Enquanto a Covid-19 avança no Brasil, o governo fica de braços cruzados

Bolsonaro deve agir rápido para evitar um colapso na saúde do país

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 14/01/2022 14h20
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SANDRO PEREIRA/FOTOARENA/ESTADÃO CONTEÚDO Homem faz teste de Covid-19 em Manaus Homem faz teste gratuito de Covid-19 em Manaus

Ou o governo age rápido, ou teremos de enfrentar novamente um colapso na rede hospitalar do país. Aliás, o governo já demorou demais, como sempre. O número de infectados pela Covid aumenta de maneira assustadora e começa a ficar muito difícil dar atendimento aos infectados pelos vírus. Tudo complicou com a chegada da variante Ômicron. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz que a Ômicron é um desafio diante do receio de um novo surto da Covid-19, o que pode causar sérios problemas no sistema de saúde. Mas o ministro não se mostra muito convicto de que isso possa acontecer. Tudo ainda é uma incerteza. Fala de acordo com a cartilha distante do governo. Mesmo assim, o ministro observa que a vacinação tem barrado os casos mais graves ocasionados pela cepa. Mas admite que outros países estão perdendo o controle da situação, o que poderá ocorrer também no Brasil. No entanto, afirma que o Ômicron é mais transmissível, mas de menor gravidade. “Nós temos que ter otimismo, mas um otimismo com muita cautela”, diz Queiroga, observando que todo cuidado é sempre bem-vindo.

Na verdade verdadeira, por enquanto, o Ministério da Saúde não se manifestou seriamente sobre o perigo do colapso. Mas basta lembrar que na primeira semana de janeiro, os casos de novos infectados aumentaram 300% em relação à última semana de dezembro de 2021. O que se constata é que, mais uma vez, o Brasil, por negligência, está outra vez atrasado diante de um problema que pode explodir em alguns dias. O país está sempre atrasado porque segue uma política contrária a qualquer tipo de combate à Covid. Só toma providências quando a questão chega ao limite e mesmo assim age demonstrando má vontade.  

Depois de muita pressão sobre um governo que declaradamente demonstra desinteresse, o Ministério da Saúde enviou nesta quinta-feira, 13, o pedido à Anvisa para autorizar o autoteste de Covid-19, uma das maneiras para prevenir e interromper a transmissão do vírus, juntamente com a vacinação, o uso da máscara e o distanciamento social. O autoteste pode ser realizado em casa ou em qualquer lugar e produz resultados rápidos. As pessoas que testarem positivo devem fazer isolamento imediato para prevenção de novas infecções. Nota do Ministério da Saúde observa que ninguém é obrigado a fazer o autoteste, mas adianta que se trata de uma excelente estratégia de triagem devido ao curto tempo para o resultado, podendo-se iniciar rapidamente o isolamento dos casos positivos.

A médica Ludhmila Hajjar, em entrevista ao jornal O Globo, do Rio de Janeiro, observou que a falta de testes dificulta ainda mais o problema, fazendo com que o Brasil não tenha a dimensão real da questão que se agrava a cada dia. Pode acontecer no país o que vem ocorrendo nos Estados Unidos e países europeus, onde a Ômicron se espalha a uma velocidade que não foi imaginada. A médica Hajjar já publicou 21 artigos chamando a atenção para o perigo. Atuando no Hospital das Clínicas em São Paulo e na Rede D’or, Ludhmila Hajjar chegou a ser convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a ser ministra da Saúde, após a saída do general Eduardo Pazuelllo, que ocupava o cargo. Mas ela recusou.

Diz que no ritmo em que tudo está acontecendo, o colapso na rede hospitalar pode acontecer em alguns dias. O número de infecções aumentará ainda mais nos laboratórios e certamente faltarão profissionais da saúde para o atendimento, já que grande número está afastado por contaminação. Significa que o problema começa a fugir do controle. Hajjar adiantou que os casos mais graves da Covid-19 são de pessoas que se negaram a vacinar. As UTIs atualmente estão só com casos de não vacinados. A médica observa que a falta de testes é fundamental para esse estado em que a situação se aproxima. O Ministério da Saúde finalmente pediu à Anvisa a liberação desses exames, mas, como sempre, demorou muito para agir. Se o testes caseiros estivessem sendo usados, possivelmente não chegaríamos ao que estamos vendo agora. Vários países do mundo estão utilizando o teste caseiro para enfrentar a doença. Mas no Brasil é tudo muito devagar.

A Anvisa vinha esclarecendo que o registro de autoteste de doenças infectocontagiosas são passíveis de notificação compulsória, como a Covid-19, “caso haja uma política de saúde pública e estratégia de ação estabelecida pelo Ministério da Saúde”. É assim que funciona no Brasil. Muita conversa e notas oficiais, enquanto a doença tem o caminho livre e o governo fica de braços cruzados. E some-se a esse estado de pré-caos provocado especialmente pelos que se recusaram a vacinar, o espantoso número de profissionais da saúde afastados do atendimento por conta da doença.

O Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass) divulgou na quarta-feira, 12, uma carta ao ministro da Saúde alertando para o estabelecimento de uma nova onda de casos de Covid no Brasil, em consequência do rápido avanço da variante Ômicron na transmissão comunitária em todas as regiões do país. Os secretários da Saúde cobraram do governo federal “imediatas decisões nacionais” para evitar o colapso dos sistemas públicos e privados de saúde, pois óbitos evitáveis poderão ocorrer pela não garantia de acesso à internação. É de se perguntar: “E daí?”. Daí nada. O grave problema vai avançando e não foi por falta de aviso.

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