O que será do Brasil nestas manifestações de 7 de setembro? Ninguém sabe ao certo o que elas representam
Nos últimos dias falou-se muito que os atos defendem a liberdade, mas essa é uma informação muito vaga
O que será do Brasil amanhã, terça-feira, 7 de setembro, Dia da Independência? O que será do país nesse dia incendiário repleto de provocações irresponsáveis e inconsequentes? Chegamos mesmo ao fim da linha. As provocações ignoram o destino do Brasil. Esses que vivem de intrigas e discursos raivosos nada querem saber do país que tenta de qualquer jeito sobreviver a esse martírio de todos os dias. O presidente Bolsonaro já deu todas as provas possíveis e imagináveis de que não deseja paz no seu governo e no país que ele diz governar. Na última sexta-feira, 3, esse discurso ofensivo passou de qualquer limite. Foi uma declaração de guerra. Como ele disse, as manifestações de 7 de Setembro vão representar um ultimato para dois ministros do Supremo Tribunal Federal. São poucos os que morrem de amores pelo STF, um Tribunal de celebridades que chegam a exaltar os próprios crimes que deviam condenar. Tudo um jogo, nada além disso. Uma Corte que vai na contramão. Mas não é por isso que um presidente da República deve ter o direito de estar dando “ultimato” a quem quer que seja. No evento realizado na Bahia, Bolsonaro afirmou que não se pode admitir que uma ou duas pessoas, usando da força do poder, determinem um novo rumo ao país. Não citou nomes, mas referia-se aos ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, que além de membro do STF é presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Bolsonaro foi incisivo e ameaçador, dizendo que embora ele possa jogar nas quatro linhas da Constituição, também poderá fazer valer a força do povo se alguém não obedecer.
Afinal, o que Bolsonaro quis dizer com essa frase contundente? O que é preciso dizer mais em termos de desafio e insulto? E referindo-se aos dois ministros do STF, afirmou: “Curvem-se à Constituição. Respeitem a nossa liberdade. Sempre dá tempo de se redimir”. Assinalou textualmente que poderá agir fora da Constituição. O que? Agir fora da Constituição? Esse é o clima em que o país estará mergulhado nesta terça-feira. Um clima de sombras. De confronto. Ao mesmo tempo, ainda na sexta-feira, 3, o ministro do STF Alexandre de Moraes determinou a prisão do blogueiro bolsonarista Wellington Macedo, que é investigado pelo Tribunal sobre participação em organização criminosa e financiamento dos atos contra as instituições e a democracia no Brasil. Moraes também mandou prender uma das lideranças do caminhoneiros, Marco Antonio Pereira Gomes, conhecido por “Zé Trovão”, que vem incitando a categoria contra o Supremo Tribunal Federal ameaçando uma greve geral, pregando que as manifestações de 7 de Setembro sejam principalmente antidemocráticas, num desacato com todas as letras. Nesse caso, a prisão foi solicitada pela Procuradoria-Geral da República. Zé Trovão está foragido, mas mesmo nessa condição, gravou, no sábado, 4 um vídeo desafiando o ministro Alexandre de Moraes a prendê-lo na manifestação da Avenida Paulista, onde estará à sua espera.
Ninguém sabe ao certo o que representam as manifestações. Qual é o alvo certo? Já os governadores de praticamente todos os Estados brasileiros não sabem como devem agir, especialmente no que diz respeito à Polícia Militar, já que a PM ameaça participar das manifestações. Nesse caso, a PM quer sair às ruas em favor de Bolsonaro. Vários governadores já prometeram punir oficiais e praças que participarem dos atos. O movimento da PM começou quando o governador João Doria (PSDB) exonerou o comandante da Polícia Militar de São Paulo, coronel Aleksander Lacerda, que vinha atacando o STF e convocando seus comandados para as manifestações. O mesmo vem acontecendo entre os membros do Ministério Público em todo o país, que ainda não decidiram se participam ou não das manifestações. Neste final de semana falou-se muito que os atos no 7 de Setembro defendem a liberdade. Mas que liberdade? Liberdade do que? É uma informação muito vaga. O que se sabe mesmo é que o país está entregue às baratas, com todos os seus valores invertidos, por desacatos de toda ordem, insultos, ofensas, como se estivesse em jogo o início de uma guerra civil. Bolsonaro já comunicou que participará dos atos em Brasília e na Avenida Paulista, em São Paulo, onde são esperadas 2 milhões de pessoas, entre bolsonaristas e os que são contra Bolsonaro, todo mundo ali. Quem acha que os grupos antagônicos e verdadeiramente inimigos vão oferecer flores democráticas quando se encontrarem? Essa desordem já foi longe demais. Está certo, o STF é o lixo que aí está. Correto, o Congresso é também esse lixo que aí está. E o presidente da República? O presidente da República é santo? Na verdade, o Brasil está à mercê daqueles que desejam o seu desajuste completo.
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