Ativista argentina pede que a democracia abrace novas tecnologias

  • Por Agencia EFE
  • 09/10/2014 16h35

Javier Roibás Veiga.

Rio de Janeiro, 9 out (EFE).- A ativista argentina Pia Mancini, uma das fundadoras do Partido de La Red em Buenos Aires e da plataforma DemocracyOS, um espaço digital para a participação cidadã na tomada de decisões, considera que a democracia atual está “defasada” em relação à sociedade atual.

“A democracia moderna é a mesma de há 200 anos e, enquanto isso, a sociedade mudou totalmente. O sistema está pensado para a imprensa (tecnologia de meados do século XV)”, afirmou Mancini nesta quinta-feira em entrevista à Agência Efe no Rio de Janeiro.

Segundo a ativista, esta defasagem entre o sistema representativo e a sociedade atual gera uma série de problemas que se manifestam em um aumento da abstenção política e em uma “apatia” da população com o sistema.

“O mais horrível é escutar que isto é culpa dos cidadãos, porque somos apáticos e porque não nos importamos com nada. A apatia é criada pelo sistema”, opinou Mancini.

Do mesmo modo, na opinião da ativista, outro dos pontos que geram esse “desapego” por parte dos cidadãos em relação aos políticos é a linguagem empregada pela democracia atual.

“Está feito por advogados para advogados. Que alguém me explique um projeto de lei, por favor. É totalmente ininteligível. Minha intuição é que isso é feito de forma consciente para que seja excludente. Acho que o poder é conservador por natureza e sempre quer ficar onde está”, comentou.

Outro dos problemas é a dificuldade que os cidadãos encontram para acessar à tomada de decisões, assegura a ativista, para quem há duas opções: “ou você tem muita grana e influência e pode fazer lobby, ou tem que dedicar sua vida à política”.

Esse é o ponto de partida da plataforma digital DemocracyOS, um fórum digital no qual os cidadãos podem expor suas preferências, objeções ou comentários sobre determinadas políticas realizadas por seus governantes e que deu lugar ao nascimento do Partido de La Red na capital da Argentina.

O partido foi criado em agosto de 2013 e se apresentou às eleições para o parlamento local em outubro do ano passado. Apesar de naquele momento ter apenas dois meses de vida, obteve 22 mil votos, superando várias legendas tradicionais.

Sua candidatura foi “o mais radical possível” ao incluir em seu programa que todas as leis do congresso fossem votadas com base no que o povo decida em uma plataforma digital.

“Não pretendemos eliminar o sistema político e dizer que a representação não existe. Ao contrário, deve existir, mas devemos estabelecer camadas de representação. O grande desafio é conseguir atores políticos que realizem esta inclusão da participação cidadã na tomada de decisões”, destacou.

Pia Mancini é uma das 65 conferentes incluídas no programa principal da conferência anual TEDGlobal 14, realizada nesta semana no Rio de Janeiro. EFE

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