Caracas: uma cidade dividida em duas com a mesma preocupação
José Luis Paniagua.
Caracas, 6 mar (EFE).- O leste e o oeste de Caracas, capital da Venezuela, parecem pertencer a duas cidades diferentes nos últimos dias, duas realidades paralelas que se olham a distância com diferente atitude diante dos protestos, mas uma preocupação comum pela situação do país.
O oeste caraquenho é um dos maiores redutos do chavismo na Venezuela; como mostram as sucessivas vitórias eleitorais e o aparente clima de tranquilidade que reina nas ruas indiferentes à tensão política.
Os ônibus que passam pelo Parque del Oeste, em Catia, para levar os caraquenhos à praia, contrastam com os ataques e barricadas que transformaram em uma corrida de obstáculos o dia a dia dos motoristas no leste da cidade.
Já o leste está tomado pelos protestos contra o governo de Nicolás Maduro, e é cenário de manifestações diárias. Ninguém sabe que loja vai abrir ou fechar, nem a que horas.
Mais de três semanas de protestos já se passaram desde que uma manifestação pacífica em 12 de fevereiro acabou em violência e o assassinato de três jovens.
Josefina Braca tem fotos de todos os tamanhos com o falecido Hugo Chávez na parede do Comando Paroquial José Félix Rivas (no oeste), o primeiro que o líder bolivariano criou em Caracas e situado a poucos metros da Praça La Pastora, um dos bairros mais tradicionais da cidade.
Ela garante que os protestos do leste da capital não serão sentidos, e que ali não há nem haverá barricadas como as do leste. “Estão se enforcando com as próprias cordas”, disse.
A poucos quarteirões de distância, Luis Azavache, dono de uma pequena mercearia considera que a situação não é tão tranquila.
“Estamos vivendo um estado de crise absoluta porque não há compatibilidade entre a MUD (a aliança opositora Mesa da Unidade) e o governo”, comentou Azavache, que se declarou “votante”, “trabalhador” e “pró-governo”.
O comerciante afirmou que o país precisa dialogar, e comemorou que o presidente, Nicolás Maduro, tenha lançado na semana passada uma Conferência Nacional de Paz (CNP), à qual o líder opositor Henrique Capriles decidiu não ir.
“Tinha que ter ido para expressar suas ideias”, disse Azavache em alusão ao ex-candidato presidencial opositor.
Para outros comerciantes da região, como Hilario Ramos, de 71 anos, a situação ruim do país fica evidenciada na falta de provisões e de alimentos. Ele tem medo de um governo que, em sua opinião, não soube encontrar as soluções para a Venezuela.
“Não sobrou nada. Agora, saio para comprar algo no mercado e não sei o que vou encontrar nem por quanto vou ter de comprar”, explicou.
Abraham Chávez, uma motorista que cobre a rota La Pastora-Petare, que une as regiões populares do leste e o oeste, também critica o governo, mas por sua inação perante as barricadas que interrompem diariamente o trânsito na outra parte da cidade.
“Assim não dá pra trabalhar. O governo vai ter de fazer algo. Se fosse na época dos adecos (os Governos de Ação Democrática) já teriam mandado bala em todos”, declarou.
Há várias semanas, as ruas dos municípios Chacao, Baruta e Sucre, e algumas de El Libertador, aparecem diariamente cobertas de escombros e sacolas de lixo arrebentadas ou pegando fogo, que deixam um rastro de resíduos e terminam convertendo-se em barricadas e barreiras para o trânsito.
“Eu vivo no leste, em Chacao, mas vim para cá porque aqui está minha filha e lá eu não posso sair na rua. Tem tanto lixo que não posso abrir nem as janelas da casa”, disse à Efe Gladys Pin, de 69 anos. EFE
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