Berlim lembra 70 anos de Operação Valkiria, atentado fracassado contra Hitler
Berlim, 19 jul (EFE).- A Alemanha evoca amanhã o fracassado atentado contra Adolf Hitler de 20 de julho de 1944, a chamada “Operação Valkiria”, a conspiração da elite da Wehrmacht que, segundo vários historiadores, se tivesse prosperado poderia ter evitado milhões de mortes.
O presidente Joachim Gauck, abrirá a comemoração com uma oferenda floral e um discurso no Bendlerblock, a sede do Ministério da Defesa em Berlim, onde está o monumento da resistência anti-hitleriana.
O ato seguinte, também com Gauck e a ministra da Defesa, Ursula von der Leyen, acontecerá em Plötzensee, o museu instalado no que foi, durante o nazismo, prisão e palco de fuzilamentos contra os inimigos do regime.
Dali, as margens de um lago, voltarão para o Bendlerblock, onde a ministra fará o juramento da bandeira, cerimônia que nos anos 90 costumava derivar em distúrbios com manifestantes de esquerda, que o tachavam de parada militarista própria do Terceiro Reich.
Será um dia para lembrar a conspiração promovida pelo coronel do Estado-Maior Claus Schenk von Stauffenberg, que junto com outros aristocratas tentaram eliminar Hitler, em uma trama cuidadosamente traçada que o acaso atrapalhou.
Stauffenberg foi o oficial que colocou a valise com uma bomba ativada sob a mesa onde Hitler se reunia com o Estado-Maior, em seu quartel-general da Prússia Oriental, em Ketrzyns.
Em seu interior havia dois artefatos, mas só um explodiu. Quatro das 24 pessoas presentes morreram, mas Hitler sofreu apenas ferimentos leves, já que uma das pessoas ali tinha mudado a valise de lugar com o pé minutos minutos antes da explosão.
Apesar do fracasso, a história elevou esse grupo de oficiais à categoria de símbolos da resistência, como também foram os irmãos Sophie e Hans Scholl, dois estudantes membros do grupo Die Weisse Rose, descobertos e guilhotinados em 1943.
Se os estudantes são lembrados como exemplo de coragem juvenil, os conspiradores de Staffenberg entraram para a história pela capacidade de se levantarem, também dentro do exército, contra um regime monstruoso.
Stauffenberg era um oficial de 36 anos que tinha perdido um olho, a mão direita e dois dedos da outra na África, e que começou a estabelecer dois anos antes a conspiração com militares como Ludwig Beck e civis como Carl Friedrich Gordeler.
Alguns membros da conspiração, como o próprio Stauffenberg, tinham assistido inicialmente fascinados às ofensivas hitlerianas contra a Polônia e a Rússia e viram em Hitler um instrumento para que o Reich recuperasse a dignidade perdida após a I Guerra Mundial.
A realidade dos campos de concentração e a loucura nazista os fizeram mudar de opinião.
Stauffenberg tinha abandonado o escritório após depositar a valise e voou de volta a Berlim sem saber que Hitler seguia vivo.
Morto o Führer, seu propósito era negociar com os aliados e instaurar um governo militar provisório que pusesse um fim no horror da guerra.
Um bom número de integrantes do conspiração seguiu o plano, até que às 21h, no meio da confusão, Stauffenberg e os seus foram detidos por um comando leal a Hitler.
Após a meia-noite o conde e três de seus acompanhantes foram executados no pátio do Bendlerblock. Meia hora depois Hitler fez um inflamado discurso pelo rádio para provar ao país que continuava vivo.
Outros 200 envolvidos na “Operação Valkiria” foram assassinados ou internados em campos nazistas nos dias seguintes.
As honras a esse grupo estiveram durante anos rodeadas de certa polêmica na Alemanha, já que implicava render tributo a aristocratas que traíram o princípio da hierarquia militar.
Sobre essa controvérsia prevalece a consciência de que, se tivessem conseguido assassinar Hitler, milhões de outras vidas teriam sido salvas, no front ou no campo de concentração, entre julho de 1944 até a capitulação do Reich, em maio de 1945. EFE
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