Se Paulo Guedes tivesse algum amor próprio, já teria deixado o Palácio do Planalto
Ministro vem sendo fritado há algum tempo; o que temos nesse momento é uma figura desmoralizada que insiste em ficar onde ninguém quer mais
O inferno astral do ministro Paulo Guedes recomeça nesta segunda-feira,25. O problema é o seguinte: não há dinheiro. O ministro da Economia sabe disso. O presidente também. Mas a turma política do governo quer gastar. Tem que gastar. Por esse motivo, Paulo Guedes vem sendo fritado há algum tempo. Chega a ser humilhante. Quais são os caminhos do ministro Paulo Guedes? O que é que Paulo Guedes tem ainda a ver com o governo? É duro dizer, mas se tivesse algum amor próprio, Paulo Guedes já teria deixado o Planalto. Não adianta dourar a pílula nem tapar o sol com a peneira, Paulo Guedes é hoje uma figura desmoralizada e indesejável no Palácio do Planalto, massacrado pela ala política. Aquela entrevista do ministro na sexta-feira, 22, tendo ao seu lado o presidente da República, foi só um jogo de cena.
Bolsonaro ali com aquela postura tentando demonstrar que está tudo sob controle e o ministro discorrendo sobre seus dramas. Não há quem suporte isso por mais tempo. Afinal, o que faz o ministro permanecer no governo? A fritura do ministro começou naquela reunião em que Paulo Guedes deveria ser convencido a concordar com a ala do governo que deseja furar o teto de gastos no ano da eleição presidencial. Foi exatamente no dia 15 de outubro, uma sexta-feira, quando Bolsonaro convocou todos os ministros do Palácio do Planalto para uma conversa. Paulo Guedes não se encontrava em Brasília. Estava regressando dos Estados Unidos, onde estivera para participar de uma reunião do FMI. Foi todo mundo para a reunião, até os assessores de ministros de presença desnecessária. E no encontro coube ao ministro das Comunicações, Fábio Faria, exibir um vídeo mostrando o crescimento da miséria e da fome no país. A ordem era convencer o presidente de que aquele quadro tinha de mudar porque, a continuar assim, seria uma sentença de morte àqueles membros do governo que desejam ser candidatos em 2022, incluindo o próprio Bolsonaro.
O ministro do Trabalho, Onyx Lorenzoni, disse o que todos queriam ouvir, que a política econômica do ministro Paulo Guedes não deu certo e se transformou num desastre social, com profunda repercussão na área política. Diante disso, o governo tinha de gastar mais. Tinha de gastar o dinheiro que não tem. A reunião não contou com nenhum assessor do Ministério da Economia, mas Paulo Guedes foi logo informado sobre o episódio que passou a ser chamado de “o show da fome de Fábio Faria”. A fritura de Paulo Guedes vem de longe, mas nessa reunião o fogo brando foi aumentado para uma fritura mais rápida. Começou, então, o inferno do ministro da Economia, atacado de todos os lados e pressionado dentro do governo. Uma rua sem saída. A reunião no Palácio do Planalto convenceu Bolsonaro. Mas havia um problema: o que fazer com Paulo Guedes, que defende arduamente o teto de gastos? A ala política do governo, então, começou a declarar que a demissão do ministro da Economia era uma questão de tempo. Um tempo curto. Três dias depois – é o que dizem as más línguas – Bolsonaro se reuniu com Guedes e comunicou que sua paciência tinha se esgotado. E mais: o Auxílio Brasil seria mesmo de R$ 400. Não devia perder tempo em baixar esse valor. Seriam R$ 400 e ponto final. Nada de R$ 300, como deseja o ministro.
Fora isso, a equipe de Guedes tinha de arrumar dinheiro para pagar os precatórios, sem descumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal. Foi uma paulada na cabeça do ministro, que passou a falar sozinho pelas salas de seu gabinete. Vários assessores importantes de Guedes pediram demissão. Mas o ministro continua firme no seu cargo, embora essa palavra “firme” seja apenas um vício de linguagem. O ministro é uma figura derrotada dentro do governo. Não adianta nada Bolsonaro fingir que apoia o ministro, sentando ao seu lado numa entrevista coletiva. Na sexta-feira, 22, correu a notícia de que Guedes se demitira, o que ele desmentiu com pressa. O ministro então adiantou que em nenhum momento Bolsonaro insinuou que ele precisava deixar o governo. E assim a fritura vai indo. Esta coluna está sendo escrita na manhã desta segunda-feira, 25. Faltam algumas horas para o final do dia. Até lá, muita coisa pode acontecer. O que temos neste momento é a figura de um ministro desmoralizado que insiste em ficar onde não o querem mais.
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