Baltimore comemora acusações contra policiais pela morte de jovem negro
Jairo Mejía.
Washington, 1 mai (EFE).- A cidade de Baltimore, no estado americano de Maryland, começou a respirar tranquila após o anúncio nesta sexta-feira (data local) que a procuradoria acusará seis policiais pela morte do jovem negro Freddie Gray, fato que tinha provocado uma série de protestos violentos.
Em entrevista coletiva, a procuradora estadual por Baltimore, Marilyn Mosby, afirmou que considera a morte de Gray como um homicídio, provocado por erros durante uma prisão “ilegal”.
Um dos agentes envolvidos será acusado de assassinato em segundo grau (a acusação mais grave), enquanto os demais deverão responder por crimes que vão desde homicídio involuntário a ataque, prisão ilegal e descumprimento do dever.
Mosby, que comandou uma investigação independente e examinou as conclusões do próprio Departamento de Polícia de Baltimore, disse que a prisão de Gray, de 25 anos, no dia 12 de abril, não era justificada. Basicamente, o jovem olhou para o grupo de agentes e saiu correndo na sequência.
Apesar de não existirem motivos que permitissem a detenção, Gray foi algemado nos punhos e tornozelos. Depois, colocado em uma viatura para ser levado à delegacia, onde chegou com uma parada cardiorrespiratória.
O agente Caesar Goodson, condutor da viatura, é o acusado por assassinato em segundo grau. Caso condenado, pode receber uma pena de 30 anos de prisão pelo crime.
A suspeita é que os policiais submeteram Gray à prática conhecida como o “passeio do cowboy”. Depois de colocarem os presos sem cinto de segurança na parte de trás do veículo, os agentes fazem uma condução perigosa, alternam viradas bruscas e freadas fortes para machucá-los. Por esse motivo, Goodson é o principal acusado da procuradoria.
Gray sofreu uma lesão grave na coluna e foi internado no hospital. Após passar uma semana em coma, não resistiu aos ferimentos e acabou morrendo, apesar de as causas da lesão ainda não terem sido detalhadas.
Além disso, o jovem solicitou atendimento médico várias vezes aos policiais, que negaram os pedidos de primeiros socorros.
“Escutei a mensagem (dos manifestantes) que sem justiça não haverá paz. Buscarei justiça em nome deles”, afirmou Mosby, uma afro-americana de 35 anos e filha de um policial, que fez história ao se tornar a mais jovem procuradora de uma grande cidade americana.
Os seis agentes acusados – três negros e os três, brancos – foram colocados em liberdade após o pagamento de fiança, informou o jornal local “The Baltimore Sun”.
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, disse hoje que é “vital” o esclarecimento da verdade sobre a morte de Gray. No entanto, pediu que os procedimentos legais e a presunção de inocência dos policiais seja respeitada.
“Ninguém está acima da lei. Ela deve ser aplicada a todos”, disse a prefeita de Baltimore, Stephanie Rawlings-Blake, criticada pelos manifestantes ao longo da semana, mas que prometeu hoje mudar a cultura do Departamento de Polícia da cidade.
O sindicato de policiais quer que a procuradora de Baltimore fique de fora do caso e nomeie “um promotor especial” para garantir a independência do processo. A expectativa é que os advogados de defesa também peçam que o julgamento seja realizado fora da cidade, para garantir um tratamento imparcial do júri.
Ao saberem da notícia da acusação dos seis agentes, que já tinham sido suspensos enquanto o caso era investigado, os cidadãos de Baltimore saíram às ruas. Houve carreata e buzinaço, enquanto os veículos blindados da Guarda Nacional se posicionavam para evitar novos tumultos em caso de manifestações improvisadas.
Assim como na quarta-feira e ontem, as marchas de hoje transcorreram de forma pacífica, sem o registro de feridos ou de danos materiais como o que ocorreu na segunda-feira.
O único incidente destacável foi o desrespeito de um grupo de manifestantes ao toque de recolher instaurado na cidade, com início às 22h locais (23h de sexta-feira em Brasília), e ainda em vigor. Cerca de dez pessoas que estavam em frente à prefeitura de Baltimore se negaram a ir para suas casas e acabaram presas.
Durante toda a semana, milhares de manifestantes, tanto em Baltimore como em outras cidades do país, exigiram justiça pela morte de Gray. Além disso, eles pedem mudanças nas leis e políticas que protegem os policiais envolvidos em práticas abusivas. EFE
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