Pazuello escolher ficar em silêncio na CPI da Covid-19 não significa ganho algum
Sem saber, ex-ministro da Saúde caminhou para o descrédito com pedido de habeas corpus; muitas vezes, o silêncio é a maior prova de culpa
Sem nenhuma imagem poética, senhor general, quase sempre o silêncio fala muito mais que todas as palavras. O senhor conseguiu o benefício de ficar em silêncio na CPI, mas isso não significa ganho nenhum. Alguma coisa o senhor terá de explicar. Afinal, o que o senhor tem a esconder? A quem o senhor quer proteger? O seu silêncio será constrangedor inclusive para o Exército brasileiro. O senhor tem até a liberdade de mentir. É incrível, mas é verdade. O senhor tem até a liberdade de mentir se quiser. De inventar coisas. É vergonhoso, general. Eu sinto vergonha, como cidadão brasileiro. Esconder-se no silêncio! O ministro do STF, Ricardo Lewandowski, decidiu atendê-lo e, sem saber, o senhor caminhou para a beira do abismo. Para o descrédito. O seu advogado particular, Zoser Hardman, garante que o senhor pretende responder a todas as perguntas que lhe forem feitas na quarta-feira, 19, amanhã. Não se sabe para que serve essa informação, se não é verdadeira. O advogado afirma, com absoluta razão, que o senhor, como testemunha, tem o direito a um tratamento digno, urbano e respeitoso. Isso não se discute. O general Eduardo Pazuello tem mesmo esse direito. Faz parte da civilização. O que não se sabe é se o Brasil é um país civilizado.
O pedido ao STF para que o ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, fique em silêncio na CPI foi feito pela Advocacia-Geral da União (AGU), com o aval do presidente Bolsonaro. Agora já se sabe que outros integrantes do governo vão seguir o mesmo caminho, na tentativa de conseguir uma blindagem. Lewandowski determinou que o general deve ficar em silêncio só para perguntas que possam incriminá-lo. Determinou, também, que Pazuello não poderá faltar à verdade aos demais questionamentos dos senadores. Dessa maneira, o general terá de responder, sim, sobre a conduta de outras pessoas durante a pandemia, inclusive o presidente Bolsonaro. No seu pedido de habeas corpus ao STF, a AGU ponderou que, como investigado, Pazuello não pode produzir provas contra si mesmo. Está correto. Mas voltando à determinação de Lewandowski, o general tem o direito de não se autoincriminar, mas terá obrigação de revelar tudo que souber em relação a outras pessoas igualmente acusadas de descaso diante da pandemia. Pazuello pediu que não fosse submetido a constrangimentos físicos ou morais, tendo como exemplo o que vem ocorrendo na CPI da Covid, em que já houve até pedido de prisão, negado pelo presidente da CPI, senador Omar Aziz, do DEM.
O presidente Bolsonaro concordou com o pedido de habeas corpus a Pazuello depois de se reunir com ele no Palácio da Alvorada. Bolsonaro temia que o general dispensasse a defesa da AGU, o que representaria distanciar-se do governo. Significaria também que, distanciado do governo e para proteger-se, ele poderia expor o próprio presidente. A luz amarela acendeu quando o general se negou a assumir um cargo na Secretaria-Geral da Presidência da República. O ministro da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni, tem preparado o general Pazuello para depor, e nesses ensaios, o general se mostra bastante nervoso. O silêncio do general divide o governo. Muitos acham que essa decisão pode representar grande prejuízo político, dando munição à oposição. Os integrantes opositores da CPI já decidiram que questionarão Pazuello somente sobre conduta de outros integrantes do governo na pandemia, sem incriminá-lo. Mas claro que muitas perguntas estão sendo preparadas para encostar o general na parede. Se ficará em silêncio ou não, ninguém pode assegurar. Até porque dizem que o general não é de levar desaforos para casa. Então fica combinado que o general poderá falar de quem quiser, menos dele mesmo. Cuidado, general. Repetindo o início desde texto. Ninguém quer fazer poesia numa hora desta, mas muitas vezes o silêncio é a maior prova de culpa.
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