Boko Haram, a milícia que luta para impor a lei islâmica na Nigéria
Nairóbi, 7 mai (EFE).- A seita radical Boko Haram, autora do sequestro de mais de 200 meninas que provocou uma onda de condenação internacional, é uma milícia que luta para impor um Estado islâmico na Nigéria, um país de maioria muçulmana no norte e predominantemente cristão no sul.
O grupo, cujo nome significa em línguas locais “a educação não islâmica é pecado”, foi fundado em 2002 pelo clérigo muçulmano Mohammed Yousef.
Yousef criou em Maiduguri, a capital do estado de Borno, um complexo religioso que incluía uma mesquita e uma escola islâmica, onde muitas famílias muçulmanas de baixos recursos inscreveram seus filhos.
Mas o objetivo de Yousef não era realmente estabelecer um centro educativo, mas um campo de recrutamento de jovens que posteriormente lutariam contra o governo nigeriano para instaurar um Estado regido pela “sharia” (lei islâmica).
Em 2009, o Boko Haram começou a atentar contra edifícios do governo em Maiduguri e delegacias de polícia. Nesse mesmo ano, Mohammed Yousef foi detido e assassinado pelas forças de segurança.
Embora as autoridades nigerianas tenham assegurado então que era o fim do Boko Haram, os islamitas se reagruparam sob o atual líder do grupo armado, o teólogo Abubakar Shekau, pelo qual os Estados Unidos chegaram a oferecer uma recompensa de US$ 50 milhões.Desde então, os fundamentalistas mantêm uma sangrenta campanha que causou mais três mil mortes, especialmente no nordeste do país, base espiritual e de operações do grupo fundamentalista, onde milhares de pessoas se viram obrigadas a abandonar seus lares.
Mas foi apenas em 2011 que o Boko Haram atraiu a atenção internacional com um atentado contra a sede das Nações Unidas em Abuja, a capital administrativa da Nigéria, no qual morreram 23 pessoas.
No final de dezembro desse mesmo ano, o governo nigeriano declarou a situação de emergência no nordeste do país, concretamente nos estados Yobe, Borno e Adamawa, onde os ataques não cessaram.
No último ano, a campanha dos islamitas se intensificou com assassinatos frequentes, sequestros, roubos e destruição de escolas e casas nesses estados do norte.
A seita deixou de fazer atentados disparando a esmo (principalmente contra políticos ou membros das forças de segurança no norte do país) para realizar ataques coordenados, o que faz temer que tenham podido surgir vínculos entre o Boko Haram e a rede terrorista Al Qaeda, uma possibilidade ainda não confirmada.
Um dos casos que mais comoveu a Nigéria e a comunidade internacional foi o sequestro de mais de 200 meninas em uma escola de Chibok, em Borno, retidas desde o último dia 14 de abril e as quais o Boko Haram ameaçou vender como escravas.
Além disso, no domingo passado, outras 11 meninas, de entre 12 e 15 anos, foram sequestradas por supostos membros da seita na cidade de Warabe, também em Borno.
Embora inicialmente os ataques tenham se centrado no norte do país, os terroristas aumentaram suas ações no resto da Nigéria, especialmente em Abuja.
No último dia 14 de abril, um atentado em uma das principais estações de ônibus da capital deixou 75 mortos e 216 feridos e, semanas depois, outro ataque com bomba na mesma área deixou pelo menos 19 mortos e 60 feridos.
O Boko Haram também realizou sequestros de cidadãos ocidentais no vizinho Camarões, o último deles no dia 4 de abril, quando raptou dois sacerdotes italianos e uma freira canadense que ainda estão em paradeiro desconhecido.
Recentemente, o governo de Camarões informou que a seita mantém uma rede de recrutamento no país e, desde fevereiro, alistou cerca de 200 jovens – de entre 15 e 19 anos – em Kolofata, uma região fronteiriça com a Nigéria, no extremo norte do Camarões.
Com 170 milhões de habitantes distribuídos em mais de 200 grupos tribais, a Nigéria, país mais povoado da África, sofre múltiplas tensões por suas profundas diferenças políticas, religiosas e territoriais. EFE
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