Que coisa extraordinária é a Copa do Mundo
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Que coisa extraordinária é a Copa do Mundo. Mesmo para quem não gosta de futebol. Mesmo para quem não gosta de futebol, mas é brasileiro. A Copa é nosso mais fiel, mais constante, marco temporal. É nosso calendário.
O evento a partir do qual todos nós – uns mais, outros menos – medimos nossas vidas. Mais: o evento que fundamenta nossas memórias; que ancora nossa juventude e, fazer o quê?, nosso amadurecimento.
Onde você estava há quatro anos, ouvinte, na final do último mundial? Com quem estava? Onde vivia? E não finja que esse é cálculo que nunca fez. A Copa do Mundo é nossa baliza. Pense no dia de ontem e projete como se lembrará dele daqui a quatro anos.
No meu caso, ontem foi a final do primeiro mundial ocorrido desde que minha filha nasceu. Ela ignora o fato, mas vibrou com a festa. Eu me lembro – juro – de quando ignorava o fato, mas vibrava com a festa. A festa acabou quando Zico perdeu o pênalti. Zico é meu herói. Será para sempre. O futebol importa pouco. O futebol é tudo. Não é a taça. É o ídolo. De 1994 sou capaz de lembrar detalhes. Reconstruo em minúcias a festa junina a que fui depois de Branco ter feito a mágica que eliminou a Holanda quando tudo parecia tombar.
Não é a Copa. São as paixões. Os amigos. Em 2018, o Brasil foi eliminado cedo, mereceu perder, e eu estava com minha mulher. Estávamos juntos quando houve esperança de que a seleção virasse. Não deu. Estávamos juntos quando não havia esperança alguma, em 2014, contra a Alemanha. Era aniversário dela. E choveu uma barbaridade.
Ontem, dia da final, foi o dia em que revi minha irmã depois do ano em que viveu fora. Meu sobrinho não falava quando foi. Agora, fala – e fala também em inglês. Isso é a Copa do Mundo. Nosso encontro marcado. Daqui a quatro anos tem mais.
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