Se o Brasil fosse um país sério, o ministro Milton Ribeiro já estaria fora do governo
Chefe da Educação é acusado de intermediar repasses de recursos do ministério para prefeituras, de preferência as que sejam administradas por evangélicos amigos do governo
Se o Brasil fosse um país sério, o ministro-pastor da Educação, Milton Ribeiro, já estaria no olho da rua. Mas certamente o novo escândalo ficará somente na conversa, como sempre. E é preciso dizer que Ribeiro sempre demonstrou ser um inútil. Nada mais que isso. Essa questão começou com uma grave acusação de que pastores de igrejas evangélicas atuam junto ao ministro, intermediando repasses de recursos do governo para prefeituras. Mas só alguns prefeitos, de preferência os que sejam evangélicos amigos. Um áudio vazado revelou como o dinheiro público corre fácil nas mãos dos bandidos de sempre. Todos são iguais. Essa denúncia pesa especialmente sobre dois pastores que atuam no Ministério da Educação. A denúncia, inicialmente, foi tímida, mas depois ganhou o noticiário de toda a imprensa, por ser um assunto que mexe com as entranhas de um governo que se gaba de não ter nenhum caso de corrupção.
Agora está todo mundo em cima do assunto, até a Procuradoria Geral da República e o Supremo Tribunal Federal, além do Senado, que vai ouvir os envolvidos. Pior de tudo é que, de acordo com as acusações que se avolumaram, o presidente Bolsonaro sabia e até autorizava essa relação vergonhosa. Com a palavra do ministro Milton Ribeiro não se pode contar, porque ele só diz bobagens. Há uma gravação, no entanto, em que ele afirma como funciona esse esquema de só oferecer recursos às prefeituras de alguma maneira ligadas às igrejas evangélicas ou particularmente a um certo pastor Gilmar. Diz claramente e até dá o nome de quem opera esse dinheiro do governo.
Os mais atuantes no esquema, abençoados pelo pastor-ministro da Educação, são o presidente Nacional de Igrejas e Ministros da Assembleia de Deus no Brasil, Gilmar Silva dos Santos, e o assessor de assuntos políticos da entidade, pastor Arilton Moura. De início, os dois negaram qualquer relação com o ministro e com o dinheiro que, segundo o áudio, distribuíam às prefeituras escolhidas para receber os recursos. Evidentemente que esse favorzinho custava dinheiro. No fundo, o que se vê nesse caso é um descaramento do próprio governo. Negam tudo. Já se sabe que os dois vivaldinos já participaram de pelo menos 22 agendas do MEC, sendo 19 com o próprio ministro da Educação. Esses encontros foram descritos como “alinhamento político” na agenda oficial do senhor ministro. A dupla tem as portas abertas, tanto que até fazem parte de viagens oficiais.
O pastor Gilmar se mostra aos seus fiéis como uma potência de fé, usando frases de efeito que misturam milagres com ações políticas ligadas aos “irmãos em Cristo”. É um show à parte: canta, bate fortemente no peito e convoca dos fiéis a sentirem a chama do Espírito Santo. Os dois pastores têm, também, abertas as portas do Palácio do Planalto. Tanto que, de acordo com as últimas informações, já foram recebidos quatro vezes pelo presidente Bolsonaro, o que, até agora, era negado com veemência, passando a ideia de que o presidente não sabia dessa falta de escrúpulo. O próprio ministro diz isso toda a hora. O presidente não tinha conhecimento de nada.
Milton Ribeiro, um ausente em tudo que se refere à educação, teria formado com os pastores uma espécie de “gabinete paralelo”, onde se resolvia qual prefeitura ia receber recursos. Mas tinha de ser ligada aos evangélicos. Uma vergonha. O principal interlocutor entre Bolsonaro e os evangélicos, pastor Silas Malafaia, está cobrando uma explicação. Ele diz que “não basta ser honesto, é preciso provar que é honesto”. Líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, Malafaia exige que o ministro Milton Ribeiro se explique. Outras lideranças evangélicas fazem a mesma exigência. Já o pastor-ministro faz de tudo para afastar Bolsonaro dessa falta de vergonha na cara.
No entanto, a cada dia, surge alguma informação colocando o presidente no meio dessa tramoia. Então é assim: prefeitura que precisa de recursos do governo só conseguirá se o prefeito for evangélico ou se a prefeitura é ligada a alguma igreja ou conhece o pastor Gilmar. Não dá para acreditar. E Bolsonaro, o que ele diz? Ele diz que seu governo é de Deus e que não há corrupção. Não precisa dizer mais nada. É só esperar um pouco e o assunto será esquecido, como todos os escândalos brasileiros. Se o Brasil tivesse vergonha na cara, esse ministro já estaria fora do governo.
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