Queiroga tenta relativizar a trágica marca do Brasil em número de mortos pela Covid-19

Em coletiva de imprensa na última sexta-feira, 8, ministro citou uma porção de números, mas não disse a verdade sobre o que aconteceu no país com relação à pandemia

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 11/10/2021 10h09
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MATEUS BONOMI/AGIF - AGÊNCIA DE FOTOGRAFIA/ESTADÃO CONTEÚDO Marcelo Queiroga, homem com cabelos grisalhos e máscara branca, fala ao microfone sentado em uma mesa. Atrás, dois mascotes Zé-Gotinha com máscaras azuis. Eles tem a forma de uma gota e são brancos, com símbolos do SUS no peito, e um usa óculos de grau Ministro da saúde, Marcelo Queiroga, participou de coletiva de imprensa nesta sexta-feira, 8, sobre o plano de vacinação de 2022

Quando nada se tem a dizer, o melhor é calar a boca. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, falou ao país na sexta-feira, 8, com aquela conversa de sempre. Dá a impressão que esqueceu que é um médico e se tornou um servil do presidente Jair Bolsonaro. Citou uma porção de números, mas não disse a verdade sobre o que aconteceu no Brasil com relação à Covid-19, quando o governo se manifestou declaradamente contra todas as medidas de enfrentamento ao vírus e impôs um medicamento à população sem qualquer eficácia. Isso o ministro não falou. Talvez tenha “esquecido” de dizer que o Brasil entrou na vacinação com um ano de atraso, enquanto o número de mortes aumentava assustadoramente. Queiroga se colocou naquela mesa como a autoridade máxima da Saúde no Brasil, cercado por vários bonecos representando o “Zé Gotinha”, que sempre foi o símbolo do programa de vacinação no país. De cara, Queiroga voltou a afirmar que é contra a obrigatoriedade do uso da máscara. Usa quem quiser. O cuidado é individual. As pessoas precisam se conscientizar. Para explicar-se melhor, utilizou um exemplo grosseiro, dizendo que a máscara é como a camisinha, usa quem quiser usar. E perguntou se vai precisar fazer uma lei para obrigar o uso.

As palavras do ministro foram levianas, chegando a dizer que o Brasil é um exemplo para o mundo. Não é bem assim, senhor ministro Marcelo Queiroga. Seja honesto consigo mesmo. Não é assim. Chegamos à marca de 600 mil vidas perdidas e muitos especialistas dizem que isso poderia ter sido evitado em uma proporção que causa revolta. De cada cinco mortos, quatro se salvariam, se o governo tivesse agido como se deve. Mas não agiu. Preferiu debochar. E debochou muito. Nunca se ouviu desse governo uma palavra sincera às famílias dos 600 mil mortos. Nunca. As palavras do ministro foram hilariantes. Não é um sujeito que possa ser levado a sério. Nunca será. Viaja para todo lugar, mostrando serviço, e daí? Daí, nada! Queiroga tentou de todas as maneiras relativizar a trágica marca do Brasil em número de mortos pela Covid-19. Em vez de falar sobre o número de mortes pelo coronavírus, preferia citar outras doenças, como câncer e coração. Assinalou, do alto de seu posto, que só de doença do coração o Brasil soma mais de 380 mil mortes por ano. O mesmo ocorre com o câncer, que tem cifras alarmantes, conforme disse, ressaltando que a Covid é uma emergência sanitária internacional que levou ao óbito pessoas de todos os países do mundo.

Queiroga, no entanto, não falou uma única palavra sobre o descaso do governo desde o surgimento do vírus. Como ministro da saúde, o médico Queiroga estava ali exatamente para defender o governo. Assim, dividiu a responsabilidade dessa tragédia com prefeitos e governadores. Adiantou que em 2022 todas as pessoas de 18 a 60 anos receberão pelo menos uma dose da vacina. E pessoas com mais de 60 anos receberão duas doses. Garantiu que em 2022 o Brasil terá à disposição 340 milhões de doses de vacina. O ministro evitou falar sobre a CoronaVac, a vacina do governador João Doria, como se ela não existisse. Afirmou que em 2022 serão utilizadas somente vacinas com registro definitivo da Anvisa. Mas como, se a vacina mais utilizada no Brasil é a CoronaVac, que ainda não tem aprovação definitiva? O ministro não respondeu. Mas garantiu que na sua gestão a pandemia diminuiu. Sobre a cloroquina e o tal “tratamento precoce”, preferiu não fazer nenhum comentário, dizendo apenas que um juiz não pode dar sua posição antes do julgamento. Foi um pronunciamento com muita pompa que nada tinha a dizer.

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