Argentina debate aborto no lugar correto; no Brasil, debate foge do Congresso
Lamento que a cultura do aborto tenha avançado na Argentina. Lamento que a propriedade do corpo, como bandeira para certa existência feminina, resulte no desprezo pela vida – no desprezo pela existência alheia. Ou alguém pode garantir, com 100% de convicção, que o que chamam de feto não seja talvez um ser humano? Lamento que isso – na verdade uma escolha, uma questão moral, portanto – seja confundido com a conquista de um direito. Direito a quê?
Mas é necessário ser coerente: a discussão, na Argentina, tem lugar no espaço correto: no Parlamento. Se se trata de lei, que avance ou não no Legislativo. É o certo. E isso é preciso reconhecer. Até para que possamos olhar para o panorama brasileiro. Aqui, tão grave quanto a forma ligeira com que grupos de pressão tentam impor o aborto à sociedade é o uso da instância através da qual buscam avançar a pauta.
No Brasil, o debate foge do Congresso, dos representantes legisladores, e impregna o Judiciário, notadamente o Supremo Tribunal Federal, lá onde togados como Roberto Barroso – gente sem um voto – aos poucos vão legislando para cravar a prática do aborto entre nós.
Se a causa é legítima e tem apoio da sociedade, e se a pressão tem a pretensão de mudar a lei do país, que se a apresente no terreno adequado, à casa do povo, o Parlamento. Como foi na Argentina. Sem apelação.
E não venham com o mimimi de que o Congresso é conservador e jamais aprovaria a descriminação do aborto. O Congresso é a perfeita expressão do povo, para o qual esse assunto está longe de ser prioridade. Quer fazer andar a agenda progressiva? Convença as pessoas. Lei baixada no canetaço de juiz é autoritarismo.
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