Viagem de Bolsonaro à Europa serviu apenas para provocar tumulto com jornalistas
Presença do presidente em Glasgow seria contraditória, já que o meio-ambiente é tratado com descaso no país; só para citar um exemplo, a Amazônia está completamente entregue aos madeireiros ilegais
Entre nós, aqui, vamos falar sério. O presidente Jair Bolsonaro fugiu da Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas que começou neste domingo, 31, em Glasgow, na Escócia. Fugiu mesmo. Mas, afinal, o que ele teria de fazer lá se a questão do clima no Brasil é tratada sem qualquer atenção? O meio ambiente no Brasil é abandono completamente. Veja-se, só para citar um exemplo: a Amazônia entregue completamente aos madeireiros ilegais, que estão destruindo a floresta. Sem contar a presença dos garimpeiros. Bolsonaro tinha de fugir mesmo do encontro em Glasgow. Nada teria nada a fazer lá. Até porque, a gestão ambiental no Brasil é um dos assuntos principais do evento que ainda tenta salvar o planeta. E fugindo como fugiu do encontro na Escócia, o presidente foi a Roma para participar do encontro do G20.
Neste domingo, 31, foi um vexame. Bolsonaro se enjoou de ficar ouvindo aquelas discussões. Então, decidiu desprezá-las, depois de se sentir totalmente isolado pelos líderes de outros países. Ignorou o G20 e saiu pelas portas dos fundos, a pé, com seus assessores. Um vexame. Passeando, se desentendeu com jornalistas brasileiros, o que provocou um tumulto, com a participação de seguranças brasileiros e italianos. Quer dizer, o presidente participou um pouco do G20 e desprezou totalmente a COP26. Bolsonaro deve ter sido informado das manifestações que o esperavam em Glasgow. Aliás, nessa questão climática, que o Brasil ignora, já dá para ver o que vem acontecendo à Terra, com catástrofes em todo lugar. E o Brasil seria cobrado.
Não que o país seja o principal poluidor do mundo. Não. Mas se encaminha para isso, especialmente com o abandono da floresta. Bolsonaro trata a Amazônia como trata a pandemia. Com deboche. O vice-presidente, general Hamilton Mourão, tentou explicar a ausência de Bolsonaro em Glasgow para livrar a cara do presidente da República, que está passeando em Roma. Mourão afirmou que o chefe do Executivo não foi à COP26 porque “todo mundo ia jogar pedra nele”. Mesmo não indo o presidente, a comitiva brasileira é a segunda maior no encontro, com mais de cem pessoas. É demais. A principal autoridade brasileira na conferência é o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, que substituiu o inexpressivo Ricardo Salles, aquele que tinha a função de acabar com a política do meio ambiente no Brasil — e saiu do governo acusado de corrupção por negociar madeira ilegal com os madeireiros que agem na região como bem entendem.
Joaquim Leite, tentou, como Mourão, explicar a ausência de Bolsonaro na COP26, dizendo que o presidente sofre muita pressão do mundo. Aliás, quem é Joaquim Leite? A Presidência da República divulgou nota no sábado, 30, informando que Bolsonaro não compareceria à Conferência do Clima da ONU por questões de agenda. Mas providenciou um vídeo para dizer como caminha o Brasil nesta área que tanto tem custado ao mundo. O país é hoje um dos cinco que mais poluem e agravam o aquecimento global. Desde o Acordo de Paris, em 2015, em vez de diminuir, o Brasil aumentou a emissão de gases do efeito estufa. Somente no ano passado, durante a pandemia, enquanto o mundo registrava uma queda de 6,7% nas emissões, nós as aumentamos em 9,5%, o maior índice desde 2006.
Os problemas das alterações do clima no mundo já estão sendo sentidos inclusive no Brasil, com as secas, as mudanças nas chuvas, as piores alterações no Nordeste. Mas o governo acha que tudo isso é frescura. Quem se dana mesmo com isso tudo é a população mais pobre, que aumenta cada vez mais no país. O ministro do Meio Ambiente tenta dizer em Glasgow que existe um equívoco em relação ao Brasil. Ele garante que, por aqui, o meio ambiente é uma prioridade. Mas, de acordo com o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima, em 2020, o Brasil liberou 2,16 bilhões de toneladas de gás carbônico, contra 1,97 bilhão em 2019. E isso se deve principalmente ao desmatamento da Amazônia. Mas esse é apenas um dado sobre essa questão crucial para o mundo. Na verdade, o descaso é geral. Por isso o presidente Bolsonaro fugiu da COP26. Afinal, ele não teria nada a fazer lá.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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