De teste em teste, a tolerância testada
Mais um teste nuclear norte-coreano, o sexto, mais bravatas do regime de Kim Jong-un sobre sua capacidade tecnológica e destrutiva e, é claro, mais tuitadas de Donald Trump.
Mero repeteco na crise nuclear? Claro que não. Existe uma escalada tecnológica e de tensões. Os norte-coreanos alegam que foi um teste com bomba de hidrogênio, com sete vezes a mais do poder explosivo da bomba que destruiu Hiroshima em 1945 e capaz de ser instalada em um míssil balístico intercontinental.
Já os tuítes de Trump em si não revelam uma estratégia. Existe uma explosão de incoerência do presidente americano, que não resiste a diatribes como passar pito na Coreia do Sul por seu “apaziguamento” e acenar com guerra comercial contra o aliado americano e vizinho do perigo norte-coreano.
O consolo é que. com a escalada de tensões na península coreana, será descartado um confronto comercial entre EUA e Coreia do Sul. Eu imagino que nem Trump seja tão imbecil para provocá-lo.
Outro tuíte imbecil de Trump no domingo foi acenar com a possiblidade dos EUA cortarem o comércio com “todos” os países que comerciam com a Coreia do Norte (são mais de 100). O primeiro parceiro comercial da Coreia do Norte é a China, cujo primeiro parceiro comercial é um país chamado EUA.
Os tuítes por mais imbecis que sejam, no entanto, revelam a psicologia de Trump e são consistentes com sua visão de mundo. Ele não considera a diplomacia uma opção realista e acredita que pressão econômica sobre a Coreia do Norte não funcione.
Isto não quer dizer que vem aí “fogo e fúria” em larga escala, os termos usados em um tuíte anterior, mas quem sabe alguma tipo de resposta militar de efeito mais simbólico, como os mísseis que os americanos dispararam em abril contra o regime de Bashar Assad para alertá-lo contra um novo uso de armas químicas na guerra civil síria.
E qual a psicologia do lado de Kim Jong-un? Minha proteção emocional é especular que o tirano norte-coreano não seja meramente um lunático e que haja algum método na sua loucura. E quisera ter a mesma proteção emocional no caso de Trump, que atua mais na base de loucura sem método.
No domingo, ao ser perguntado sobre a resposta americana à nova provocação norte-coreana, Trump disse: “Vamos ver”. Meu consolo é saber que existe uma espécie de junta militar em Washington, com os adultos na sala, conscientes do que está em jogo e com mais credibilidade do que Trump para recorrer a métodos de dissuasão.
E assim, também no domingo, o secretário de Defesa, Jim Mattis, alertou que um ataque norte-coreano contra os EUA ou seus aliados irá resultar em “maciça resposta militar”.
O regime norte-coreano adotou a decisão estratégica de desenvolver um míssil balístico intercontinental com uma bomba nuclear instalada capaz de atingir os EUA (sem falar da meta mais próxima de atingir o Japão).
Descontando os exageros de propaganda, não existem dúvidas sobre os avanços norte-coreanos nos últimos meses. A pressa tem dois objetivos essenciais: Kim Jong-un quer que o mundo reconheça seu sofisticado status nuclear, ou seja, o novo normal, e isto antes que sanções se tornem intoleráveis para o seu regime.
Para o mundo, em particular para os EUA e a China (potência na condição desconfortável de aliado norte-coreano) é um teste cada vez menos tolerável. Chegaremos em uma encruzilhada, na qual será preciso escolher entre uma resposta militar de efeito imprevisível, mas devastador, ou aceitação do novo normal.
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