Para limpar imagem, governo dá metralhadora a Zé Gotinha e tenta vacinar o presidente

Depois de minimizar a pandemia, o Planalto agora faz de tudo para mostrar que é favorável à vacinação e defende que Bolsonaro tome aplicação quando chegar a sua vez

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 17/03/2021 13h23 - Atualizado em 17/03/2021 14h12
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Isac Nóbrega/PR Prestes a completar 66 anos, Jair Bolsonaro poderá entrar em breve na fila da vacinação no Distrito Federal

Quem pode imaginar o presidente Jair Bolsonaro sendo vacinado contra a Covid-19? Quem? Ninguém. Essa é uma das cenas que a grande maioria considera impossível de acontecer. Pois os auxiliares mais próximos de Bolsonaro estão pressionando para que ele tome a primeira dose da vacina quando chegar a vez de sua idade no Distrito Federal. Aliás, como fizeram muitos chefes de Estado no mundo. Mas isso será possível com Bolsonaro, que sempre negou o vírus, a doença e até os mortos, além de desacreditar a própria vacinação? O presidente vai fazer 66 anos no dia 21 de março e já pode entrar na fila se quiser. A ideia dos assessores mais próximos é apagar a imagem negativa de uma pessoa desumana que o capitão criou para si mesmo. Criou, não, ele é assim. Negócio de medo do vírus é coisa de “maricas” num país de covardes, não é mesmo? Para Bolsonaro, sim, mas para seus auxiliares, não, mesmo sendo uma estratégia para dar um remendo numa imagem que chega a atingir o caráter.

Esse movimento dos assessores presidenciais já recebeu o nome de “Operação Vacina”. Uma tentativa de diminuir o desgaste com o agravamento da pandemia, ainda mais depois de mais de 270 mil mortos. A bem da verdade, Bolsonaro já disse da possibilidade de se vacinar um dia. Falou sem muita convicção e não levou a conversa sobre isso adiante. Os auxiliares afirmam que Bolsonaro compreendeu que a nova cepa do vírus que invadiu o Brasil é muito mais perigosa e mortal. Daí ele passou a considerar a vacinação, a qual sempre tratou com desprezo. Ao mesmo tempo em que admitiu timidamente que poderia se imunizar, o presidente disse também que não necessita porque já contraiu o vírus, em julho do ano passado. Portanto, está livre da doença.

Mas a ciência diz que não é assim. Muitos já contraíram a doença duas vezes. Fora isso, Bolsonaro não aceita o uso da máscara, mesmo em aglomerações, e os auxiliares presidenciais seguem rigorosamente a postura do chefe. Na sexta-feira, 12, o ministro da Secretaria de Governo, que parece ainda ter influência no Planalto, postou nas redes sociais, que, com 64 anos, o capitão estava preparado para vacinar-se. A publicação do ministro Luiz Eduardo Ramos veio acompanhada de uma publicidade governamental dizendo o seguinte: “Vacinar para o Brasil não parar”. O ministro, que foi colega de Bolsonaro na Academia Militar de Agulhas Negras, já pegou o vírus e confessa que sofreu muito com a doença e tem receio de contaminar-se outra vez. Por isso, defende a vacina, segundo ele, a melhor saída para a doença. Diz também que o governo vem trabalhando dia e noite no combate ao vírus. Já o ministro da Comunicação, Fábio Faria, vem servilmente procurando textos em que Bolsonaro tenha defendido a vacina, mas está difícil encontrá-los. Seja como for, Faria assegura que o governo sempre trabalhou em favor da vacinação, mas isso não é verdade.

Tudo chega a ser um circo, tanto que um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro, já providenciou cartazes com o famoso Zé Gotinha das campanhas de vacinação no Brasil. Neste nove modelo, Zé Gotinha segura uma seringa como se fosse uma metralhadora. Eduardo escreveu no cartaz que anda distribuindo: “Nossa arma agora é a vacina!”. Houve comentários desfavoráveis por causa da palavra “agora”. Então ele mudou imediatamente, escrevendo “nossa arma é a vacina”. Sem o “agora”. Dá para se comover com isso? Não, não dá. De qualquer maneira, o presidente de repente poderá ser o primeiro vacinado de sua faixa etária no Distrito Federal. É capaz até de fazer um discurso. As coisas mudam muito rapidamente no Brasil, dependendo das circunstâncias. De qualquer maneira, é preciso tomar cuidado. O ex-presidiário Lula já está tirando sua casquinha. Daqui a pouco, ele inventará que a vacinação é criação do governo dele. E repetirá tantas vezes que a mentira passará a ser uma verdade, como já ocorreu algumas vezes na história mais bárbara e suja da humanidade. Quem acredita na hipótese de Bolsonaro vacinar-se? É difícil acreditar. Até porque Bolsonaro não costuma passar recibo.

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