João Doria renunciou a si mesmo e a política lhe fechou as portas
Ex-governador lutou até o fim, confiando nas prévias que venceu no PSDB, mas não suportou a pressão e acabou sendo vítima de si mesmo
Acabaram os tormentos com a renúncia do ex-governador João Doria à sua candidatura à Presidência da República? Enganam-se o que dizem que sim. Há muito a acontecer ainda nessa chamada terceira via que já ninguém sabe na realidade que via é. É a via do eu sozinho. Em embates assim, quase todos são donos da verdade. No fundo, ninguém quer abrir mão de nada. João Doria lutou até o fim, confiando nas prévias que venceu no PSDB. Não suportou a pressão. Renunciou. João Doria renunciou a si mesmo e a política lhe fechou as portas.
Entende-se porque Doria tinha e tem tanta rejeição em São Paulo e no resto do país. Tudo que fez até chegar ao cargo de governador, passando por cima de todo mundo, como se os valores não existissem mais. Hoje é chamado de traidor e a lista dos que foram por ele traídos começa com o ex-governador Geraldo Alckmin, hoje vice de Lula, passa pelo presidente Jair Bolsonaro, a quem se uniu para ser eleito, e outros pontos negativos que nem vale a pena mencionar. Até na questão da vacina, em que realmente Doria se entregou de corpo e alma, hoje, na boca do povo e dos políticos, não passou de um grande teatro, até mesmo aquela prestação de contas diárias no Palácio dos Bandeirantes. Se é justo ou injusto ainda não deu tempo de saber. O que se sabe é que Doria foi vítima dele mesmo, de uma ganância intolerável.
A renúncia de Doria significa que a senadora Simone Tebet passou a encabeçar a chapa da terceira via? Nem pensar. Simone já está sendo fritada, assim como foi Doria. Não são todos do MDB, PSDB e Cidadania que aceitam Simone Tebet como pré-candidata. Já há um movimento em marcha, partindo do PSDB mineiro, querendo afastar a senadora. O assunto será discutido no dia 2 de junho. Fala-se que o PSDB já está pensando em abandonar a terceira via e lançar candidato próprio, seja ele quem for. Mas ele tem nome e sobrenome e andou sempre pelas beiradas falando em apoio a Doria mas, por dentro, o desejo era outro. Aliás, como sempre foi, desde as prévias do partido. Agora entrou em cena como um herói o deputado federal Aécio Neves (PSDB), que defende uma parceria com o MDB e defina um nome. Aécio não é bem visto no PSDB, um partido em via de extinção, mas tem força ainda de embaralhar ainda mais esse jogo que segue em várias direções e ninguém ainda sabe onde vai parar.
O MDB vai se reunir hoje, terça-feira, 24, para aprovar a pré-candidatura de Simone Tebet, mas o Cidadania e o PSDB já avisaram que não vão participar do encontro. O presidente do Cidadania, Roberto Freire, por seu lado, garante que a terceira via terá candidatura única, com o nome mais cotado para atrair votos. Com a renúncia de João Doria, o PSDB voltou a lembrar – como já vinha lembrando há tempos – os nome do senador Tasso Jeiressati e Eduardo Leite, ex-governador do Rio Grande do Sul, aquele que andava pelas beiradas do processo. Convém lembrar que a ala mineira do PSDB liderou a campanha de Eduardo Leite no Rio Grande do Sul. Convém também lembrar que o presidente do PSDB, Bruno Araújo, queria se livrar de Doria em favor de Simone Tebet. Bruno Araújo é aquele que participou daquela farsa no Palácio dos Bandeirantes, com 1.500 pessoas, assinando um documento afirmando que Doria era o candidato do PSDB. Algumas lideranças do partido afirmam que o PSDB caminha para a morte.
É bom lembrar as palavras do deputado federal Luciano Bivar, presidente do União Brasil, que foi um dos idealizadores da chamada terceira via. Foi o idealizar e o primeiro a desistir da ideia, lançando-se ele mesmo como pré-candidato do partido. Bivar só abre a boca para criticar duramente o PSDB, o DEM e o Cidadania. Afirma que desde o início não houve nenhuma chance de consenso. Cada um estava pensando apenas no seu partido. Por isso ele abandou a ideia da terceira via. Hoje ele diz que a chamada terceira vida vai dar em nada, ninguém vai ter candidato nenhum. Ninguém pensa num projeto para o Brasil. Cada um pensa na sua paróquia.
Essa é a verdade. Cada um pensa em sua paróquia. Até mesmo a senador Simone Tebet, que é uma espécie de unanimidade para encabeçar a chapa da terceira via, não é bem vista como era. Está sendo fritada também. A terceira via, além de enfrentar questões políticas para se viabilizar, tem de se debater com problemas até de vaidades. Ninguém está pensando em nada que possa favorecer o país. Os três mantidos que restam para formar a terceira via, MDB, PSDB e Cidadania, vão se devorar uns aos outros. E todos ficarão no 1%, 2%, com o PSDB a caminho do seu fim.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.