Egípcios se preparam para a festa do cordeiro

  • Por Agencia EFE
  • 03/10/2014 17h21

Imane Rachidi.

Cairo, 3 out (EFE).- Nas últimas horas antes da festa do “Eid al Adha”, que acontece neste sábado, os vendedores de cordeiro do Cairo, no Egito, se apressam para convencer clientes a pagar cerca de 200 euros para comprar um animal para ser sacrificado em casa.

Hadi Said, que gerencia o açougue “Imperador” no bairro de Giza, grita e faz sinais aos motoristas dos carros que passam, incentivando-os a comprar os cordeiros e vacas que pastam alheios ao entra e sai na porta do estabelecimento. Alguns param por curiosidade e para perguntar preços.

Os mais tradicionais se atentam a cada detalhe, querem saber quantos meses o animal tem, qual alimento recebe e se tem muita ou pouca gordura. Procuram se assegurar de que esteja em perfeitas condições, pois até a lã do animal é utilizada.

As negociações duram vários minutos, até que o cliente vá embora esperando que o vendedor o chame com uma oferta mais atraente, como manda a tradição da cultura da pechincha egípcia.

No entanto, Said lamenta precisar deixar que os clientes vão embora depois desta primeira negociação, pois, neste ano, não tem podido abaixar mais os preços.

“Não há muitas vendas, o movimento anda bastante morto. Espero que esta tarde e amanhã tenha um pouco mais de movimento. Desde a revolução tudo foi ladeira abaixo. Vou continuar vendendo mesmo durante os três dias do Eid”, queixou-se à Efe.

Said disse que alguns egípcios preferem esperar o primeiro dia da festa passar para então comprar o animal e sacrificá-lo no domingo ou na segunda-feira, porque “fica mais barato”.

O vendedor de cordeiros foi um dos poucos que concordou em conversar com a Efe. A maioria oferece a mesma resposta: “temos medo do governo e não queremos problemas”.

Segundo este açougueiro de Giza, o quilo custa 75 libras egípcias (R$ 26,09), e um cordeiro pequeno pode custar 1.750 libras (R$ 609). Os animais à venda têm de seis meses a um ano de vida, pois quanto menores, menos gordura têm, e portanto, são melhores, alegou.

Mulheres fatigadas transitam pelo mercado popular do distrito cairota de Dokhi, repetindo quase a cada passo: “Eid mubarak” (“boas festas”), entre constantes reclamações sobre a alta dos preços.

As coisas não vão bem e não há dinheiro para esbanjar, comentou um grupo de mulheres que se formou em frente a um posto de verduras.

“Os preços estão subindo muito, a gasolina acabou de aumentar, o gás, a luz… não sei onde vamos parar”, lamentou Gada Shobri, de 45 anos de idade e mãe de três filhos.

Embora o sacrifício de um cordeiro para comemorar a história do profeta Abraão, que matou um desses animais em vez de seu próprio filho Ismael, como relata o Alcorão, não seja exigência religiosa, muitos egípcios se veem obrigados a fazê-lo por pressões e convenções sociais.

“Economizamos o ano inteiro para podermos comprar o animal mais barato nestas datas, porque quando a família chega em casa, os vizinhos virão para ver o quão grande ele é”, disse outra mulher, que prefere não revelar seu nome.

Os mais preguiçosos esperam o sábado para comprar a carne que necessitam para prepará-la e comê-la em família. Chegado o dia, os açougues do centro cairota serão protagonistas, se transformarão nos cenários mais representativos do Aid, porque muitos levarão seus cordeiros para praticar o ritual do sacrifício.

“As facas já estão bem afiadas”, contou um açougueiro do bairro de Zamalek, que reconhece estar ansioso para poder pronunciar o “Alahu Akbar” (“Alá é grande”), frase obrigatória anterior ao sacrifício dos cordeiros, que é feito com um corte da direita para esquerda na garganta do animal. EFE

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