Kalil diz que não deve ficar com Bolsonaro em 2022, mas também não deseja cair no colo de Lula

Prefeito de Belo Horizonte foi eleito como candidato independente e quer repetir a dose para o governo de Minas Gerais, mas há quem diga que ele será o vice de Ciro Gomes nas eleições presidenciais

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 18/06/2021 13h40
RODNEY COSTA/ZIMEL PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Alexandre Kalil, prefeito de Belo Horizonte, usando máscara Alexandre Kalil é o atual prefeito de Belo Horizonte e está no seu segundo mandato na capital mineira

É um beco sem saída, como muitos outros problemas existentes neste país. Uma rua sem saída. De repente, a gente se vê diante de uma parede. Não conheço o prefeito de Belo Horizonte. Quase nada sei sobre ele. Sei que se chama Alexandre Kalil e que é filiado ao PSD. E já é muito. No entanto, li uma entrevista dele concedida ao jornal O Globo na terça-feira, 15, que chamava a atenção para uma questão que deve estar moendo a cabeça de muita gente. Afirmava que sua tendência pessoal, nas eleições de 2022, é não ficar com Bolsonaro, mas não deseja cair no colo de Luiz Inácio da Silva, o ex-presidiário, corrupto condenado e depois solto por uma manobra do STF. Vai ser difícil. Comigo aconteceu em 2018, quando de um lado estava Bolsonaro e do outro Fernando Haddad, representando o famigerado e desmoralizado PT. Eu não anulei meu voto. Fiz o que mandou minha consciência de cidadão: neguei-me a votar. E não votei. Voltei para minha casa com a sensação de ter cumprido o meu dever. Agora pode acontecer a mesma coisa, diante da dificuldade de se encontrar um terceiro nome para a disputa. De repente, estaremos diante de Bolsonaro e Lula. Aí é demais para a cabeça. Nesse caso, nem sairei de casa.

De qualquer maneira, o prefeito de Belo Horizonte tem evitado criticar Luiz Inácio da Silva, mas diz que o PT deve muitas explicações ao país sobre a corrupção nos governos petistas, especialmente o assalto à Petrobras. Kalil não pretende se aliar a ninguém. Foi eleito prefeito de Belo Horizonte como candidato independente. E quer repetir a dose em 2022 para o governo de Minas Gerais. Ele gosta mesmo é de atacar o governador de Minas, Romeu Zema, que tem tentado se descolar do presidente Bolsonaro, após se eleger na onda bolsonarista em 2018. Kalil adianta que agora é tarde para o governador se afastar daquele que nunca defendeu a vida na pandemia. Afirma que na sua campanha não deseja o carimbo de Bolsonaro e nem andar com uma estrela no peito. Nega que já tenha criticado Lula, especialmente nos momentos em que os escândalos explodiram, empurrando o país para o buraco. Diz textualmente o seguinte: “Nem precisava criticar. O cacete era tão grande que uma porradinha minha não valeria nada!”. Tem razão o prefeito. Ele observa, também, que não quer ficar nem ao lado de quem roubou a Petrobras, nem junto com quem se negou a comprar vacina contra a Covid-19.

Referindo-se a Bolsonaro, afirma que “esse negócio de reunir 10 mil motociclistas não é uma ameaça a nada”, observando que a política do governo atual no combate à pandemia é péssima e que sua gestão na Prefeitura de Belo Horizonte vai na contramão do governo federal. Aproveita e faz um afago de leve ao governador de São Paulo, João Doria, que, para ele, foi quem trouxe a vacina para o Brasil, e que tirar esse mérito de Dória é uma atitude cretina e covarde. Nos meios políticos, já há quem diga que Alexandre Kalil pode ser o vice na chapa de Ciro Gomes na eleição presidencial. Mas ele afirma que Ciro Gomes tem de acalmar a linguagem, porque assim não dá. E aconselha Ciro a tomar lexotan toda manhã. E nessa conversa mais ou menos descontraída, o prefeito de Belo Horizonte está em boa conta no cenário político atual. O problema é mesmo chegar em 2022 entre Bolsonaro e Lula. A quem escolher numa disputa que nada tem a oferecer ao país? Se for assim, eu vou repetir o que fiz em 2018. A gente passa os dias neste país contando as contrariedades, as angústias, os descasos cada vez mais aviltantes. É um país sem sorte. A terceira via praticamente não existe. Não existe liderança nenhuma. No meu caso, diante das duas alternativas, vou negar-me a votar novamente. Não quero ser cúmplice nem de corrupto nem de gente enlouquecida. Desejo viver com minha consciência tranquila.

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