Companheiro Geraldo Alckmin rasgou sua biografia política mergulhando na piscina suja do PT
Quando aceitou ser vice de Lula, ex-governador decidiu acabar com a história ilustre de um homem que sempre primou por ser um político diferenciado, sem nunca se envolver em casos de corrupção tão em voga no Brasil
É fácil para um homem honesto destruir sua reputação de um dia para outro. Por certo, esse homem pensa continuar sendo o mesmo, mas as companhias mudaram, e pelas companhias dá para dizer que esse homem também mudou ou vai mudar na força. Não terá jeito. Quando o ex-governador Geraldo Alckmin aceitou ser o vice na chapa de Lula, para a eleição presidencial, ele, no fundo, sabia o significado daquele gesto para sua vida. Assim, o companheiro Geraldo Alckmin rasgou sua biografia política mergulhando na piscina suja do PT.
Deixou o PSDB depois de 33 anos, traído pela vaidade inconsequente de alguns. Simplesmente abriram a porta do partido e lhe disseram: “Sai!”. E ele saiu derrotado. E, derrotado, decidiu acabar com sua biografia ilustre de um homem que sempre primou por ser um político diferenciado, sem nunca se envolver em casos de corrupção tão em voga no Brasil. A alma do Brasil é a corrupção. Mesmo assim, Geraldo Alckmin aceitou o convite de Luiz Inácio da Silva, o vivaldino, aquele que sempre está em todas as bocas como um sábio político do mundo atual.
Quando oficializou sua filiação ao PSB, em cerimônia em Brasília com a presença de Lula, o companheiro Geraldo Alckmin parecia um peixe fora d’água. Basta ver aquela fotografia final melancólica da cerimônia, juntando os caciques do novo partido, alguns dirigentes do PT e o companheiro Alckmin no meio deles todos, encolhido como um pássaro na chuva. E, no meio, aquela figura sinistra de Lula, o que manda em tudo, falando pelos cotovelos aquelas mesmas asneiras que fala desde os anos 60. Luiz Inácio então ordenou: “De agora em diante, nosso tratamento não será mais governador Alckmin nem presidente Lula, mas companheiro Alckmin e companheiro Lula”. A determinação do chefe passou então a ser acatada.
Em seu discurso de sempre, Lula observou que vai se dedicar de corpo de alma para que a aliança com o companheiro Alckmin seja definitiva. “Vamos percorrer este país de Roraima ao Chuí”, disse Lula, já em tom de campanha eleitoral. O companheiro Alckmin tentou ser mais contido, dizendo que a situação política e econômica do país está bastante complicada. Assinalou que agora não é hora de egoísmo. É hora de generosidade, grandeza política, desprendimento e união. “Política não é uma arte solitária. Nós vamos somar esforços para a reconstrução de nosso país”, declarou o passarinho molhado. O companheiro Alckmin afirmou, discursando meio sem jeito, “que temos de ter os olhos abertos para enxergar, a humildade para entender, que hoje Lula é o que melhor reflete e interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro, porque ele representa a democracia”.
Luiz Inácio cercou o companheiro Alckmin de carinho, o antigo adversário político, concordando ser preciso fazer o Brasil de novo e para isso valerá a experiência do companheiro Geraldo Alckmin como governador e sua própria experiência como presidente da República. Houve quem dissesse que aquela aliança era uma sinalização de que o PT quer dialogar, não é um partido radical. E em meio aos elogios feitos ao companheiro Alckmin, Lula aproveitou para criticar duramente o presidente Jair Bolsonaro, argumentando que nunca imaginou que em pouco tempo alguém conseguiria destruir tudo o que foi feito no país. Os petistas mais radicais, que estavam com um pé atrás, esqueceram as dúvidas e passaram a aceitar o companheiro Alckmin, observando que o novo companheiro na chapa de Lula desempenhará papel importante para tirar Bolsonaro do Palácio do Planalto. Foram palmas e muitos risos e o companheiro Alckmin num lugar estranho. Falando pouco, um riso tímido na boca, mas disposto a seguir em frente, para o que der e vier.
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