É muita coisa para lembrar. Muita. E lembro com muita emoção, até minhas brigas feias com o diretor de jornalismo, José Carlos Pereira da Silva. Todos os dias eu desenhava uma charge contra ele e colocava no mural, o lugar mais democrático de uma redação.

Agora, seguindo ainda essa trajetória de mais de 45 anos, sou colunista do site da TV Jovem Pan News, com plena liberdade de escrever, mas mantendo a responsabilidade sobre o que escrevo, o que me pautou a vida inteira no jornalismo. Sou jornalista por lei, quando o então presidente Jânio Quadros inventou o diploma de uma universidade de jornalismo. Os que estavam trabalhando nos jornais, revistas e televisão, até então, tiveram de se registrar no Ministério do Trabalho. E, mesmo já tendo o jornalismo como vocação natural, segui meus estudos e tenho duas formações acadêmicas: Ciência Sociais e Literatura e Língua Portuguesa. Fiz também Mestrado em Comunicação Social e Doutorado em Letras. E ainda Belas Artes, porque sou artista plástico com várias exposições individuais e coletivas, com prêmios importantes. Parei de expor, mas continuo trabalhando nessa área, para mim mesmo. Belas Artes, hoje considerada ensino superior.

Orgulho-me de ter escrito a história da rádio Jovem Pan, depois de dez meses de pesquisas, publicada no livro “Jovem Pan – 50 anos”, de 1994, com um superlançamento no MASP, para onde, nesse dia, a JP levou toda sua programação. Descontando minha vida de jardineiro e de fazer carreto nas feiras-livres no bairro do Brooklin, quando eu tinha 12 anos, além de ser operário numa fábrica de canetas aos 14, sempre jornalista, já a partir de 17 anos. A vida inteira. Na área da Literatura, especialmente da poesia, tenho mais de 70 livros publicados no Brasil, 23 em Portugal, 8 na Espanha e 1 na Itália, além de participar de dezenas de antologias de contos e poesia no Brasil e em vários países. Mas, repetindo, sempre jornalista. Sempre falei aos meus superiores que só gosto de notícia ruim. O que é verdade. Desde o começo, ainda adolescente, já sentia que minha preferência era notícia ruim. Acredito que, atualmente, estou no lugar certo como colunista. O que não falta ao Brasil é notícia ruim. Assim, vou seguindo, escrevendo sobre política e comportamento. Chego à coluna número 500, uma marca especial, uma coluna especial.

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