Donald Trump tem baixa taxa de aprovação, mas pode apregoar um “boom” da bolsa
Em um extenuante esforço ético e intelectual, vou tentar separar o homem da obra e analisar friamente o estado de dois pilares de governo de qualquer presidente dos EUA em uma data redonda, a economia e a política externa. Na quinta-feira, chegamos ao marco de seis meses de governo Trump. Então, no balanço, vamos a este esforço de dar uma balanceada.
É verdade que Trump é o presidente com a pior taxa de aprovação com seis meses de governo, 36%, desde que este tipo de pesquisa começou a ser feita há 70 anos. Em contrapartida, neste período de governo, ele é um presidente que pode apregoar um boom da bolsa. Trump também bravateia que uma outra prova do seu sucesso são os relatórios positivos no mercado de trabalho.
Vamos à avaliação de um Blinder que entende das coisas de economia, o meu primo distante Alan Blinder, professor da Universidade de Princeton. Ele reconhece que Trump tem muito a ver com este boom na bolsa. E o motivo? O mercado de ações tende a reagir às expectativas e os operadores respondem às promessas de campanha de Trump de cortar impostos e as regulamentações.
A curto prazo, pode ser esta exuberância irracional, para usar a expressão cunhada por Alan Greenspan, ex-presidente do Banco Central. No entanto, para o boom ser sustentável, Trump precisa apresentar resultados e por ora é um estado de paralisia.
Nada de substancial na concretização de promessas de campanha, como um novo plano de saúde, reforma tributária e maciços investimentos em infra-estrutura.
Sobre o seu impacto positivo no mercado de trabalho, a resposta é simples: muito cedo para dar crédito ao novo governo. Mercado de ações reage de forma instantânea, o de trabalho é resultado de um quadro mais abrangente da economia. A rigor, o ritmo de geração de empregos de 863 mil postos de trabalho e redução da taxa de desemprego para 4,4% nos cinco meses iniciais de governo Trump é similar ao final do governo Obama.
Como trabalhador, Trump é basicamente um animador de auditório, sempre vai exibir e exagerar o positivo. Seu desafio será manter o pique quando as expectativas não corresponderem à realidade.
Sobre política externa, não vou entrar nos aspectos setoriais do que Trump tem feito. Antes de tudo, muito confuso pela incoerência e troca repentina de posições.
No entanto, recorro a um relatório da consultoria Eurasia para tentar enquadrar um presidente aloprado. Está claro que a maior fonte de incerteza na política externa de Trump nestes primeiros seis meses de governo é o fato de que ela seja o primeiro presidente americano desde os anos 30 que não aceita a premissa de que a liderança global dos EUA é vital para seus interesses nacionais.
Trump basicamente dá os ombros e pergunta: por que eu devo ter uma responsabilidade global? Teremos a resposta ao longo do seu mandato.
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