De braços abertos para os evangélicos, Bolsonaro se preocupa agora com as Marchas para Jesus
Enquanto caso dos pastores lobistas do MEC segue sob investigação, presidente dá atenção especial ao segmento de olho no apoio das lideranças em um ano eleitoral
O presidente Jair Bolsonaro está de portas e braços abertos para o povo evangélico. É o homem mais religioso do Brasil. Pedido de evangélico a Bolsonaro é uma ordem. A relação entre o chefe do Executivo federal e os evangélicos vem se estreitando novamente, depois de um estremecimento recente, quando teve de exonerar o então ministro-pastor, Milton Ribeiro, da Educação. O agora ex-titular do MEC caiu em desgraça quando descobriu-se um esquema sórdido envolvendo dois pastores e o ministro na distribuição de verbas da pasta. Em outras palavras: um caso de corrupção declarada. Só não entende assim quem não quer. Corrupção mesmo. O dinheiro do governo saía para prefeituras só mediante propina, que não era baixa. Por exemplo: os recursos seriam entregues, desde que o prefeito se comprometesse a comprar 50 Bíblias. E qual o preço de cada Bíblia? R$ 1.000. Dinheiro fácil em nome da religião. Uns canalhas.
Nesta segunda-feira, 2, Bolsonaro se reuniu com evangélicos no Palácio da Alvorada para tratar sobre a Marcha para Jesus em várias capitais brasileiras. Entre os convidados deram o ar da graça o bispo Robson Rodovalho e o deputado Silas Câmara, que representa a Frente Parlamentar Evangélica. As lideranças evangélicas querem que Bolsonaro participe do maior número de marchas possível. Tudo indica que ainda está valendo aquela promessa de que Bolsonaro dirige o país de acordo com os desejos do povo evangélico. O encontro não foi organizado pela bancada evangélica no Congresso. Os líderes religiosos querem eles mesmos tratar do assunto com o presidente. Foi um encontro entre amigos. O presidente está bem nessa área. Em São Paulo, pelo menos, tem maioria nas intenções de voto. Bolsonaro não informou de quantas marchas para Jesus poderá participar. Ano de eleição tudo fica mais difícil. Mas participar dessas manifestações dá bom resultado exatamente por ser ano eleitoral.
Aquela ação corrupta dos dois pastores do Ministério da Educação não foi esquecida com a exoneração do ministro Milton Ribeiro. Esses pastores e o próprio ex-ministro deixaram uma mancha no governo. Ao demitir rapidamente, esperava-se que o caso seria esquecido. Mas não foi. Nada mais se fala sobre isso porque Bolsonaro impôs sigilo sobre os encontros que teve com os pastores do MEC. A coisa está ainda sendo investigada pela Polícia Federal, mas tudo em segredo. Não se sabe quantas vezes os dois “vigários” estiveram com o presidente. Ninguém pode saber porque essa informação pode causar problemas sérios ao governo. Além disso, o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência argumenta que, com a Lei de Proteção de Dados Pessoais, essas informações estão proibidas de divulgação. De acordo com essa lei, esses fatos poderão colocar em risco até a vida do presidente e de seus familiares. Que loucura é essa? Tudo em sigilo, quando o país tem o direito de saber das investigações. Enquanto o caso dos pastores corruptos do MEC continua assim, o presidente vai ver a sua agenda para saber de quantas Marchas para Jesus ele poderá participar. O resto ninguém tem nada com isso. E se por um acaso Bolsonaro participar de alguma Marcha para Jesus, devia aproveitar para rezar um pouco.
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