Com planos de preservação, população de tigres registra crescimento na Índia
Luis Ángel Reglero.
Nova Délhi, 2 fev (EFE).- Após 40 anos de programas de governo, forte investimento de recursos e uma luta implacável contra os caçadores, o rugido do tigre volta a ser ouvido na Índia, um país que conseguiu aumentar em 30% os espécimes do felino e já é seu principal lar no mundo.
Em 2006, o tigre de bengala lutava contra um destino que praticamente condenava sua existência ao confinamento nas páginas das centenas de obras literárias que havia inspirado e menos de 1.400 exemplares lutavam para escapar das garras de um inimigo nada imaginário: os caçadores.
O censo feito em 2010 mostrou um aumento de aproximadamente 300 tigres, 20% a mais. Já o último, divulgado na semana passada, revelou um aumento de quase 500 animais, quantidade 30,5% maior e que chegou ao total de 2.226 espécimes.
Não foram as garras que devolveram os tigres a seu espaço, mas um grande investimento de recursos do governo da Índia através do Projeto Tigre.
O programa, iniciado em 1973, movimentou 24,6 milhões de euros (R$ 71,4 milhões), só no último ano, para garantir “grande proteção” nas 47 reservas do felino no país, disse à Agência Efe Prakash Yadav, representante da Autoridade Nacional para a Conservação do Tigre.
O programa de conservação inclui patrulhas contra os caçadores ilegais, mas, apesar disso, associações conservacionistas consideram que as medidas ainda são insuficientes para lutar contra os que costumam andar fortemente armados.
São poucos os dados sobre esta atividade ilegal e muitos casos nunca são descobertos, mas a Sociedade para a Proteção da Vida Selvagem na Índia (WPSI, em inglês) calcula que pelo menos 923 tigres foram abatidos ilegalmente entre 1994 e 2010.
No entanto, os dados do último censo encorajam, e muito, já que a população do animal na Índia cresce em um momento que “nos outros países demonstra uma queda”, contou Yadav.
Os tigres indianos representam praticamente metade dos cerca de 4.500 de sua espécie em toda a Ásia, continente onde esse mamífero vive em uma área que vai de norte a sul, da Sibéria à Indonésia, e de leste a oeste, da China à Índia.
Segundo Yadav, a administração do habitat “com critérios puramente científicos” é apenas uma parte de um programa de conservação “integral, que protege não só o tigre, mas todo o seu entorno e inclusive gera serviços e emprego para as comunidades locais” que convivem com o animal.
No entanto, esse êxito também leva a um novo desafio, já que a expansão da espécie traz a necessidade de também protegê-la fora das reservas, onde o mamífero fica à mercê de uma praga que o programa não conseguiu erradicar: a caça ilegal.
A Autoridade Nacional que dirige esse plano ainda deverá criar três novas áreas protegidas e ampliar várias das que já existem.
Os 378.118 quilômetros quadrados dessas reservas contam com 9.735 câmeras de vigilância contra a caça ilegal, espécimes em zonas habitadas e outros perigos que ameaçam à espécie, ainda mais quando ela se expande fora das áreas de proteção.
“Os caçadores ilegais são um grande problema, principalmente fora das reservas”, disse à Efe o presidente da organização conservacionista Wildlife SOS, Kartick Satyanarayan.
O tigre é muito valorizado em países como a China para elaborar remédios tradicionais e seu tráfico ilegal na Ásia é uma das maiores ameaças para preservar a espécie.
A recuperação do felino na Índia “é muito positiva, sem dúvida, mas este aumento de população eleva alguns riscos e agora temos muitos mais tigres que podem ser alvos dos caçadores ilegais, pois ficarão desprotegidos se saírem das reservas”, alertou o especialista.
Satyanarayan também alertou que uma espécie em expansão favorece um maior risco de conflitos com os humanos, ainda mais em um país como Índia, o segundo mais populoso do mundo, onde são frequentes os ataques mortais de tigres, leopardos e até mesmo elefantes a gado e pessoas, principalmente crianças.
“Uma das soluções são os corredores naturais para animais em liberdade, não só para tigres”, que permitam conectar as reservas, defende Tito Joseph, da WPSI.
Joseph ressaltou à Efe a necessidade de preservar áreas florestais não apenas dentro dos espaços protegidos, mas “principalmente fora deles, onde continua sendo preocupante a conservação” do tigre.
Os projetos de mineração, a construção de represas e o desmatamento para criar cultivos são algumas das maiores ameaças ao felino.
Mas os resultados do programa são tão animadores que o ministro do Meio Ambiente indiano, Prakash Javadekar, propôs à comunidade internacional a doação de filhotes para preservar a espécie em outros países.
“Nossas medidas de sucesso poderiam ser adotadas pela comunidade internacional” ao terem alcançado “um papel fundamental na conservação mundial do tigre”, disse o ministro na apresentação do censo na semana passada. EFE
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