O que o STF faz em relação à corrupção é dar liberdade a grandes corruptos

Esses ladrões estão na rua, gozando a boa vida, com a ajuda do Supremo, com atitudes de alguns ministros que se tornaram celebridades e estão na imprensa toda hora dando entrevistas

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 25/02/2021 12h11 - Atualizado em 25/02/2021 13h09
Ueslei Marcelino/Reuters Atual presidente do STF, ministro Luiz Fux Presidente do STF, Luiz Fux, afirmou que falha no combate à corrupção gera insatisfação da população com a Justiça

Vejam que frase bem feita e quanta verdade ela guarda nas palavras. Uma frase direta, certeira, que não dá margem à dúvida: “Toda vez que o Judiciário falha no combate à corrupção, isso representa mais um nível alarmante de insatisfação da população com a Justiça”. Foi o que disse nesta quarta-feira, 24, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, na cerimônia de lançamento do Programa de Justiça 4.0 do Conselho Nacional de Justiça, que prevê sofisticar mais as soluções tecnológicas utilizadas pelo Judiciário. Fux tem razão, claro. Quem haveria de discordar? Só os grandes corruptos nacionais que formam uma das maiores quadrilhas do mundo e assaltam o cofre público com uma facilidade espantosa. Para o presidente do STF, os tribunais têm de estar atentos às questões sociais. Tem razão de novo. Quem vai discordar? Ninguém discorda, já que uma das maiores chagas deste país é a questão social que penaliza mais da metade da população brasileira que vive na pobreza e, em muitos casos, ultrapassa a linha da miséria. Luiz Fux disse muitas frases bonitas. Serão só bonitas ou, de fato, podem representar uma posição sólida num país que parece se desfazer a cada dia? Fux observou que o Judiciário tem de velar por sua imagem para que possa conquistar a confiança da população, salientando que a Justiça existe e sobrevive a partir do momento em que conquista a legitimidade democrática chancelada pelo povo. Os leitores hão de convir que são palavras bem elaboradas em frases que soam como um bálsamo nas angústias de um país sem rumo.

Pergunta-se: o que, afinal, faz o STF em relação à corrupção senão dar liberdade aos grandes corruptos que foram encarcerados depois de investigações sérias? Só faz isso. Soltar bandidos. Se não for assim, é isso que está marcado na face do povo que assiste tudo nas arquibancadas sem ter como influir no resultado do jogo. Por exemplo, graças ao STF, o ex-presidente Lula poderá se livrar de duas condenações, numa manobra inaceitável num país sério. Logo Lula está livre de tudo, um político sujo favorecido por uma manobra suja do STF. Em outra esfera, o Superior Tribunal de Justiça anulou a quebra de sigilo bancário e fiscal do senador Flávio Bolsonaro no caso das “rachadinhas”, determinada pela mesma Justiça em abril de 2019. Essa decisão representa o maior revés da apuração do caso. E significa, também, que a questão das “rachadinhas” para o filho do presidente não existe mais. O caso acabou. É como se não tivesse existido nada. Como nas condenações de Lula, nada daquilo existiu, as provas, as investigações. Nada. Estará livre, leve e solto brevemente. Por isso, a palestra do presidente do STF, Luiz Fux, revela uma realidade contraditória, mas com frases bonitas, sempre será necessário destacar.

Nem convém citar nomes aqui de alguns ministros do STF que, com extrema arrogância, ofende e desrespeita a sociedade brasileira colocando na rua verdadeiros ladrões, como se viu na Operação Lava Jato, “grandes” figuras da República sendo encarceradas porque roubaram. Chegaram até a devolver o dinheiro roubado ao país. Infelizmente, esses grandes ladrões estão na rua, gozando a boa vida, com a ajuda decisiva do STF, com atitudes de alguns ministros que se tornaram celebridades e estão na imprensa toda hora dando entrevistas, quando deviam ser pessoas recatadas e não participantes de um show de horrores. Participantes ativos. Nas histórias do mocinho contra o bandido, o STF está sempre do lado do bandido. Ou não é verdade? Há decisões no STF que representam uma afronta, um acinte, e a sociedade tem de engolir calada, até porque não tem a quem reclamar. Seja como for, Luiz Fux garantiu que o Justiça 4.0 vai propiciar o combate à corrupção com a recuperação de ativos promovendo o cruzamento de informações junto aos bancos de dados, utilizando especialmente a tecnologia atual para dar mais eficiência ao trabalho e melhores respostas à sociedade. Uma das medidas será a implantação da Plataforma Digital do Poder Judiciário, com automação eletrônica e uso da inteligência artificial. Uma beleza. É de se acreditar no presidente do STF, Luiz Fux. Pelo menos na sua intenção. Até porque isso tudo ficará na intenção mesmo. Mas o Brasil precisa acreditar. A imagem da Justiça brasileira é péssima. E alguns ministros do STF fazem questão de tornar isso cada vez pior, com decisões que representam verdadeiras agressões ao povo que trabalha. No fundo, os corruptos brasileiros, os que estão agindo e os que já foram soltos pela Justiça, devem estar rindo. O corrupto sempre ri. Luiz Fux falou bem, com veemência, impossível duvidar de seus propósitos. Mas ele tem de combinar tudo isso com seus pares no Tribunal. A tecnologia não vai ajudar a Justiça em nada. O que ajuda a Justiça decisivamente é o caráter de seus integrantes.

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