Se Bolsonaro partir para o confronto com relação às mulheres, será o mesmo que se atirar no abismo

Equipe da campanha eleitoral do presidente e candidato à reeleição concluiu que ataque foi o maior erro durante o debate do último domingo

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 31/08/2022 14h16
Reprodução/YouTube (Band Jornalismo) bolsonaro-debate-band Presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou a jornalista Vera Magalhães após ser perguntado sobre o tema da cobertura vacinal

Passados alguns dias do debate da Band, a equipe da campanha eleitoral do presidente Jair Bolsonaro vem analisando em que momento ele errou mais. E chegaram à conclusão que o erro maior de Bolsonaro foi ter atacado as mulheres. Exatamente num debate com a participação de duas mulheres candidatas. Isso deve ter aflorado o instinto machista do presidente que não pensa antes de falar. Não mede as consequências. Ou as consequências nada lhe significam. Luiz Inácio da Silva, por seu lado, admite que também errou quando Bolsonaro falou sobre a corrupção dos governos petistas. Embaraçado, Lula tentou dizer que seu governo foi uma de uma honestidade nunca vista na face da Terra. Só tentou. Ficou naquela conversa de sempre. Lula diz que errou e que deveria ter se estendido mais no assunto. Mas, na verdade, se estendido para quê? A corrupção é a marca registrada do PT e ponto final. Já a equipe de Bolsonaro observa que o presidente foi bem no debate, mas as críticas que fez às mulheres não podem acontecer novamente. Bolsonaro foi orientado a atacar Lula em toda oportunidade, relembrando os casos de corrupção e dizendo que a bancada petista na Câmara foi contra a criação do “Auxílio Brasil”.

Não deu certo. Os ataques feitos por Bolsonaro nessas questões foram tímidos. Os analistas da equipe de campanha afirmam que Bolsonaro perdeu a cabeça quando atacou a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, e colunista do jornal O Globo, do Rio de Janeiro. A jornalista questionou o presidente sobre sua inércia na vacinação durante a pandemia, contribuindo para que milhares de pessoas perdessem a vida e que, por esse motivo, até hoje todas as vacinas são vistas com desconfiança pela população. O presidente reagiu dizendo inicialmente: “Vera, não podia esperar outra coisa de você!”. Daí por diante, o presidente afirmou que a jornalista deve dormir com ele na cabeça, deve ser alguma paixão. Disse que a jornalista não poderia tomar partido num debate e fazer acusações mentirosas. “Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, disse Bolsonaro, sem esconder a contrariedade.

Logo a seguir, a candidata senadora Soraya Thronicke (União Brasil) saiu em defesa da jornalista, acusando Bolsonaro de machista. A candidata observou ser muito tranquila, mas se chateia ao ver coisas assim, “quando homens são “tchutchucas” com outros homens e vão para cima das mulheres como se fossem tigrões”, acrescentando que “lá no meu Estado (Mato Grosso do Sul) tem mulheres que viram onça e eu sou uma delas”. Já a senadora Simone Tebet (MDB) afirmou que o presidente desrespeita as mulheres quando devia dar o exemplo ao país. Apontando para Bolsonaro. Simone afirmou que não tem medo nem dele nem das fake news e robôs do seu governo. “Nada disso me amedronta”, disse Simone. A seguir, dezenas de mulheres jornalistas e formadoras de opinião usaram as redes sociais para criticar Bolsonaro agressivamente. Mesmo assim, a equipe de campanha do presidente afirma que o debate foi essencial para reequilibrar as novas batalhas. Especialmente nesse assunto. Bolsonaro não pode repetir o comportamento que teve no debate ao se referir às mulheres. Não será fácil. 

O coordenador da campanha, Fábio Wajngarten, adiantou que Bolsonaro participará dos outros debates, mas com esse cuidado. A ordem é atacar a corrupção de Lula, que já se mostrou sem rumo ao responder questionamentos sobre o assunto. Atacar mulheres não leva a nada. Esse problema de Bolsonaro não é de hoje. Vem desde a pandemia e da ação desastrosa na vacinação, quando a vacina simplesmente foi desacreditada pelo presidente, que não se vacinou contra a Covid e informou que sua filha de 10 anos também não seria vacinada. As mulheres, especialmente as mães de família, sentiram aquelas declarações descabidas. E se afastaram do candidato. Tanto que um dos problemas de Bolsonaro nas pesquisas de intenção de votos são as mulheres, especialmente as que são mães. Não é uma questão que diz respeito somente às mulheres evangélicas. Não. São mulheres de todas as religiões. Trata-se de um assunto que acaba incluindo a família também. Então o presidente está sendo preparado para não complicar mais. Se Bolsonaro tiver de falar sobre mulher, que fale com uma linguagem civilizada. Partir para o confronto será o mesmo que se atirar no abismo.

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