Fake news se espalham, e está difícil saber com segurança o que é notícia verdadeira ou falsa

Polícia Federal, que investiga quadrilhas digitais, afirma tratar-se de uma rede organizada com o objetivo de estimular cada vez mais a polarização do debate político, com mensagens falsas

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 02/09/2021 13h40
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Pillar Pedreira/Agência Senado Um celular na mão de uma pessoa com uma imagem escrito 'Fake News' Recentemente, o TSE determinou o bloqueio de repasses de dinheiro para canais investigados por espalhar notícias falsas

O Tribunal Superior Eleitoral bloqueou o financiamento de 11 canais que só veiculam notícias falsas. Onze canais. Me digam: como um país pode viver assim ao meio de tanta bandidagem? Onze canais especializados em divulgar fake news. A decisão, acertada, partiu do corregedor do TSE, Luis Felipe Salomão, e atinge 11 influenciadores digitais e três veículos de mídia, além de um movimento político de apoiadores do presidente Bolsonaro. O tempo todo escrevendo mentiras. Espalhando o ódio entre os brasileiros. Um fato político qualquer tem até três ou quatro versões, todas mentirosas, que são levadas às redes sociais, com o objetivo de plantar a discórdia. O tempo todo distorcendo fatos. O tempo todo plantando raiva. Juntas, essas contas somam mais de 5 milhões de seguidores no Facebook e Instagram e mais 9 milhões inscritos nos seus canais no YouTube. É demais.

Chegamos a um ponto que não é mais possível saber com segurança o que é notícia verdadeira ou falsa. É o vale tudo mesmo. Gente que se especializa em mentir. Os perfis no Facebook e no Instagram foram medidos com informações do CrowdTangle e os dados do YouTube pela Novelo Data, a pedido do jornal O Globo, revelando a existência de uma quadrilha digital especializada. Os temas atuais preferidos são os eleitorais, com referência direta ao Tribunal Superior Eleitoral, às urnas eletrônicas e a ministros dos tribunais superiores do país, especialmente o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso. A Polícia Federal, que investiga as quadrilhas digitais da mentira, afirma tratar-se de uma rede organizada com o objetivo de estimular cada vez mais a polarização do debate político, tudo feito com mensagens falsas. É um descalabro. E um acinte também. A decisão pela suspensão de repasses de verbas publicitárias às redes sociais já vinha sendo investigada no inquérito sobre a organização de atos contra a democracia aberto no ano passado pelo ministro do STF Alexandre de Moraes. É uma loucura, vivem para escrever mentiras e ainda são financiados.

São os espertos de sempre. Tanto que 25 canais bolsonaristas apagaram mais de 263 vídeos há alguns dias, principalmente aqueles que atacavam o TSE, referindo-se à urna eletrônica. As plataformas digitais da mentira querem o financiamento de volta. Gente sem qualquer escrúpulo. Com o financiamento, continuarão a divulgar fake news covardemente. Pouco se importam com o Brasil. Estão a serviço das ideias das mais retrógadas. Querem atolar o país num fascismo perverso, incluindo até ideias nazistas. Nem convém citar o nome dessa gente, bem como os veículos de mídia que se dedicam a esse “trabalho” de produzir fake news o tempo todo, prejudicando um debate honesto. Falar em debate político honesto neste país é um deboche. Aliás, o Brasil está se transformando num deboche. O pior é que nada parece ser levado a sério. Mesmo com o bloqueio do financiamento, as quadrilhas digitais continuam a fazer postagens em que o que vale é a mentira, não o fato correto. Fato correto não interessa. Interessa, sim, a versão falsa veiculada para milhões de pessoas todos os dias. Um integrante da quadrilha digital escreveu recentemente: “Senhor ministro Barroso, sabe quando a gente vai parar? Nunca. Viu, galera, vamos permanecer juntos independentemente da vontade dos seres superiores”. Esse é o tom. Some-se a isso as ameaças costumeiras. Fake news em tudo. Não dá para um país viver assim. Somos o país da mentira.

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