Há um clima de constrangimento entre os militares de ativa e até os que estão no governo
Os militares mostram-se preocupados com os ‘rompantes’ e ‘improvisos’ de Bolsonaro; e, nisso tudo, a imagem das Forças Armadas do país está indo para o beleléu
O dia aparentemente calmo desta quarta-feira, 11, não significa obrigatoriamente algumas horas de paz. A paz no Brasil é algo que parece não estar ao alcance de ninguém. Seja lá como for, nem tudo que reluz é ouro, a frase famosa de Shakespeare. E não é ouro mesmo. Agora, um certo sussurro começa a ser ouvido onde antes se fazia silêncio. Um silêncio conveniente. Militares da ativa estão constrangidos. As manifestações do presidente Bolsonaro começam a incomodar certos setores. Boa parte dos militares diz que não tem cabimento um presidente da República, por exemplo, dizer que “quando acabar a saliva da diplomacia, tem de ter pólvora”, referindo-se à Amazônia e a Joe Biden, presidente eleito dos Estados Unidos. Isso só pode ser fruto de momentos nervosos e até (por que não?) a de insanidade. Uma frase infeliz. Uma distorção de valores.
Os militares da ativa não gostaram daquele discurso enlouquecido de Bolsonaro. Esses militares asseguram que o presidente transformou o Brasil em motivo de piadas das mais ultrajantes. Isso tudo gerou e está gerando cada vez mais um mal-estar nas Forças Armadas. Os militares são claros: jamais entrariam numa aventura bélica, como Bolsonaro sugeriu certamente sem pensar na repercussão de seu discurso. Bolsonaro falou em pólvora, aliás, invento chinês, em defesa da Amazônia, já que Biden, em campanha, ameaçou retaliar o Brasil caso a floresta continue a ser destruída como vem ocorrendo há muito tempo.
Esse crime das queimadas e devastação cresceu muito neste ano de 2020. Bolsonaro deu a entender que os Estados Unidos poderão invadir o Brasil. De onde ele tirou isso? Entre os militares de ativa e até os que estão no governo existe um clima de constrangimento. E não pode ser diferente. Os militares se perguntam: “Será que Bolsonaro não tem consciência do que representa ou pode representar uma alusão a um conflito armado com os Estados Unidos?” . Os militares mostram-se preocupados com os “rompantes” e “improvisos” de Bolsonaro. E, nisso tudo, a imagem das Forças Armadas do país está indo para o beleléu. Boa parte desses militares já está discutindo se vale a pena permanecer num governo assim, que está sempre envolvido em alguma polêmica. Na manhã desta quarta-feira, 11, o Governo de São Paulo decidia entrar na Justiça contra a Anvisa, que havia suspendido os testes da CoronaVac, da farmacêutica chinesa e do Instituto do Butantan.
Mas antes que isso acontecesse, a Anvisa voltou atrás e destravou os testes. Até porque não tinha sentido mesmo. O voluntário que tomou a vacina não morreu por causa do medicamento. Ele suicidou-se. Então aquelas palavras que o presidente Bolsonaro colocou nas redes sociais se transformaram num vexame. Explico: no fundo, ele comemorou a morte de um compatriota. Não atingiu o governador paulista João Doria, como era sua intenção. Comemorou a morte de alguém. Tem que estar muito pirado para agir assim. Um boletim da Anvisa, que dizem as más línguas estar a caminho da politização, observa que os testes com a vacina vão continuar normalmente. A Anvisa adianta que continuará acompanhando as investigações do desfecho do caso “para que seja definida possível relação de causalidade entre a morte inesperada e a vacina”. Só polêmica, só polêmica. Tem gente que gosta de viver assim.
O vice-presidente, general Hamilton Mourão, fica meio em cima do muro, não gosta desses assuntos. Mesmo assim, ele diz que essa questão da vacina está toda politizada. E não pode. Mourão se nega a comentar qualquer ação do presidente Bolsonaro. Afirma que existe uma relação de ética e lealdade entre eles e que essa linha ele não cruza. E esse comportamento do presidente da República com suas declarações não pensadas acaba criando na população muita insegurança em relação a qualquer vacina, seja qual for. Pior é que o presidente passa uma ideia de que não tem sentimento nenhum pela morte de mais de 160 mil brasileiros atingidos pelo vírus chinês. Seriam todos maricas? No fundo, tudo isso se resume numa grande tristeza. O Brasil é um país sem sorte.
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