Meio ambiente não é levado a sério no Brasil e bandidos fazem o que querem na Amazônia
Amazônia se transformou numa verdadeira farra com as evasivas do discurso oficial do governo, uma ladainha vergonhosa de quem menospreza a questão ambiental
Demorou, mas este dia haveria de chegar. E chegou. Depois de tantas críticas, inclusive internacionais, começam a surgir ações no STF contra a conduta do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que ninguém sabe ao certo que papel desempenha nesse setor da vida brasileira, especialmente porque tem sido acusado de favorecer exatamente aqueles que destroem o meio ambiente no Brasil, particularmente a Floresta Amazônica e outras áreas que estão abandonadas, sem nenhum remorso. É descaramento mesmo. Todas as ações contra o ministro no STF ficarão por conta da ministra Cármen Lúcia. Os problemas explodiram de vez na chamada Operação Handroanthus, em que a Polícia Federal do Amazonas apreendeu o recorde absoluto de 200 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente. Aliás, entre nós aqui, ver aquelas imensas áreas da floresta destruídas já se tornou lugar comum, não apenas no Brasil, mas em todos os países que têm no meio ambiente uma forma de vida.
O meio ambiente não é levado a sério no Brasil. Por esse motivo, os madeireiros ilegais, verdadeiros bandidos, fazem o que bem entendem na floresta e nunca – nunca – acontece nada para ninguém. Atualmente, a Amazônia se transformou numa verdadeira farra com as evasivas do discurso oficial do governo, uma ladainha vergonhosa de quem menospreza a questão do meio ambiente para a vida na Terra. Quanto à Operação Handroanthus, o PDT e o ex-superintendente da PF no Estado, Alexandre Saraiva, dizem que o ministro Ricardo Salles tentou atrapalhar o serviço de fiscalização. É coisa séria. Mas o governo não acha. A ministra Cármen Lúcia foi sorteada relatora de todas as ações que acusam o ministro de facilitar a devastação.
Houve nesse episódio algo engraçado, bem brasileiro. Alexandra Saraiva foi exonerado um dia depois de entrar com a ação no STF. Não é engraçado? Ou será só uma coincidência, um acaso? Mas Saraiva disse o que tinha a dizer: afirmou que o ministro Ricardo Salles, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, e o senador Temário Motta (Pros),cometeram três delitos: dificultaram a fiscalização do poder público do meio ambiente, exerceram advocacia administrativa e integraram a organização criminosa que destruiu a floresta somando 200 mil metros cúbicos de madeira. Os três crimes são também apontados pelo PDT, mas só contra o ministro Ricardo Salles, que está exaltado com as acusações. Até o desmentido nervoso do ministro soa pífio, bem de acordo com as medidas que vem tomando desde que iniciou sua gestão na pasta.
A madeira extraída pelos bandidos está avaliada em R$ 130 milhões. Em sua defesa, o ministro afirmou que a documentação sobre a madeira estava regular. Já o ex-superintendente da PF assegura que os 200 mil metros cúbicos de madeira são produto de fraude e grilagem de terras. O ministro desmente e, como sempre, passa aquela impressão de que não está nem aí. Em março, o ministro esteve na região para se reunir com os madeireiros. Usava um colete daqueles utilizados por desbravadores de territórios, algo parecido com vestimenta do Exército. A seguir, postou nas redes sociais que, como ministro, deseja que a situação seja explicada rapidamente. A verdade é que desde o início de sua gestão, Ricardo Salles vem acumulando acusações graves, como criar regras para dificultar a aplicação de multas, além de transferir poderes do Ministério do Meio Ambiente para outras pastas. Há, ainda, algo especial: o ministro tentou mudar o entendimento sobre normas como a Lei da Mata Atlântica. Some-se a tudo isso o tratamento que Salles sempre deu às denúncias de desmatamento e de incêndios na floresta e no pantanal mato-grossense.
Essas áreas brasileiras mais parecem uma terra de ninguém, já que tudo vai sendo destruído com uma facilidade nunca vista. E agora esse fato escandaloso que soma 200 mil metros cúbicos de madeira, sob a acusação de que o ministro participou dessa festa. Ninguém sabe ao certo se o presidente Bolsonaro está a par desse fato que mostra ao mundo o tratamento brasileiro dado à floresta amazônica. O que se sabe é que Bolsonaro não quer saber desses assuntos insignificantes, na sua escala de valores. Seja como for, as ações contra o ministro – aquele que deseja ver a boiada passar – serão examinadas pela ministra Cármen Lúcia, do STF, que está em baixa no quesito seriedade pelas decisões que vem tomando ultimamente, muitas de estarrecer. De qualquer maneira, chegou o dia. Demorou, mas chegou. Alguém precisa explicar o que esse cidadão faz no governo federal.
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