Para quem sonha com um diploma, saiba que o ministro da Educação acha que a universidade talvez não seja para você
Além de expressar que o ensino superior é ‘para poucos’, Milton Ribeiro cometeu o disparate de pedir para pais de alunos denunciarem escolas que adotem livros com conteúdo que não agrade o governo
Este é um país em que o ministro da Educação defende a ideia de que a universidade é para poucos. Você que luta e sonha com um curso universitário saiba bem o que pensa o ministro da Educação brasileiro. O inexpressivo Milton Ribeiro anda sempre nos desvios, obediente. Ninguém sabe ao certo a que veio. Mas, agora, ele teve uma ideia nova e anda discursando por aí sobre o que pensa ou o que lhe mandaram dizer. Eis que o ministro afirma que a universidade tem que ser para poucos que devem servir à sociedade. Em entrevista à TV Brasil, do governo federal, ele declarou que os reitores das universidades federais não podem ser esquerdistas nem lulistas. Observou que alguns optaram por visões socialistas. “Para ser reitor, não precisa ser bolsonarista, só não pode ser esquerdista nem lulista”, afirmou, observando que reitor tem de cuidar da educação e ponto final, mais nada. Também precisa respeitar os que pensam diferente e que as universidades federais não podem se transformar em comitês políticos, nem de direita e muito menos de esquerda.
Milton Ribeiro adiantou que tem certa aproximação com cerca de 20 reitores que já levou para conversar com o presidente Bolsonaro. O ministro assegura que a autonomia universitária não significa soberania. Ele quer mesmo implantar no país um programa de formação técnica em institutos profissionalizantes. Chega de universitários. Para ele, esses técnicos serão “as grandes vedetes do futuro”, até porque, hoje, há muitos engenheiros e advogados dirigindo Uber. O ministro-pastor quer que os pais de alunos do ensino básico denunciem as escolas que adotem livros de esquerda com conteúdo ideológico. Os país devem procurar a autoridade pedagógica da cidade ou até mesmo o Conselho Tutelar. Suas prioridades são para 3.440 escolas públicas sem água, 8.527 sem saneamento e 3.817 sem energia elétrica. Diz que os alunos das grandes cidades têm melhores condições de estudo do que as 54 mil escolas rurais do Brasil. Isso está correto, senhor ministro da Educação. Está certo. Tem que ser assim mesmo. Aliás, o senhor nada mais faz do que sua obrigação.
Milton Ribeiro se revela contrário à gratuidade pra inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), embora esse benefício seja dado a 50% dos alunos cândidos. Ocorre – como ele diz – que os que têm inscrição gratuita sequer comparecem à prova. Afirma que o Enem é uma prova caríssima, não é para todo mundo. Nesta terça-feira, 10, dez partidos e organizações da sociedade civil entraram no Supremo Tribunal Federal pedindo mudanças nessas normas para beneficiar os alunos pobres ainda em 2021, especialmente aqueles que perderam a prova no ano passado por causa da Covid-19. Por esse motivo, não têm mais direito ao benefício.
É assim que pensa o ministro da Educação. Mas atenção, antes de tudo, reitor de esquerda não pode ser bolsonarista nem lulista. Não pode e está acabado, não se discute mais. Particularmente, não sei porque “lulista”, já que Lula é um grande expoente da ignorância e adepto da corrupção deslavada. Se a razão sobre Lula for essa, o ministro está correto. O que não pode é aluno do ensino básico entrar numa escola pública para aprender sobre uma realidade que não existe. E pedir que pais de alunos denunciem escolas que adotem livros com conteúdo que não agrade o governo é uma aberração que não cabe. Vai com calma, senhor ministro Milton Ribeiro. Vai com calma.
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