Em busca do eleitorado jovem, Bolsonaro decide partir para a zombaria

Tom debochado do presidente tenta atrair de volta os eleitores que votaram nele em 2018 e se arrependeram

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 05/07/2022 14h39
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Alan Santos/PR - 27/05/2022 Presidente Jair Bolsonaro Presidente busca estratégias para se reeleger no pleito que deve ocorrer em outubro de 2022

O presidente Jair Bolsonaro decidiu partir para a ironia. Vai usar especialmente as redes sociais. Zombará de tudo que diz respeito aos seus adversários. Quer repetir 2018, quando venceu a eleição presidencial. No comando do espetáculo está seu filho vereador no Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro (Republicanos) e alguns assessores mais próximos, aqueles que as más línguas dizem pertencer ao chamado “gabinete do ódio”. Decidiu reforçar seu tom de “lacrador”, termo que ganhou popularidade na internet e virou uma espécie de sinônimo de “arrasar”. Como o presidente fez quando o ex-governador João Doria renunciou à sua pré-candidatura à presidência da República. Usando as redes sociais, escreveu: “Comunico que estou abrindo mão da disputa do cinturão dos pesos médios no UFC. Boa tarde a todos!”. Ou quando respondeu recentemente a Luiz Inácio da Silva (PT) com uma extensa gargalhada: Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk! Nenhuma palavra, só a gargalhada. Bolsonaro acredita que seu eleitorado gosta disso.

Os integrantes da equipe da campanha de Bolsonaro dizem que a estratégia tem o objetivo de alcançar os jovens, entendendo que o presidente precisa melhorar nesse segmento. Além da ironia, o presidente vai fazer muita provocação aos adversários. Carlos Bolsonaro, o comandante, afirma que seu pai lucra mais politicamente quando é lacrador. A ordem agora é tirar do presidente aquela ideia de um homem irritado e agressivo. O alvo são os jovens de 16 a 24 anos, mais abertos à ironia e à gozação pura e simples. O filho Carlos seleciona os assuntos. Nada de questões que incomodem o presidente, como o aumento dos combustíveis, só para citar um exemplo. Nada disso. Só assuntos amenos que possam ser tratados com ironia.

O tom debochado do presidente tenta atrair de volta os eleitores que votaram nele em 2018 e se arrependeram, no dizer da doutora em ciências políticas e coordenadora da Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais, Érica Anita Baptista. Ela diz, em reportagem publicada pela Folha de S.Paulo, que essa linguagem de ironias e deboches afastarão o presidente da chamada política tradicional que ele mesmo tanto critica, além de construir a imagem de um homem do povo. Será um “nós contra eles”, marcando uma posição antissistema. David Nemer, pesquisador da Universidade de Harvard e professor da Universidade de Virgínia, afirma que essa zoeira é uma forma de humanizar o presidente, que necessita mesmo desse toque. Por esse motivo, Carlos Bolsonaro já criou desavenças com o Centrão, que não aceita essas mensagens debochadas. Carlos garantiu que levará a ideia avante e pouco lhe interessa o que pensam os profissionais do marketing. Os aliados preferiram se calar. Pelo menos por enquanto. E Bolsonaro vai embarcar nessa canoa, zombando de tudo e de todos. Quer dizer: disputar a Presidência da República pode ser uma brincadeira. Vence quem é o mais engraçado. Vai ser um páreo duro.

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