China mostra déficit em direitos humanos com morte de Liu Xiaobo

  • Por Caio Blinder/Jovem Pan
  • 14/07/2017 05h59 - Atualizado em 14/07/2017 11h10
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EFE Liu Xiaobo foi o primeiro chinês ainda vivendo no país a receber qualquer tipo de Nobel

 

Vivemos numa época desumana com esta liderança global. Donald Trump, Vladimir Putin e Xi Jinping são dirigentes transacionais, cínicos e amorais. Obviamente, o ditador chinês e o semiditador russo são muito piores do que o presidente americano. No entanto, eles se lixam para direitos humanos. Política é um mero comércio.

Então, vamos aumentar o descomunal déficit chinês em direitos humanos. Liu Xiaobo, o mais importante dissidente no país e Prêmio Nobel da Paz, morreu na quinta-feira após uma batalha contra o câncer no fígado.

O regime comunista que impediu que ele recebesse o Nobel na Noruega em 2010 (na cerimônia havia uma cadeira vazia) agora impediu que ele pudesse receber tratamento no exterior. Apenas permitiu que Xiaobo fosse transferido da prisão, onde cumpria pena de 11 anos por subversão desde 2008, para um hospital.

Num gesto simbólico de humanidade, sua mulher, Liu Xia, pôde deixar a prisão domiciliar para estar com o marido nos seus últimos momentos. Xiaobo disse no seu julgamento que não tinha “inimigos e ódio”. A recíproca não era verdadeira. Ele era odiado pelo regime por sua infatigável luta pacífica por democracia e direitos humanos.

Phd em literatura e também em carceragem, Xiaobo foi uma das figuras mais influentes nos protestos da Praça da Paz Celestial, em Pequim, em 1989. Foi preso em 6 de junho, dois dias depois do final da resistência quando convenceu os estudantes remanescentes a desistirem para impedir um banho de sangue ainda maior. Liu Xiaobo era um pacifista, não um mártir suicida.

Sua mais recente prisão aconteceu em dezembro de 2008, dois dias antes da divulgação da Carta 08, inspirada na Carta 77, um apelo emitido por dissidente na então Tchecoslováquia em 1977, na época do comunismo soviético. Na versão chinesa, exigia o fim do governo de partido único e um regime que abraçasse a democracia. A subversão de Liu Xiaobo foi organizar uma petição.

Vaclav Havel, o dissidente que se tornou presidente da democrática República Tcheca, trabalhou pela indicação de Xiaobo ao Nobel da Paz. Xiaobo está na galeria de gigantes globais da dissidência moral como Andrei Sakharov, Nelson Mandela e Martin Luther King, também laureados com o Nobel da Paz.

Havia expectativas de que um dia ele tivesse um papel transformativo na sociedade chinesa como um Havel ou um Mandela, quem sabe como presidente. Sonho distante.

Ao assumir o poder em 2012, Xi Jinping arrochou ainda mais a repressão, sinalizando ao mundo que este negócio de direitos universais era uma balela. E o regime não deu moleza quando se aproximou a morte de Liu Xiaobo. Mobilizou um exército de censores para ceifar na Internet mensagens de simpatias.

Liu Xiaobo foi o primeiro chinês ainda vivendo no país a receber qualquer tipo de Nobel. Outra proeza: é o primeiro agraciado com o Nobel da Paz a morrer sob custódia desde Carl von Ossietzky, jornalista e crítico de Adolf Hitler, que sucumbiu à tuberculose em uma prisão-hospital em 1938.

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