Cazaques sofreram testes nucleares durante anos sem serem advertidos

  • Por Agencia EFE
  • 29/08/2015 04h38

Kulpash Konyrova.

Astana, 29 ago (EFE).- A ONU declarou em 2009 o dia 29 de agosto como o Dia Internacional contra os Testes Nucleares por iniciativa do Cazaquistão, que tinha sofrido em uma de suas regiões, Semipalatinsk, perto da fronteira com a Sibéria (Rússia), os rigores dos testes nucleares sem que a população fosse advertida.

Em um dia de verão há 60 anos, uma grande nuvem branca chegou até uma aldeia. As crianças, que estavam brincando, correram atrás da nuvem gritando alegres “Paraquedas! Paraquedas!”.

Anos depois, esse inocente momento teria consequências trágicas, porque a nuvem, que se parecia mais com um cogumelo que com um paraquedas, era o resultado de uma explosão nuclear na superfície, programada no então campo de testes nucleares secreto de Semipalatinsk, no nordeste do Cazaquistão.

Uma dessas crianças, que tinham entre sete e dez anos, morreria de leucemia anos mais tarde, enquanto seu vizinho desenvolveria vitiligo já aos 60 anos.

Os médicos explicaram que a doença era consequência dos testes nucleares realizados durante 40 anos não muito longe dessa aldeia nas pradarias do Cazaquistão.

Semipalatinsk foi o único campo de testes no mundo onde as pessoas continuaram vivendo durante e depois dos mesmos.

A então União Soviética realizou em 29 de agosto de 1949 seu primeiro teste nuclear em Semipalatinsk. A potência dessa primeira bomba foi de 22 quilotons.

No total, de 1949 até 1989 o campo secreto no Cazaquistão realizou pelo menos 468 testes nucleares.

Foram essas explosões as que criaram a contaminação radioativa de toda a parte oriental do Cazaquistão: aproximadamente 18 mil quilômetros quadrados de “terra de urânio”.

As autoridades soviéticas não advertiram os aldeões sobre os testes programados.

E a verdade só viu a luz depois da independência do Cazaquistão: a população tinha estado exposta à radiação, o que gerou doenças, mortes prematuras e doenças transmissíveis.

Os dados recolhidos pelas autoridades soviéticas ainda são informação confidencial.

O Cazaquistão, da mesma forma que o resto do mundo, lembrou neste mês de agosto o 70º aniversário dos bombardeios nucleares de Hiroshima e Nagasaki. No entanto, o mundo pouco conhece a tragédia que o povo cazaque sofreu e segue sofrendo.

Os estudos efetuados mostram que, dos 18 milhões de habitantes do Cazaquistão, pelo menos 1,5 milhão foram submetidos a radiação.

O mundo conheceu a verdade sobre o campo de testes nucleares de Semipalatinsk após o nascimento do movimento antinuclear internacional “Nevada-Semipalatinsk”, que teve como objetivo principal seu encerramento.

Em 1989, um decreto do presidente cazaque, Nursultan Nazarbayev, fechou o campo de testes de Semipalatinsk.

A assinatura de dito decreto marcou um precedente na história da humanidade: uma potência nuclear abandonava voluntariamente seu programa nuclear.

Mas as consequências perdurarão durante pelo menos outro milhão de anos.

A taxa de radioatividade de plutônio precisa de 24 mil anos para descer à metade, razão pela qual o nível de radiação da “terra nuclear” do campo de testes de Semipalatinsk demorará um milhão de anos para voltar à normalidade.

Por iniciativa de Nazarbayev, em 2009 a Organização das Nações Unidas declarou 29 de agosto como o Dia Internacional contra os Testes Nucleares.

Da mesma maneira, em 29 de agosto de 2012 Nazarbayev lançou o projeto ATOM, uma campanha que tem como objetivo aumentar a consciência mundial sobre as consequências das explosões e testes de armas nucleares. EFE

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