Bélgica prepara medidas para deixar de ser epicentro do tráfico de armas

  • Por Agencia EFE
  • 01/09/2015 07h01
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Gema Chacón e Marta Borrás.

Bruxelas, 1 set (EFE).- Acusada após o recente ataque em um trem de alta velocidade de ser o epicentro europeu da venda de armas ilegais, a Bélgica decidiu tomar medidas para combater esse tráfico e pediu uma maior colaboração entre países frente ao problema.

Os investigadores suspeitam que Ayoub el Kahzzani, que atacou o trem que fazia a rota entre Amsterdã e Paris, poderia ter adquirido na Bélgica o fuzil com nove carregadores e a pistola com os quais subiu no trem em Bruxelas.

Além disso, embora não haja uma confirmação oficial, segundo os meios de comunicação belgas, também teriam sido comprados na Bélgica o kalashnikov e o lança-foguetes utilizados em janeiro pelos irmãos Kouachi no ataque contra a revista “Charlie Hebdo” em Paris e as armas empregadas por Amédy Coulibaly em um sequestro em um supermercado de Paris no qual morreram cinco pessoas.

Outro fator que leva a essas suspeitas é que durante o desmantelamento em janeiro de uma célula terrorista em Verviers, na província belga de Liège, na qual morreram dois supostos terroristas que tinham viajado à Síria, a polícia apreendeu quatro rifles kalashnikov.

“É evidente que muitos dos fuzis kalashnikov ilegais chegam até aqui procedentes da Europa do Leste e temos que voltar a abordar esse assunto”, disse recentemente o ministro de Justiça belga, Koen Geens, que na segunda-feira da semana passada, três dias depois do ataque no trem, adiantou os pontos de ação nos quais sua ofensiva se centrará.

Entre outras medidas, seu plano advoga pela criação de um comitê de coordenação entre diferentes departamentos para lutar contra a transferência de armas ilegais e por pedir uma maior colaboração na União Europeia (UE).

Nils Duquet, investigador do Instituto pela Paz de Flandres, afirmou à Agência Efe que há distintas razões pelas quais na Bélgica pode ser fácil adquirir armas ilegais, apesar de na prática não ser tão simples, pelo menos para um cidadão comum, já que é preciso ter “contatos e conexões”.

A primeira dessas razões é que se trata de um país “com uma longa tradição de fabricantes de armas”, explicou Duquet.

Além disso, muitos belgas têm armas, porque a prática da caça e do tiro esportivo tem muitos seguidores no país e vários amadores as colecionam.

Outra razão, segundo o mesmo especialista, é que por ser um país muito pequeno no centro da Europa, “é possível entrar e sair de maneira muito rápida e fácil”, e além disso é uma zona de passagem “pela qual circulam muitas rotas comerciais”.

No entanto, Duquet considera que a legislação belga não é frouxa, já que em 2006 foram introduzidas mudanças para deixá-la mais restritiva e agora são seguidos os padrões europeus, similares aos de França, Alemanha e Holanda.

Para o especialista, na realidade o tráfico de armas “é um problema europeu, porque com o Espaço Schengen as armas podem viajar com bastante liberdade”, por isso que para ele é preciso melhorar os controles nas fronteiras exteriores.

“É necessário que a UE trabalhe em conjunto para criar uma legislação comum e harmonizada”, acrescentou.

As armas que são traficadas na Bélgica, segundo Duquet, procediam no começo dos anos 90 do antigo bloco soviético, especialmente da Bulgária, mas mais tarde “começaram a chegar da região dos Bálcãs”.

No mercado negro, segundo os analistas, é possível conseguir na Bélgica um fuzil kalashnikov por entre 1 mil e 2 mil euros e uma metralhadora Scorpio por cerca de 1,5 mil euros.

Além disso, é possível comprar um lança-foguetes M-82 por 2 mil euros e armas menores, como um revolver Beretta ou um Smith&Wesson por cerca de 500 euros.

O ministro de Justiça belga ressaltou que, já que as armas não parecem ser de origem belga, “isso é um problema externo ao Espaço Schengen”.

Por isso, pediu um controle mais eficaz das armas fora do Espaço Schengen e uma unificação da legislação sobre a desmilitarização do armamento militar, assim como uma melhor troca de informação através da Europol.

O ministro anunciou, além disso, que avaliará a aplicação de alguns dispositivos em matéria de tráfico de armas e que será reativado um comitê para coordenar entre departamentos a luta contra a venda de armas ilegais, criado no final dos anos 90 para melhorar a coordenação e a troca de informação.

Por último, o partido democrata-cristão flamengo CD&V, que faz parte da coalizão federal, vai introduzir uma proposta para permitir escutas telefônicas e métodos particulares de busca em investigações sobre o tráfico de armas de fogo.

“Na atualidade estes métodos podem ser aplicados em casos de terrorismo, mas não em relação ao tráfico de armas”, ressaltou o ministro. EFE

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