Putin é um tirano que não se incomoda de esmagar um país irmão em uma guerra brutal

O que vem acontecendo na Ucrânia só pode ser chamado de barbárie: uma população que tenta fugir para salvar-se da sanha criminosa do ex-agente da KGB e hoje presidente eterno da Rússia

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 08/03/2022 15h25
Alejandro Garcia/EFE - 06/03/2022 Escrito em espanhol, cartaz diz Em protesto na Espanha, cartaz chama Putin de assassino e o mostra com suástica na testa

Vivemos num tempo de massacre e perversidade que ultrapassa a imaginação humana. Hoje acompanhamos uma guerra de verdade assistindo à televisão ao vivo. E podemos sentir, dentro de nossas casas, a 10 mil quilômetros de distância, a que ponto pode chegar a barbárie. O que vem acontecendo na Ucrânia só pode ser chamado de barbárie. Uma população esmagada que tenta fugir para salvar-se da sanha criminosa do ex-agente da KGB e hoje presidente eterno da Rússia, que costuma, por vaidade, mostrar suas habilidades em vários setores, mostrando-se ao povo em situações de um super-herói — mas que, aos olhos atentos do mundo, revela cenas grotescas. Pobres mortais, nós nos acostumamos a isso como se, todos os dias, tivéssemos um filme à disposição. E, assim, vamos também nos embrutecendo todos os dias, assistindo a um massacre do forte contra o fraco, esse que abandona sua casa para fugir, uma multidão de seres desvalidos envolvendo crianças, idosos, deficientes, pessoas que foram proibidas de viver.

No entanto, não é só a invasão covarde da Rússia à Ucrânia. Essa barbárie de todos os dias soma outros ingredientes criminosos do dia a dia: mortes perversas em todos os cantos da cidade, a toda; gente indefesa assassinada por bandidos que nunca são presos e vivem impunes cometendo crimes todos os dias. Quando são presos, uma certa Justiça costuma soltar os assassinos, tudo isso diante dos olhos perplexos de uma população que não tem mais a que recorrer. Some-se a isso tudo, uma guerra injusta que mata e destrói como se tudo fosse um passa tempo. Todos hoje são especialistas em guerra e falam em todos os veículos de comunicação, como verdadeiros sábios e como se isso resolvesse alguma coisa. Sem contar aqueles que se manifestam com palavras que representam verdadeira agressão aos que ouvem, leem e assistem a todo tipo de gente transformada em entendidos.

Fugindo dessas cenas lamentáveis, ainda é possível encontrar palavras que, de fato, têm o que dizer sobre a barbárie. É o caso da melhor escritora da Rússia contemporânea, Liudmila Petruchévskaia, de 83 anos, que já viveu na carne o que  hoje se mostra na televisão como um produto qualquer. Tem até patrocínio. “A guerra fratricida do criminoso Vladimir Putin envergonha a história de orgulho do povo russo que derrotou Adolf Hitler”, diz ela, observando que aprendeu a liberdade em um país de escassez, passando fome, vivendo anos com um único vestido e enfrentando o estigma de ser neta, filha e sobrinha de presos executados por Stálin, que considerava sua família inimiga do povo. Petruchévskaia afirma que o povo viveu momentos terríveis na Rússia, piores do que a Segunda Guerra Mundial, quando o país foi atacado por Hitler. “Para proteger o resto do mundo, pagamos com nosso sangue. Grandes países nos ajudaram, principalmente os Estados Unidos e a Inglaterra”, lembra a escritora, em entrevista ao jornal “O Globo”, no último dia 7.

Ela chegou a pedir esmolas e a cantar nas ruas por um pedaço de pão. Petruchévskaia considera que agora a Rússia está sendo esmagada pelos generais de Putin, que a violaram e destruíram, “pegaram seus filhos para lutar uma guerra vil e odiosa”, diz ela, acrescentando tratar-se de uma guerra contra um país próximo da Rússia, um país de irmãos, a amada Ucrânia. Observa que não conseguiu parar de chorar quando soube das notícias: “É como se eu estivesse me escondendo nessas bombas” na tentativa de proteger as crianças. Liudmila contou que está na Ucrânia se preparando para passar fome novamente e pedir esmolas nas ruas. A maior escritora da Rússia afirma que o principal criminoso por essa guerra é Vladimir Putin. “Que o sangue de todos os mortos caia na sua cabeça decrépita e corra pela sua face e mãos”, diz, assinalando ainda que ele “é o culpado de tudo, é um criminoso”. A escritora adianta que está pronta para ser presa, apesar de seus 83 anos de idade. Está pronta para apanhar da polícia, passar fome e sede, como o que está acontecendo com os que protestam dentro da própria Rússia.

Sabendo que essa punição poderá se estender à sua família, Liudemila deixa claro que ela — apenas ela — é responsável por suas palavras, na certeza de que está diante de uma guerra de um novo Hitler. Não tem compaixão de nada. Quer matar, destruir, humilhar. O massacre é de uma violência total. Tudo envolvido numa grande covardia, pela sede de poder. O próprio povo russo está envergonhado com a invasão covarde à Ucrânia. Tanto que somente neste domingo, 6, mais de 4 mil foram presos em várias regiões do país porque protestavam contra a guerra. Putin achava que resolveria essa guerra em algumas horas, o que não ocorreu, porque o povo da Ucrânia mostrou e mostra ainda sua bravura ao enfrentar e resistir aos ataques de outro país que detém equipamentos e armas das mais poderosas, capaz de exterminar o mundo e que ameaça utilizar bombas nucleares.

Que o mundo se lembre sempre dos grandes tiranos. É certamente o que nos cabe fazer. Somos espectadores do macabro, das mortes e do sangue de todos os dias. Nós nos transformamos com o andar do mundo em seres acostumados a assistir espetáculos de terror. Também estamos sendo brutalizados a golpes de baionetas e armas que fazem o corpo explodir. Bombas que arrasam as cidades, matando quem ainda não conseguiu fugir. Restam-nos essas cenas. É esse o tempo que vivemos. Não existe esperança de nada. O que resta está na nossa sala todos os dias como nossas palavras de espanto. Um trem que parte não se sabe para onde. As crianças que choram no colo da mãe aflita. É preciso sumir. Este mundo não serve mais. Mas que lembremos neste momento o que ainda existe de história e heroísmo, a bandeira de cores azul e amarelo. Lembremo-nos disso, até que desapareça. Esse mundo que aí está não deve nos interessar mais. Para o bem de nossas vidas.

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