Oitiva de Regina Célia na CPI foi covardia de homens que se julgam superiores e não são

Arrogância e patifaria não cabem somente a Renan Calheiros, mas a vários outros senadores que seguem o mesmo caminho como trogloditas

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 08/07/2021 14h47
Marcos Oliveira/Agência Senado CPI da Covid-19 ouviu a servidora do Ministério da Saúde Regina Célia Silva Oliveira na última terça-feira

A CPI no Senado, que já era um grande circo armado entre as aflições brasileiras, agora é também um palco de horrores. E nesse palco de horrores todos que dele participam se julgam acima do bem e do mal. Mas há um personagem que merece destaque especial nessa tristeza. Afinal, a CPI é mais um retrato fiel de nossa miséria. Só no Brasil um político como senador Renan Calheiros (MDB) consegue ser o relator de uma comissão que investiga ou tenta investigar os desmandos do governo na pandemia. Com vários processos nas costas, Renan Calheiros é sempre o primeiro a fazer perguntas ao depoente convocado. E o faz de maneira bruta, sem respeito nenhum por ninguém, seja homem ou mulher. É um verdadeiro interrogatório. Transforma-se num coronel do sertão de Alagoas. Antes do depoente responder, ele atravessa com outra pergunta, como se disparasse uma metralhadora na cara de quem está lá sentado para depor. É um verdadeiro interrogatório feito com arrogância e por alguém que se julga acima de todas as verdades. Fosse num país sério, não seria assim.

Para começar, Renan Calheiros não estaria no Senado da República, mas em outro lugar menos aconchegante. Mas o que assusta é a arrogância, um certo prazer de torturar o outro com palavras quase sempre acima de tom, até conseguir a resposta que ele deseja. Renan nunca poderia ser relator de coisa nenhuma, muito menos de uma CPI do Senado. Atualmente, ele é investigado em dez inquéritos, sendo nove no STF, réu em processo de desvio de verba pública e condenado em 1ª instância por improbidade administrativa e perda de mandato. Uma loucura. É esse político figurinha carimbada que tem o cargo de relator de uma CPI que investiga o governo federal. Fora tudo isso, há um fato recente nessa biografia política nada elogiosa: faz alguns dias, Renan Calheiros apresentou ao STF uma ação contra um delegado da Polícia Federal, Vinícius Venturini, a quem acusa de abuso de autoridade. Mas o que aconteceu? A Polícia Federal indiciou o senador relator da CPI por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. As investigações apontam que Renan pediu e recebeu uma propina de R$ 1 milhão da Odebrecht em 2012.

O senador afirma que a PF não tem competência de indiciar senadores da República e que isso cabe ao STF. Nas redes sociais, Renan postou mensagens dizendo que o indiciamento seria uma tentativa de desviar o foco do seu trabalho na CPI, além de manchar sua reputação. Numa das postagens, ele atacou Bolsonaro, dizendo que o presidente pensa que a Constituição e a Polícia Federal são de sua propriedade e que delegado é jagunço. É esse senhor bastante conhecido no Brasil que se transformou em relator da CPI. Ele acha que qualquer depoente deve ir para a cadeia. A brutalidade com que “interroga” as pessoas não cabe num ambiente civilizado como deve ser o Senado. Uma figura que humilha o outro, com perguntas em cima de perguntas cada vez mais agressivas, com a voz acima do tom, que muita gente não suportaria. Mas essa arrogância e essa patifaria não cabem somente ao senhor relator da CPI. Vários outros senadores seguem o mesmo caminho como trogloditas. Tome como exemplo, só um, o depoimento da senhora Regina Célia Silva de Oliveira, servidora do Ministério da Saúde, na terça-feira, 6. Aquilo foi um massacre, como se essa funcionária fosse a culpada de todos os males do país na pandemia. Uma grande covardia de homens que se julgam superiores e não são superiores a nada. A eles todos, especialmente ao relator, a senhora Regina Célia deu uma lição de civilidade, que eles não têm.

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