Suspensão do recesso de fim de ano é um relâmpago de sensatez de parlamentares

Proposta de Renan Calheiros, com apoio de Rodrigo Maia, parece até um ato de ‘patriotismo exacerbado’

  • Por Álvaro Alves de Faria
  • 16/12/2020 13h13 - Atualizado em 16/12/2020 14h10
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Cleia Viana/Câmara dos Deputados Texto que abre espaço no Orçamento para auxílio emergencial será promulgado nesta segunda-feira No Twitter, Renan Calheiros propôs que o Congresso suspenda o recesso parlamentar

A paisagem política brasileira parece ser algo imutável. Não muda nunca. Sempre as mesmas caras. A vida inteira, sempre os mesmos. Fantasmas que pensamos desaparecidos para sempre, de repente surgem em algum posto, dando ordens, determinando os destinos de um país. Sempre os mesmos. Sempre eles. Não muda nada. Nunca. Pior de tudo é que grande parte desses espectros está sempre envolvida em falcatruas numa trajetória lastimável de malfeitos. E assim vamos vivendo ou tentando viver. Um deles acabou de ressurgir ocupando seu espaço de sempre. É incrível. Num ato de patriotismo exacerbado, o senador da República Renan Calheiros, do MDB, está propondo a suspensão do recesso parlamentar que começa no dia 22 de dezembro e vai até o dia 1 de fevereiro de 2021. E por que o senador, de vida tão zelosa na política nacional, teve esse ataque sensibilizador das almas nobres? Falando aos seus pares, o grande Renan Calheiros – quatro vezes presidente do Senado – diz que o Congresso não pode deixar o presidente Jair Bolsonaro sozinho neste momento difícil da vida nacional. Isso é verdade. O presidente precisa de ajuda, porque está passando dos limites de suas alucinações. A ideia do “termo de responsabilidade” para tomar a vacina é um bom exemplo da insensatez e falta de humanismo com tudo.

Renan Calheiros, o grande Renan, afirma que há muitos problemas sérios e urgentes a resolver no país, especialmente os que estão ligados à pandemia e à vacinação contra o coronavírus. Outro problema que Renan tem discutido com senadores e deputados é a manutenção do auxílio emergencial, que entrou numa encruzilhada difícil de sair. Fora isso, há ainda o decreto de calamidade pública que termina no dia 31. É muita coisa para Bolsonaro decidir sozinho. O presidente precisa de ajuda. O patriota Renan Calheiros tem conseguido alguns apoios importantes para que os senhores senadores e deputados não tirem férias. Um deles é do atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, inimigo declarado do presidente. Vamos usar a expressão adversário político, não “inimigo”. Fica melhor e mais elegante. Renan Callheiros, o patriota, tem usado as redes sociais sem parar, passando mensagens que tocam o sentimento humano, em favor do presidente Bolsonaro, propondo a suspensão do recesso parlamentar. Tem afirmado que o fim do ano está próximo, mas os parlamentares brasileiros não podem pensar em recesso nenhum. Até porque quase todos estão trabalhando em casa. (A palavra trabalhando não é minha, é do nobre senador). Assinala que, se quase todos estão “trabalhando” em casa, inclusive fazendo votações, não faz sentido voltar exatamente para casa.

Renan escreveu no Twitter que o vírus não faz recesso e que o Brasil já perdeu mais de 180 mil vidas e ainda não existe uma vacina definida para combater a doença. E tem mais: Renan Calheiros, o paladino, afirma ser preciso ainda decidir sobre o Orçamento e o déficit de quase R$ 1 trilhão. Por isso tudo, Renan bradou: “Continuemos trabalhando!”, com ponto de exclamação e tudo que tem direito. Rodrigo Maia, por seu lado, escreveu que concorda com Renan Calheiros, especialmente para aprovar a PEC Emergencial. Não existe outra solução senão a suspensão do recesso. Maia observou que com mais de 180 mil mortos e com o agravamento da pandemia, o Congresso tem de estar atuante ao lado da população. Neste momento de tão profundo amor à pátria, Renan Calheiros não quer pensar na sua vida pregressa. Não quer saber que tem nas costas mais de 15 processos por corrupção, vários da Lava Jato, andando bem devagarinho no STF, além de ser réu numa ação penal. Nada disso importa. O que vale é este momento cívico em que o presidente da República precisa de apoio e o Congresso Nacional não pode negar estender a mão para ajudar a resolver os problemas do país que se avolumam em quase todas as áreas. Eis Renan Calheiros de volta, em grande estilo. Disposto a “ajudar” o país – como ele diz – especialmente o presidente Bolsonaro, que necessita desse auxílio neste momento tão delicado da vida brasileira. Eis Renan Calheiros de volta. Por isso que o amor é lindo.

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