Debate sobre criação de cargo de ‘senador vitalício’ segue vivo, mas Bolsonaro descarta
Presidente já afirmou que não aceita a ideia de ter imunidade caso não seja reeleito
O Brasil é uma terra de gente louca. Gente louca demais. O que se faz por aqui e o que se pensa fazer não cabem num hospício. E numa terra de loucos, o produto principal é a loucura. Quem acha que aquela ideia de se criar o cargo de “senador vitalício” já morreu está muito enganado. O assunto vem sendo discutido por parlamentares que não desistiram da questão. Muito pelo contrário. Um grupo de aliados do presidente Jair Bolsonaro insiste em discutir uma Proposta de Emenda Constitucional com o objetivo de lhe conceder o cargo de senador vitalício da República brasileira. Senador até o fim da vida. Por enquanto, as conversas são reservadas. Esses aliados bem próximos do presidente acham que ele não terá chance nenhuma de se reeleger. Ao mesmo tempo, cresce entre os brasileiros aquela nova expressão “Bolsonaro na cadeia!”. Então, a ordem dos amigos é insistir nessa PEC. Dessa maneira, Bolsonaro deixaria a Presidência da República e iria direto para o Senado, com foro privilegiado, livre de qualquer admoestação de quem quer que seja. Levará uma vida de rei. Poderá passear de moto quando quiser sem dar satisfação para ninguém e debochar de vacinas caso ocorra nova pandemia. Enfim, será um senador a vida inteira, gozando de todas as benesses que pode lhe oferecer o país.
O presidente, no entanto, já afirmou que não aceita essa ideia de ter imunidade caso tenha de deixar o cargo, desaprovando a movimentação dos amigos para evitar possíveis punições caso não seja reeleito. “Vão falar que eu estou pedindo arrego”, diz o presidente, acrescentando que não deseja imunidade nenhuma. O presidente assinala que não está preocupado com as notícias sobre o risco de ser preso, como acontece sempre no Brasil com os presidentes da República. Mas senadores e deputados federais estão discutindo a ideia, mesmo com a desaprovação de Bolsonaro, que admite o receio de ser preso, mas garante que isso nunca acontecerá, mesmo sendo alvo de vários inquéritos, muitos por sua atenção durante a pandemia e ataques ao sistema eleitoral, às urnas eletrônicas e críticas aos ministros do Supremo Tribunal Federal. Fora da Presidência, seria julgado pela justiça comum. O assunto não morreu como muitos pensam. Está vivo e sendo discutido. A eleição presidencial está cada vez mais perto e o assunto tem de ser resolvido logo.
Não será fácil, embora esse bando de loucos esteja dispostos a levar a ideia até às últimas consequências. Pior é que o termo “Bolsonaro na cadeia!” ganhou as redes sociais. Os parlamentares bolsonaristas não desistem. Para não ficar mais ridícula do que é, a PEC estenderia esse cargo vitalício a todos outros ex-presidentes da República. Mas o objetivo principal é salvar Bolsonaro da prisão, que muitos dizem ser inevitável. Governou o Brasil com deboche. Essa marca é muito forte e negativa como legado. Os amigos de Bolsonaro discutem a PEC no Congresso como algo mais natural do mundo, mas há estudos sérios informando que a criação do cargo de senador vitalício é inconstitucional. Os envolvidos nessa ideia são especialmente parlamentares do Centrão, ao qual Bolsonaro se aproximou e distribuiu cargos e muito dinheiro. Insistem e vão insistir mais agora que as eleições estão chegando e os rumos da Presidência da República serão definidos.
Como são criativos os parlamentares brasileiros. Evidentemente que a oposição caiu em cima dessa ideia estapafúrdia. No fundo, seria mais uma vergonha para este país que vem sendo destruído aos poucos e nos últimos anos a desordem chegou ao seu limite. Preocupa se essa ideia for para frente, porque isto aqui ainda é um país, não é um lugar qualquer. A bem da verdade, o cargo de senador vitalício já existiu no Brasil, mas no tempo do Império. Mas com o golpe militar de 15 de novembro de 1889, esse prêmio caiu, com a proclamação da República. A figura do senador vitalício existe no Paraguai e o objetivo é mesmo blindar o ex-presidente da República de todos os males que praticou ao país. Houve um caso que entrou para os grandes escândalos da história do mundo: quando acabou a ditadura no Chile, o ditador Augusto Pinochet recebeu o cargo de senador vitalício, criado especialmente para ele. Mas isso não foi longe. Pinochet teve de renunciar por motivos de saúde e sem o foro privilegiado acabou preso em Londres. Agora é aqui, neste país chamado Brasil, um país de gente louca da América do Sul. O Centrão está animado com a ideia. Só a tentativa de criar essa indecência já é vergonhosa. Mas os nobres parlamentares aliados de Bolsonaro estão dispostos a seguir em frente. Num país de gente louca, tudo é possível.
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