Quando era ministro, Pazuello só se vestia como civil; por que quer ir fardado à CPI?
Postura dos senadores vai mudar ao ver o ex-ministro vestido de general para responder os questionamentos sobre sua gestão no Ministério da Saúde
Os dias emocionantes do Brasil contam, cada vez mais, com fatos que fazem arrepiar. Não nos contentamos somente com constrangimentos e cinismos de toda ordem. Não. Cada vez damos um passo à frente na nossa desmoralização como país. É mesmo uma loucura. Agora, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello está ameaçando depor na CPI da Covid-19 fardado, vestido de general. O Exército brasileiro vai permitir esse absurdo? Se for isso mesmo, o general quer intimidar a quem? Quando era ministro, o general só se vestia como um civil, de terno e gravata. Por que mudaria agora, exatamente na hora de depor na CPI? Imaginem os senadores vendo um general vestido de general para responder os questionamentos sobre sua gestão, acusada de delirante e envolvida em descaso no enfrentamento ao coronavírus. Evidentemente que a postura dos senadores vai mudar. Afinal, vão criticar e argumentar contra um general da ativa ali postado como pronto para uma guerra.
O general seria o segundo a depor na CPI da Covid-19, mas conseguiu escapar, comunicando que esteve em contato com dois coronéis que foram infectados pelo vírus. Por esse motivo, teria de ficar 14 dias de quarentena. Também já sugeriu dar seu depoimento online, mas o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD), não aceitou, dizendo que o ex-ministro tem de comparecer na CPI. Agora surgiu uma notícia informando que o general vai recorrer ao STF para não depor. Afinal, do que tem medo o general? Diante das reclamações dos integrantes da CPI pelas tentativas de fuga do ex-ministro, Omar Aziz foi sarcástico ao dizer que todos devem ter calma, porque Pazuello terá de comparecer, sim, para responder pelo que realizou no Ministério da Saúde. Tem quer ser um depoimento presencial. Pazuello está sendo treinado por uma equipe do Planalto para o depoimento e tem se mostrado muito nervoso, o que vem preocupando o governo, especialmente porque o general tem um temperamento explosivo e, quando se sente agredido, não quer saber de conversa.
O treinamento do ex-ministro é coordenado pela Casa Civil, sob o comando do general da reserva Luiz Eduardo Ramos, com a ajuda do coronel Élcio Franco, ex-secretário executivo do Ministério da Saúde, hoje assessor especial da Casa Civil. O ex-ministro tem assistido a vídeos de entrevistas que deu durante sua gestão, em que, em muitos momentos, se irritou com as perguntas dos jornalistas. Sabe-se que, há alguns dias, essa preparação durou seis horas, com simulações de confrontos com os parlamentares, respondendo perguntas difíceis e explicando fatos complicados de explicar. Tem sido uma vida dura a do general. Quando comunicou que não poderia depor presencialmente, vários senadores afirmaram que passear em shopping sem máscara pode, mas depor na CPI não. A vida do general não está fácil. O treinamento tem o objetivo de evitar momentos em que o general possa perder a calma e explodir. Não pode explodir, o que seria um desastre. Ninguém ainda viu um general explodir. Deve ser um perigo. A ordem é defender as ações que realizou no Ministério da Saúde sem comprometer em nada o governo de Bolsonaro. Isso definitivamente não pode acontecer. O comando do Exército também teme que o depoimento de Pazuello e de outros oficiais militares que foram deslocados para o Ministério da Saúde prejudique a imagem das Forças Armadas. Então todo cuidado é pouco. Ninguém queira dar uma de herói que não vai dar certo.
O depoimento de Pazuello está marcado para o dia 19. Ele está retraído. E tomou decisões inesperadas: dispensou a defesa da Advocacia Geral da União (AGU). Prefere entregar sua defesa a um advogado particular. Ao mesmo tempo, recusou um cargo na Secretaria Geral da Presidência da República. O ato de nomeação já estava assinado. A figura do fantasma solitário do Planalto, vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, entrou na história dizendo que Pazuello não pode deixar de comparecer à CPI, observando que ele será pressionado, mas terá de manter a calma. Acrescentou que ele devia saber que ser ministro da Saúde durante a pandemia seria uma função de risco. Pazuello vem mantendo contato com o ministro da Secretaria Geral da Presidência, Onyx Lorenzoni. Não está fácil. Vai ser uma dureza ficar lá respondendo perguntas provocadoras de senadores da oposição, que é maioria na CPI. É quase certo que Pauzello vai explodir. É capaz de a sessão não chegar ao fim. Se fazendo treinamento para responder à CPI o general já se mostra nervoso, imaginem com os senadores na sua frente. Se for vestido de general, com a farda do Exército, a situação vai complicar. E ver um general explodindo deve ser desagradável. Seja lá como for, explodindo ou não, afinal, do que o general tem medo? O espetáculo da CPI cheia de holofotes promete muita emoção. Definitivamente, o Brasil não é para amadores.
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