Mesmo com distorções e atrasos, país pode reverter perdas da pandemia

Indicadores vieram melhores do que o previsto, mesmo com quedas, como aconteceu com comércio e serviços; revisão das projeções para cima embute a expectativa de uma vacinação mais acelerada

  • Por Denise Campos de Toledo
  • 17/05/2021 16h56 - Atualizado em 17/05/2021 17h06
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Itaci Batista/Estadão Conteúdo Avanço de dois pontos percentuais em preços monitorados puxou revisão de alta da inflação em 2021 Analistas do mercado consideram possível que, no último trimestre deste ano, o ritmo de expansão chegue à faixa dos 4%,

As incertezas relacionadas à pandemia persistem, principalmente com os números ainda elevados de contaminação e o atraso na produção de vacinas, o que pode afetar as condições de reabertura da economia. Apesar disso, estamos numa fase de revisão, para cima, das projeções para o avanço do PIB neste ano. O movimento começou com os índices de atividade de março. Independentemente de terem vindo positivos ou negativos, não confirmaram o pessimismo geral, provocado pelas restrições de atividade impostos em quase todo o país, diante da força da nova onda da pandemia. O receio era de que levassem até a uma recessão técnica da economia, com quedas no primeiro e no segundo trimestre. Os indicadores vieram melhores que o previsto, mesmo com quedas, como aconteceu com o comércio e serviços. Na semana passada, o IBCBr, a prévia do PIB do Banco Central, com recuo de 1,59% em março sobre o mês anterior — bem menor que os 3,5% que apontavam as previsões mais negativas — e expansão de 2,27% no trimestre e de 6,26% sobre março de 2020, acabou revertendo a expectativa de uma retração do PIB no primeiro e no segundo trimestre, o que levaria o país à tal recessão técnica, com dois trimestres negativos.

As projeções para o PIB deste ano no relatório semanal Focus do Banco Central, que já vinham melhorando, subiram, na média, para 3,45% neste ano, com reflexos para 2022, cuja projeção foi a 2,38%. Um outro levantamento feito pelo BC, antes da última reunião do Copom, quando a Selic subiu para 3,5% ao ano, apontou que os analistas do mercado já consideram possível que, no último trimestre deste ano, o ritmo de expansão chegue à faixa dos 4%, fazendo a atividade retornar ao patamar pré-pandemia. É uma sinalização animadora. Nesta semana ainda tivemos a divulgação do monitor do PIB da FGV apontando expansão de 1,7% no primeiro trimestre, apesar da queda de 2,1% em março sobre fevereiro, reforçando a expectativa de um saldo positivo na abertura do ano.

Mas é preciso lembrar que essa esperada retomada não será por igual. O setor de serviços, que representa 70% do PIB — e é o que mais emprega — ainda é penalizado pelas restrições, pelo isolamento social. Hotéis, bares, restaurantes e eventos lideram as perdas, enquanto, no próprio setor, outras áreas como transportes e Correios estão avançando. Ainda tem desigualdades setoriais maiores, como o agronegócio, favorecido, entre outros fatores, pela alta dos preços de commodities no exterior. No comércio, temos roupas e calçados ainda patinando, enquanto outros segmentos que envolvem tecnologia viram a demanda disparar com o home office e o estudo remoto, assim como eletroeletrônicos.

O que se tem, portanto, é a perspectiva de uma retomada que pode superar projeções anteriores, mas ainda carregando muita desigualdade, que envolve até um nível mais alto de desemprego, já que, na medida em que a economia for reagindo e consolidando a reabertura, a demanda por vagas irá crescer, especialmente entre os informais, que ficaram sem a proteção do programa de preservação do emprego. Situação que pode resultar em uma possível queda da renda per capita. Outro ponto a ser observado é que, além dos dados melhores já registrados, a revisão das projeções para cima embute a previsão de uma vacinação mais acelerada, especialmente no segundo semestre. Na base desse otimismo, considera-se até o que está acontecendo com países que já avançaram mais com as vacinas, como Estados Unidos e China. No Brasil, ainda há sérias dúvidas quanto à capacidade de se chegar a um nível elevado de imunidade nos próximos meses, a ponto de consolidar um impacto mais forte sobre a atividade ainda neste ano. Tomara que aconteça.

É preciso considerar ainda que há grandes diferenças, também do ponto de vista econômico, como o fôlego fiscal para programas de estímulo. O Brasil, além da baixa poupança privada, ainda lida com o aperto do orçamento público, fora as incertezas que comprometem o fluxo de recursos externos. Condições que mantêm os investimentos em um patamar histórico baixo em relação ao PIB. Estamos com algo ao redor de 15%, 16% do PIB, sendo que, para fazer diferença mesmo, os investimentos teriam de passar dos 20%. De qualquer modo, é bem possível que o país feche o ano revertendo boa parte das perdas relacionadas à pandemia, pelo menos em termos de expansão da atividade. Depois, é cuidar das distorções e voltar a lidar com os velhos problemas para assegurar um crescimento sustentável de longo prazo, como a agenda de reformas e a melhoria do ambiente de negócios, com menos insegurança institucional, jurídica e política. Por aí, por enquanto, temos mais promessas e planos do que ações mais concretas.

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